8 de janeiro de 2013

Stardust, ou o conto de fadas de Neil Gaiman

Neil Gaiman é um dos mais talentosos e multifacetados autores do Fantástico contemporâneo - não só pelos vários meios para onde habitualmente escreve (da literatura aos comics, do cinema à televisão), mas também pela diversidade da sua escrita e dos temas que aborda. Em Stardust, livro de 1998, recriou um singular conto de fadas que, em 2007, seria adaptado para o cinema por Matthew Vaughn. E é sobre o filme que irei falar hoje. 

Sobre a qualidade do filme enquanto adaptação, não poderei dizer muito. Enquanto objecto cinemográfico, porém, Stardust é um filme muito interessante - um elenco forte e talentoso desenvolve uma narrativa simples, algo convencional e relativamente previsível, que porém nunca deixa de ser cativante. Sim: torna-se evidente logo no início que a aventura de Tristan (Charlie Cox) para lá da Wall vai mudar a sua vida, e quando percebemos quem é (ou o que é) Yvaine (Claire Danes), o desfecho da história já está mais ou menos claro. No entanto, e passe o cliché, nem todas as viagens valem pelo destino - muitas vezes é o caminho percorrido que as torna interessantes. Stardust é um desses casos, com as suas personagens e as peripécias em que se envolvem a manterem o filme interessante e divertido desde o primeiro minuto.  

A narrativa segue Tristan Thorn, um jovem da vila inglesa de Wall. Wall seria uma vila comum não fosse um pormenor muito curioso: fica perto de uma longa muralha que ninguém pode (ou deve) atravessar, visto separar o mundo "real" do reino mágico de Stormhold. Quando Tristan (cuja mãe é natural de Stormhold, facto que ele desconhece) vê uma estrela cair para lá da muralha, promete à rapariga por quem está apaixonado, Victoria (Sienna Miller), trazer-lhe a estrela em troca da sua mão em casamento. O que ele não sabe é que não é o único a querer alcançar a estrela: três velhas bruxas desejam encontrá-la para recuperarem a sua juventude perdida e os seus poderes, e os dois sanguinários herdeiros do rei desejam recuperar a jóia real que ela tem, para assim alcançarem o trono de Stormhold. Para espanto de Tristan, a estrela tem a forma de uma jovem lindíssima, chamada Yvaine - mas, inicialmente alheio à sua beleza, decide levá-la de volta para Wall. O que, convenhamos, é mais fácil de dizer do que fazer: pelo caminho, vão encontrar a líder das bruxas, Lamia (Michelle Pfeiffer), os herdeiros reais, o Capitão Shakespeare (Robert De Niro) e a sua nave voadora, e muitas outras personagens do reino de Stormhold. 

É nas personagens que reside a força de Stardust. Charlie Cox interpreta um Tristan convincente, mas o destaque vai para Claire Danes no papel da inocente Yvaine e para Michelle Pfeiffer no papel de Lamia, a verdadeira vilã da história - e também para o personagem de Robert De Niro, ainda que apareça por pouco tempo. Do ponto de vista visual, Stardust revela-se muito interessante - os detalhes da nave do Capitão Shakespeare e do castelo das bruxas estão excelentes, mas em geral os efeitos especiais utilizados estão um tanto ou quanto datados. O que não diminui de todo o filme: com excelentes personagens principais e secundárias e uma narrativa cujo ritmo exemplar compensa a previsibilidade das suas peripécias, Stardust é um filme de fantasia muito sólido, com uma ligeireza e uma boa disposição que, por si só, fazem valer a pena a viagem. 7.0/10



Stardust (2007)
Realizado por Matthew Vaughn
Com Charlie Cox, Claire Danes, Michelle Pfeiffer, Robert De Niro, Sienna Miller, Ricky Gervais, Kate Magowan e Ian McKellen
127 minutos

6 comentários:

Loot disse...

Tenho ideia que o filme até trouxe mudanças bem engraçadas, que não estão no livro, nomeadamente a abordagem à personagem do De Niro, cuja aparição é mais fugaz ainda. Mas, tenho receio que as memórias do filme e do livro se estejam a fundir em uma só e depois já não distingo um do outro lol

João Campos disse...

2013 será o ano em que finalmente vou ler Neil Gaiman (mas conto começar por "American Gods" ou por "Good Omens"). Há muito tempo que tenho curiosidade quanto a "Stardust", mas nunca comprei o livro porque não gosto de gastar dinheiro a comprar livros com capas de filmes (por bons que sejam os filmes).

Loot disse...

Compra a versão inglesa ilustrada. O Good Omens tem Terry Pratchet, é só rir :D

De prosa conheço pouco do Gaiman, este e o Graveyard Book (que me perdurou mais na memória). Se gostaste do filme acho que vais gostar do livro, mas é tal como a nota que aqui deste, nada de excepcional. E ainda por cima eu vinha de uma obra-prima da fantasia escrita por ele, o Sandman.

É um escritor com muita coisa interessante, mesmo os livros infantis dele valem a pena espreitar, eu adorei-os.

João Campos disse...

Sandman está na minha "to-read list" há muito tempo - acho que o único universo de banda desenhada pelo qual tenho mais curiosidade é o de Hellblazer (e sei que houve uns cameos e uns crossovers). Acho o conceito dos Endless absolutamente extraordinário.

O único motivo pelo qual nunca li é por a banda desenhada ser, regra geral, cara. Antes que perguntes, não, uma versão digital não é alternativa para mim. Não que tenha qualquer pudor quanto a descarregar os conteúdos ilegalmente, mas porque não tenho paciência para ler no computador.

Quanto ao "Good Omens", comprá-lo-ei em inglês, claro. Pratchett já é muito cá da casa :)

Loot disse...

a versão ilustrada em inglês era do stardust para fugires à capa do filme, mas o outro pela língua original tb é uma excelente escolha (li-o em português).

O hellblazer tb é de valor, muito. São muitos mais anos de publicação então ainda é pior em termos de €€.

João Campos disse...

Tell me about it.