27 de setembro de 2013

Tolkien: Para lá da Terra Média

Devido à tremenda popularidade de The Hobbit e The Lord of the Rings, J. R. R. Tolkien ganhou fama mundial sobretudo pelo mundo secundário da Terra Média e pelas aventuras que nele decorreram - da viagem de Bilbo a Erebor com a Companhia de Thorin Oakenshield até à grande demanda de Frodo e Sam para Orodruin, no coração de Mordor, com o propósito de destruir o Anel de Sauron; mas também aos mitos de criação daquele mundo e às histórias do conflito entre os Valar e Morgoth, apresentados narrativamente - e a título póstumo por Christopher Tolkien - em The Silmarillion e The Children of Húrin, e de forma fragmentária em Unfinsihed Tales of Númenor and Middle-earth. Muitos outros materiais relacionados com este universo ficcional - um dos mais profundamente desenvolvidos da literatura fantástica - foram também editados e compilados pelo seu filho e executor literário numa vasta colecção, autêntica enciclopédia em doze volumes intitulada The History of Middle-earth.

Mas Tolkien, convém lembrar, não foi apenas um escritor de fantasia épica - filólogo e professor de profissão, e com uma carreira académica singular, estudou em profundidade a literatura em Inglês Antigo, as sagas nórdicas e as mitologias germânicas e escandinavas. O seu trabalho com Beowulf continua a ser uma referência, tal como alguns dos seus mais célebres ensaios. Destes destacam-se On Fairy-Stories, de uma palestra em 1939 na Universidade de St. Andrews em Glasgow, na Escócia, publicado pela primeira vez em 1947 e, já em 1964, reeditado no volume Tree and Leaf (juntamente com o conto Leaf by Niggle); e Beowulf: The monsters and the critics, lido três anos antes (1936) também numa palestra. O primeiro versa (passe a tremenda simplificação) sobre a importância dos contos de fadas enquanto género literário, enquanto o segundo dedica-se ao criticismo académico de Beowulf e à importância dos vários elementos daquele poema épico. 

Em termos de publicações mais recentes, há duas que merecem destaques, ambas editadas por Christopher Tolkien com base em rascunhos e escritos inacabados deixados pelo seu pai. O primeiro, The Legend of Sigurd & Gudrún, foi publicado em 2009 e consiste em dois longos poemas narrativos, The New Lay of the Völsungs e The New Lay of Gudrún, escritos em verso aliterativo nos anos 20 e 30 com inspiração nas mitologias nórdicas - concretamente, na lenda de Sigurd e na queda dos Nibelungos. Ambos os poemas estão enquadrados pelo vasto e meticuloso trabalho de edição de Christopher Tolkien, com amplos comentários. O segundo, The Fall of Arthur, tem como tema o lendário Rei Artur e trata-se de um poema aliterativo incompleto, de inspiração nas histórias arturianas medievais, sobre os últimos dias do rei. Começado nos anos 30, Tolkien interrompeu a escrita deste poema para se dedicar a The Lord of the Rings, sempre com o objectivo de a ele regressar um dia. Tal não aconteceu; mas o que ficou escrito pode agora ser lido, graças à edição de Christopher Tolkien.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ah, Leaf by Niggle... Se bem me lembro, uma pequena peça maravilhosa.

João Campos disse...

Uma que já li há muitos anos... A reler em breve, sem dúvida.

Célia disse...

Ainda não tive coragem de me atirar ao "Sigrud e Gudrún". Tenho algum receio de não gostar muito por não ter bagagem suficiente para o compreender e apreciar.

O "Leaf by Niggle" está incluído no livro "As Aventuras de Tom Bombadil e Outras Histórias" que nem eu sei ainda porque ainda não li :) Apesar disso, quando li recentemente "Tolkien - O Homem e o Mito" fiquei a saber um pouco mais sobre essa história e sem dúvida que é algo para ler em breve.

João Campos disse...

Também cá o tenho para ler há já algum tempo... mas será para breve (e quando o fizer dedicar-lhe-ei uma Sexta-feira aqui no blogue).

Também li, há já muitos anos, "As Aventuras de Tom Bombadil" na edição da Europa-América (que, diga-se de passagem, se esmerou nas edições de Tolkien). Aliás, as minhas primeiras leituras de Tolkien foram feitas nas edições portuguesas, emprestadas. Mas por boa que esteja a tradução, a sua belíssima prosa merece ser lida no original. "Leaf by Niggle" será algo a recuperar em breve.

Jorge Teixeira disse...

Para que fique registado, tenho lido, com muito prazer e deleite diga-se, todos os textos aqui publicados sobre Tolkien e a sua mitologia. Como fã do autor, só te tenho a agradecer as análises que tens feito. Continua.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

João Campos disse...

Muito obrigado, Jorge. Imaginei que acompanhasses, sabendo do teu gosto por Tolkien. Este mês tem sido especial, claro; mas Tolkien, como se costuma dizer, "é muito cá de casa", e será uma presença sempre constante neste blogue.