8 de abril de 2013

The Walking Dead, Temporada 3: Comentário à segunda parte e análise global

Há pouco mais de uma semana  - ou na passada Quarta-feira, para o caso dos telespectadores que, como eu, acompanharam a transmissão nacional - chegou ao fim a terceira temporada de The Walking Dead. Uma vez mais, a AMC optou por dividir a temporada em duas partes de oito episódios cada. Sobre a primeira, fiz este comentário em Novembro; sobre estes oito últimos episódios - e sobre a série no seu todo - aqui ficam algumas impressões (com spoilers, naturalmente).

A segunda parte da terceira temporada de The Walking Dead toma como ponto de partida o cliffhanger do episódio interior e toma como tema principal o conflito emergente entre o grupo da prisão e a comunidade de Woodbury. Em termos gerais, esta segunda parte mantém a qualidade da primeira, mas mais pela força de alguns episódios individuais e de algumas personagens concretas do que pela sua consistência narrativa. Os três pilares em que assentam estes oito episódios - o Governador e a sua passagem de líder sombrio e cruel mas ainda assim ambíguo para um vilão absoluto e irredimível, a loucura de Rick pelas suas perdas e pelo fardo da liderança que carrega desde o início, e a oposição violenta entre ambos - nem sempre são explorados de forma lógica, o que se torna evidente em alguns enredos secundários. E se Merle e Michonne acabaram por, à sua maneira, crescer como personagens e ganhar um merecido destaque, outras - como o grupo de Tyreese, Andrea e o próprio Governador - foram muito prejudicados pela inconstância narrativa. Tyreese e o seu grupo deram uma volta desnecessária, que de certa forma acabou por funcionar como uma Chekov's Gun nunca disparada: chegaram à prisão por um caminho obscuro, foram expulsos por Rick num momento de loucura (que ninguém conseguiu parar?), e acabaram em Woodbury sem no entanto revelarem aquilo que sabiam da prisão - e que poderia ter sido determinante no ataque final, na sequência do qual regressam à prisão. Mas o caso de Andrea é ainda mais grave, e se há algum mérito nas suas tentativas de resolver o conflito entre Rick e o Governador de forma pacífica, a sua absoluta ingenuidade perante as atrocidades cometidas em Woodbury é inacreditável, sobretudo após saber o que aconteceu a Glenn e Maggie. Acaba por ser redimida no segundo episódio, mas não deixa de ser uma personagem muito desaproveitada por uma narrativa um tanto ou quanto errática.


Essa mesma narrativa errática quase desperdiçou Glenn e Maggie, envolvidos num conflito mal explorado no seguimento das suas experiências traumáticas em Woodbury. E este mesmo quase a desperdiçar por completo a personagem de Michonne, salva por dois excelentes episódios na recta final da série: o décimo-segundo episódio, Clear, um dos melhores que a série conheceu até ao momento, e o o penúltimo episódio, This Sorrowful Life, nos quais se revela por fim uma personagem resoluta, inteligente e definitivamente leal ao seu grupo. Também Merle se revelou uma surpresa, sobretudo na sua problemática (re)integração no grupo de Rick e na sua espectacular saída de cena. Mais relevante do que os seus actos, porém, foi a sua presença confirmar de forma definitiva a excelente evolução de Daryl, talvez a personagem mais interessante da série, que passou do redneck underdog dos primeiros episódios para braço-direito de Rick e um dos elementos fundamentais do grupo. Sem surpresas, é uma das personagens favoritas dos fãs.


Mas terá sido Carl quem mais evoluiu nesta segunda parte da temporada, passando do miúdo irrequieto e assustado que se metia em sarilhos com frequência para uma criança séria, silenciosa e implacável. A forma como recebeu o grupo de Tyreese - ajudando-o, mas deixando-o fechado numa zona da prisão - e, sobretudo, a forma como lidou com o ataque de Woodbury e abateu a tiro um outro miúdo armado mostram a influência mais sombria da premissa pós-apocalíptica. Ambas as acções são determinadas por dois actos de Carl - o descuido que teve com um zombie, e que conduziu à morte de Dale, e as circunstâncias que o obrigaram a abater a tiro a sua própria mãe (duas vezes) -, e em ambos os casos parece ter levado até ao extremo os ensinamentos de ambas as lições. Será sem dúvida interessante acompanhar a sua progressão na próxima temporada.


Como ponto mais positivo da temporada destacaria o 12º episódio, Clear, no qual o conflito da prisão com Woodbury é deixado de parte para Rick e Carl regressarem, acompanhados por Michonne, ao ponto de partida da série e a uma ponta deixada solta desde os primeiros episódios: o destino de Morgan, o personagem que salva Rick quando este saiu do hospital e tentou regressar ao local onde vivera. É um episódio excelente por vários motivos: recupera Morgan, ainda que por breves instantes, permite a Rick lidar com a sua loucura, permite a Carl ganhar algum destaque e começa a recuperação de Michonne de personagem estranha para membro efectivo do grupo.


Do outro lado, como ponto negativo, colocaria o último episódio, Welcome to the Tombs: não que seja um episódio mau (pelo contrário), mas porque muitos dos seus elementos simplesmente não funcionam - se o ataque à prisão é demasiado descoordenado para alguém com a inteligência do Governador, a retaliação do grupo consegue ser ainda pior, desperdiçando mais uma oportunidade de colocar fim à ameaça de Woodbury. No final, tudo permanece inconclusivo: Woodbury caiu, sim, mas o Governador continua à solta com dois capangas.


Em termos globais, a terceira temporada de The Walking Dead teve os seus altos e baixos. A tentativa de afastamento dos comics é meritória, mas acabou por ser prejudicial para algumas das suas personagens mais relevantes - como o Governador e Andrea. Ainda assim, a premissa continua excelente, e a evolução de algumas das personagens principais permite antever uma quarta temporada no mínimo interessante. The Walking Dead pode ter bastantes falhas e muitas arestas por limar, mas com todos os seus problemas continua a ser uma série fascinante, muito bem filmada, com excelentes episódios e personagens capazes de fazer com que o telespectador queira mesmo acompanhá-las. Será, sem dúvida, uma das melhores séries do Fantástico na televisão hoje em dia.

2 comentários:

ATP disse...

Gosto muito da série como tenho vindo a dizer aqui, alguns eps bons e outros menos bons, adorei o Clear, mas esta final....que raio aconteceu?
Eu digo-te. O director foi despedido ou "afastado" e fez um rage quit neste final. O próximo a tomar as rédeas é o senhor do Clear e de outros episódios bons.

Então o final foi o que foi, uma tipa a falar com um morto enquanto se devia preocupar em fugir; um ataque completamente descoordenado e sem sentido e uma viagem entre 3 homens, Gov, Martinez e random guy bastante desconfortável - uma chapada para quem queria um desfecho. É que nem foi cliffhanger...
Enfim, a ver o que vai sair dali.

João Campos disse...

Veremos o que faz o próximo. Mas o problema não será apenas do Glen Mazzara: afinal, ele foi o terceiro ou quarto showrunner de uma série que começou pela mão de um tipo como o Darabont. Diria que há mais qualquer coisa errada nos bastidores.

O disparate tem sido geral. "Game of Thrones" acabou a segunda temporada a prometer uma batalha formidável entre os White Walkers e a Night Watch no 'Fist of First Men' e afinal o que quer que tenha acontecido, aconteceu off-screen - é difícil ser mais anticlimático :) (felizmente, recuperou o ritmo habitual e excelente no segundo episódio). No caso deste último episódio de The Walking Dead, é capaz de ter sido o mais fraco de toda a temporada (ao contário da anterior - os últimos foram os melhores episódios). Ainda assim, houve alguns momentos bons (Carl, Tyreese) que se revelam promissores para uma próxima temporada. Em Outubro saberemos como corre.