É possível encontrar as raízes do que viria a ser o cyberpunk nos anos 50 e 60, em autores como Alfred Bester ou John Brunner; mas foi com William Gibson, na década de 80, que o género tomou forma e se tornou incontornável na ficção científica. Em 1982, publicou na revista "Omni" o conto Burning Chrome, onde cunhou o termo "ciberespaço" - e dois anos mais tarde publicou Neuromancer, o magnum opus que definiria em definitivo a estética noir-futurista tão característica deste sub-género - e que tão influente se tornaria na cultura popular, com reflexos em áreas tão distintas como o cinema, a literatura, a animação e os videojogos. Isto, por si só, seria mais do que suficiente para garantir a Gibson um lugar destacado e permanente na ficção científica contemporânea; a sua carreira literária, porém, não se resume a estas duas obras: alargou Neuromancer para a trilogia Sprawl, com Count Zero (1986) e Mona Lisa Overdrive (1988); escreveu The Difference Engine (1990) com Bruce Sterling, obra seminal do steampunk; e publicou ainda as trilogias Bridge (Virtual Light, 1993; Idoru, 1996; All Tomorrow's Parties, 1999) e Blue Ant (Pattern Recognition, 2003; Spook Country, 2007; e Zero History, 2010).
Não teremos hoje as interfaces e os ambientes virtuais icónicos que Gibson imaginou em Neuromancer, mas estes persistem no imaginário e na cultura populares; e a sua antecipação do que viria a ser a revolução da "World Wide Web" marcaria de forma indelével este meio em ascensão, hoje indispensável.
William Gibson nasceu em Conway, na Califórnia, em 1948, e celebra hoje o seu 65º aniversário.
8 comentários:
hoje gibson é um dos grandes nomes quer da fc quer da vertente progressista-tecnológica da cultura global. foi mais longe do que se esperava com a trilogia sprawl e tornou-se daquelas raras vozes que tem o dedo no pulso da hipermodernidade, essa coisa estranha onde vivemos mergulhados, misto de urbanismo desenfreado, globalização, tirania corporativa, jetlag cultural de uma sociedade que se sente a avançar em velocidade superior à sua capacidade de processamento, sociedade panopticon hipervigilante e obcecada com uma ideia de segurança que excitaria os sonhos molhados dos mais despóticos ditadores da história, modernidade líquida, mescla progressiva dos espaços virtuais e físicos numa cultura digital. o futurismo de gibson é hoje escrito na época contemporânea, não por aquela banal razão dita "vivemos no futuro" mas porque reflecte profundamente as tendências que modelam a cultura global actual.
Porque é que quando se fala de cyberpunk raramente se menciona Bruce Bethke?
Será mesmo verdade que dos fracos não reza a história?
Thanatos, não sei por que motivo Bruce Bethke não é mencionado em termos gerais. No meu caso, não o menciono por não conhecer (agradeço a referência, vou pesquisar). Refiro o Bester porque é uma referência sempre mencionada pelo próprio Gibson; e o Brunner porque tudo aquilo que até hoje li dele (e não foi muito, apesar de ter sido muito bom) me pareceu uma espécie de proto-cyberpunk, tanto nos temas como na atmosfera.
Artur, sem dúvida. Gibson pode não ter acertado na "forma" das interfaces, mas o futuro que descreveu há três décadas é, com toda a sua estranheza, estranhamente familiar....
há três décadas e ainda hoje...
Claro :) Refiro-me há três décadas com Neuromancer em mente. Ainda tenho de ler os livros mais recentes dele.
E eu publiquei o Neuromante no ano a seguir à edição original. Ninguém ligou. Ninguém comprou. Apanhei uma descompostura do editor e a colecção crashou. Assim vai o mundo em Portugal. Vale a pena insistir? Boff! Olhem só para o que se está a publicar hoje em dia...
Barreiros, mas não publicou também o Neuromante numa colecção mais recente (também extinta)?
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