15 de janeiro de 2013

A ficção científica e o cinema: The Thing

Em 1938, John W. Campbell publicou nas páginas da revista Astounding Science-Fiction a novela Who Goes There?, uma história fascinante sobre uma enigmática e muito perigosa criatura alienígena que um grupo de cientistas encontra - para seu horror - na desolação gelada da Antártida. Desde cedo considerada uma das Em 1951, a premissa do conto de Campbell foi transporta para o cinema cinema em The Thing from Another World, um filme realizado por Christian Nyby e Howard Hawks. Mas foi John Carpenter quem, em 1982, fez uma adaptação mais fiel de Who Goes There? com o filme The Thing, que, como outra grande obra de ficção científica daquele ano, fracassou nas bilheteiras para se tornar num clássico de culto.

The Thing cativa a partir dos primeiros minutos, com o soturno tum-dum que vai pautar todo o filme a fazer-se ouvir, agoirento na paisagem gelada da Antárctida.  Sobre os declives rochosos surge um helicóptero, que se percebe estar a perseguir um cão (um Malamute do Alasca). A tripulação tenta abater o cão a tiro, sem sucesso, antes de este se refugiar entre os elementos de uma base científica norte-americana. Os cientistas americanos recolhem o cão e descobrem que o helicóptero, entretanto acidentalmente destruído (e a tripulação morta), pertencia a uma base científica norueguesa e decidem investigar. R. J. MacReady (Kurt Russel) lidera a equipa que vai tentar obter resposta junto dos noruegueses - ao chegarem, porém, deparam-se com a base destruída e várias pistas que os levam a tropeçar num segredo tão antigo como mortal: uma nave que se despenhou milhares de anos antes na vastidão antárctica e uma criatura alienígena que assimila outros seres vivos, assumindo a sua forma e as suas memórias como suas. Cedo os doze elementos da base norte-americana percebem que a criatura já se encontra no seio do grupo...

Com uma formidável banda sonora de Ennio Morricone, The Thing é um filme particularmente atmosférico que conta com stop-motion de qualidade e com marionetas e efeitos práticos para dar forma à misteriosa criatura alienígena e às suas grotescas metamorfoses. O elenco, não sendo excepcional (com a excepção de Kurt Russell e de Keith David, que se destacam), é sólido q.b. para em momento algum desvalorizar a acção e a tensão algo paranóica que cedo se instala na narrativa. Alguns dos twists podem porventura ser previsíveis, mas em nada diminuem o formidável final deixado em aberto (Carpenter chegou a filmar um final "feliz" que, porém, nunca chegou a mostrar ou a incluir numa das várias edições do filme).

É certo que, considerado enquanto narrativa de terror assente numa criatura a eliminar de forma sistemática um grupo de humanos, The Thing não tem a densidade e a força de Alien, que estreou três anos antes. Mas a comparação acaba por ser um tanto ou quanto injusta: The Thing é um filme muito sólido com momentos de grande inspiração e surpresas mais do que suficientes para alguns saltos no sofá. É, sem dúvida, um clássico de John Carpenter, que mais do que nunca merece ser apreciado pelas suas qualidades. 8.0/10

The Thing (1982)
Realizado por John Carpenter
Com Kurt Russell, Keith David, Wilford Brimley, T. K. Carter, Peter Maloney e Richard Dysart
109 minutos

8 comentários:

Loot disse...

Gosto muito deste. É dos meus favoritos do Carpenter (de quem ainda me faltam muitos). A atmosfera, a criatura misteriosa, aquele sentimento claustrofóbico e nesse registo realmente este e o Alien são os nomes que saltam imediatamente à memória.

Na banda sonora acho que o Carpenter não estava a conseguir o efeito que queria e chamou o Morricone para compor. Afinald e contas o Carpenter é o homem dos sete ofícios faz tudo e faz bem, eu quando vi o assalto à 13º esquadra andei a trautear o tema durante semanas.

João Campos disse...

Acreditas que só há dois meses vi The Thing? É de facto formidável, e a premissa é excelente (tenho de ler a história do Campbell). Do Carpenter apenas vi este, os dois Escape e o Vampires - que é um filme muito assim-assim do qual, por qualquer motivo que desconheço, gosto mesmo muito.

Tenho de apanhar um dia destes o They Live.

Loot disse...

A mim falta-me o Halloween por exemplo :S

Ahh o mítico Snake Plissken, vi primeiro o LA, que me pareceu ter quase a mesma premissa que o New York se bem me lembro. Mas míticos, pelo menos o New York. O Vampires tem o James Woods o que dá sempre charme ao filme, mas sim é dos mais fracos dele juntamente com o ghosts of mars. Mas valem a pena espreitar.

O They live é uma excelente sugestão. A mensagem contínua tão fresca como na altura.

João Campos disse...

O Halloween a mim diz-me pouco (não aprecio esse género de terror). Já o resto é muito interessante. E sim, o LA é muito igual ao NY - com a diferença que em LA vemos o Snake Plissken a surfar um tsunami.

ArmPauloFerreira disse...

O "Halloween" e o "They Live" são muito bons e valem bem a pena ver.

Este "The Thing" é realmente um filme bastante bem feito. Revi-o há uns meses (e ainda há poucos dias passou no canal Hollywood e mais uma vez vi grande parte...).

É curioso que estava à espera de uma referência no texto ao recente "The Thing" (2011). Não vão na cantiga de que é mais um remake... pois é na realidade uma prequela, é um recuar na história dos eventos. Eu gostei e achei-o bom mas não ao nível do Carpenter, claro.

João Campos disse...

Arm Paulo Fer, não vi o filme mais recente - sei que acabou por ser uma prequela, mas não faço ideia se a coisa resultou ou não. Dar-lhe-ei uma oportunidade um dia destes.

ArmPauloFerreira disse...

Façam-no sem grande expectativa. É uma prequela que tem encargos de deixar tudo no estado misterioso do inicio do filme de Carpenter.
Tem algumas liberdades pelo caminho mas estruturalmente segue o mesmo conceito do original... vale também pela actriz Mary Elizabeth Winstead.

João Campos disse...

As expectativas nunca serão muitas. Já me escaldei mais do que o suficiente no ano passado..!