31 de dezembro de 2012

2012: O Fantástico em Portugal (mais as doze passas)

Nos balanços do ano poderia ainda falar sobre comics e banda desenhada - afinal, durante 2012 dediquei-me a The Walking Dead, de Robert Kirkman, tendo comprado e lido as seis primeiras edições paperback da série, li - finalmente - V for Vendetta, de Alan Moore, e também li algumas das mais importantes obras do universo de Batman: The Killing Joke, de Alan Moore e Brian Bolland, e Batman: Year One, de Frank Miller e David Mazzucchelli. Deixarei, porém, os quadradinhos para outro artigo um dia destes, e vou aproveitar o último artigo do ano para falar um pouco do Fantástico em Portugal no ano de 2012.

E a verdade é que 2012 foi um ano particularmente entusiasmante para o género, repleto de iniciativas e de lançamentos um pouco para todos os gostos. Logo no início do ano arrancou o Clube de Leitura Bertrand do Fantástico, com sessões mensais em Lisboa, em Coimbra e no Porto dedicadas a muitas e excelentes obras literárias de Fantasia, Ficção Científica e Horror. As sessões de Lisboa, que acompanhei com assiduidade, foram moderadas pelo (incansável) Rogério Ribeiro, e têm sido excelentes - pelas obras escolhidas, pelos convidados e, como não podia deixar de ser, pelo convívio que habitualmente se segue. A norte, o Verão foi animado: em Junho, realizou-se um congresso na Universidade do Minho dedicado a Dracula, de Bram Stoker, no âmbito do centenário da morte do autor, e em Setembro, o Porto recebeu a primeira convenção de Steampunk em Portugal: o EuroSteamCon. Já no Outono a animação esteve em Lisboa, com a oitava edição do Fórum Fantástico a decorrer entre 23 e 25 de Novembro e a trazer ao nosso país o norte-americano Dan Wells (entre muitos convidados), e o congresso Mensageiros das Estrelas, organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que teve lugar de 27 a 30 de Novembro e, entre outras conferências muito interessantes, contou com uma palestra excepcional de Adam Roberts. 

Em termos de lançamentos, a coisa também foi interessante: George R. R. Martin, um dos mais populares autores de fantasia da actualidade, passou por cá em Abril para apresentar a antologia O Cavaleiro de Westeros e Outras Histórias, editada pela Saída de Emergência, e a segunda temporada da série Game of Thrones, transmitida pelo SyFy. João Barreiros organizou a antologia Lisboa no Ano 2000, editada pela Saída de Emergência e apresentada no Fórum Fantástico. Também o congresso Mensageiros das Estrelas incluiu uma antologia de contos de ficção científica, editada pela Fronteira do Caos com organização de Octávio dos Santos, Adelaide Serras e Duarte Patarra. E convém não esquecer a antologia Vollüspa, com organização de Roberto Mendes.

Mas foi entre o fandom que o Fantástico andou mais agitado durante 2012, com o lançamento de várias antologias, fanzines, e-zines e outras iniciativas do género. Apenas para enumerar algumas: Trëma (na qual participei), Almanaque Steampunk, Lusitânia, Bang!, Dagon (vários números), Fénix, Conto Fantástico, e provavelmente mais uma ou duas das quais me estou a esquecer. Resta saber se esta tendência se manterá em 2013; mas, para já, notou-se muita actividade no Fantástico português durante este ano que está mesmo quase a terminar, o que não pode deixar de ser positivo. 

Convém também não esquecer - em jeito de conclusão, já agora - que 2012 foi, afinal, o ano em que esta Viagem a Andrómeda teve início. O balanço dessa viagem, que espero estar ainda no início, será feito (espero) por alturas do primeiro aniversário do blogue, em Fevereiro. Para já, resta-me desejar aos leitores um excelente fim de ano e votos de um 2013 a todos os níveis fantástico. 

Connie Willis (1945 - )

A norte-americana Constance Willis, mais conhecida como Connie Willis, é uma das autoras de fantasia e ficção científica mais premiadas das últimas décadas. Com a noveleta The Fire Watch, publicada em 1982, deu início a um universo de ficção científica assente no departamento de viagens do tempo da Universidade de Oxford que viria a explorar mais tarde, nos romances premiados The Doomsday Book (1993), To Say Nothing of the Dog (1997) e Blackout/All Clear (2010), todos vencedores do Prémio Hugo para "Best Novel" e, à excepção de To Say Nothing of the Dog (apenas nomeado), também vencedores do Prémio Nébula na mesma categoria.

No total, Connie Willis venceu já um total de 11 Hugos e sete Nébulas, entre muitas outras distinções e nomeações.

Foi na revista Worlds of Fantasy que Connie Willis publicou a sua primeira história, um conto intitulado The Secret of Santa Titicaca. Desde então, e para além do universo de viagens no tempo de Oxford, dedicou-se a inúmeras histórias, em formato de conto, noveleta e romance. A sua ficção curta pode ser encontrada em várias antologias e compilações, e a autora encontra-se neste momento a trabalhar num novo livro sobre telepatia e na reedição das suas histórias premiadas numa nova antologia. A bibliografia de Connie Willis inclui ainda títulos como Water Witch (1982), Lincoln's Dreams (1983), Remake (1996), Passage (2001) e All Seated on the Ground (2007), entre muitos outros.

Professora de profissão, Connie Willis nasceu em Denver, no Colorado (EUA), e celebra hoje 67 anos. 

30 de dezembro de 2012

Citação fantástica (47)

Once you've ruled out the impossible then whatever is left, however improbable, must be the truth. The problem lay in working out what was impossible, of course. 

Terry Pratchett, Guards! Guards! (1989)

2012 em leituras

Tal como nos videojogos, também nas leituras dediquei em 2012 muito pouco tempo às novidades editoriais do ano, optando por continuar a ler muitos dos clássicos da fantasia e da ficção científica que tenho em falta. É certo que a lista de leituras futuras continua a ser muito longa, mas algumas lacunas mais sérias já foram preenchidas - e, diga-se de passagem, com imenso prazer. Seria difícil (para não dizer inútil) falar num único artigo de todos os livros que li em 2012, isto partindo do princípio de que ainda seria capaz de enumerar a lista completa. Assim, e tendo a sensação de que me esqueço de algo, aqui ficam os meus destaques de leitura deste ano que está mesmo quase a terminar. 

The Stars My Destination (Alfred Bester, 1953)
Descrito frequentemente como O Conde de Montecristo da ficção científica, The Stars My Destination conta a fabulosa e sangrenta odisseia de vingança de Gully Foyle, um homem em nada excepcional que foi abandonado à sua sorte nos destroços de uma nave espacial à deriva no Sistema Solar. Isto num futuro em que a Humanidade se espalhou pelos vários planetas e satélites mais próximos, e em que toda a gente possui a capacidade de se teletransportar. As alterações sociais provocadas pelo teletransporte compõem o quadro de forma brilhante, mas é Gully Foyle, um autêntico Zé-Ninguém, quem carrega a narrativa às costas a passo de corrida, num ritmo tão vertiginoso como violento, cruzando-se com personagens fascinantes (como Dagenham ou Olivia Presteign) à medida que junta as várias peças do puzzle que é a sua vingança. Muito do que se seguiu na ficção científica literária tem neste livro as suas raízes, o que, julgo, diz alguma coisa sobre quão importante foi na sua época.

The Forever War (Joe Haldeman, 1973)
Numa das mais relevantes obras da ficção científica militar, Joe Haldeman transporta a Guerra do Vietname - na qual combateu - para um futuro no qual as grandes batalhas são travadas no espaço. Da recruta ao combate real, Haldeman usa o pretexto da guerra contra os "Taurans" para reflectir sobre o absurdo da guerra, sobre a forma como nunca conhecemos verdadeiramente o nosso inimigo, e sobre a forma como a guerra muda de forma inevitável e irreversível quem nela participa. Quando o familiar se torna estranho e quando as causas se tornam difusas, qual é o sentido do combate? Com uma narrativa muito bem articulada, Haldeman recorre a um realismo científico invulgar para colocar estas (e outras) questões, utilizando a relatividade do tempo no espaço para acentuar a estranheza dos combatentes à medida que os anos se sucedem a ritmos diferentes na guerra e no mundo que o soldado Mandella e os seus companheiros juraram proteger. A todos os níveis, The Forever War é uma obra fundamental na ficção científica. 

A Canticle for Leibowitz (Walter M. Miller, Jr., 1960)
É possível que A Canticle for Leibowitz seja a obra mãe da ficção pós-apocalíptica que tão bons livros e filmes nos deu ao longo das últimas décadas. Muitos anos após o cataclismo nuclear que arrasou a civilização no então longínquo século XX, os frades da Ordem de Leibowitz - que julgam um mártir - dedicam-se à preservação de todo o conhecimento científico que esteja ao seu alcance, ainda que nem sempre tenham um entendimento muito preciso daquilo que têm em mãos. Isto, claro, enquanto tentam obter a beatificação do seu santo padroeiro, e enquanto lutam pela sobrevivência num mundo devastado. Publicada originalmente na The Magazine of Fantasy and Science Fiction em três partes, A Canticle for Leibowitz é uma história muito bem conseguida e particularmente bem humorada sobre a natureza humana, e sobre o carácter cíclico - e quase sempre irónico - que a História acaba sempre por assumir.

Hyperion / The Fall of Hyperion (Dan Simmons, 1989/1990)
Ainda a leitura ia a meio e já Hyperion, de Dan Simmons, se tinha tornado num dos meus livros de ficção científica preferidos - pela escrita elegante, pelas referências literárias, e sobretudo pela densidade da narrativa. Um acaso que é tudo menos casual juntou sete desconhecidos numa peregrinação à lendária criatura conhecida como Shrike, no remoto planeta Hyperion - e, durante a longa viagem, decidem partilhar as suas histórias e o que os levou a alinhar naquela aventura suicida. Mais do que uma história, Hyperion é composto pelas formidáveis histórias individuais de cada um dos peregrinos, que contém as várias peças do vasto puzzle da guerra de proporções galácticas que se avizinha. Afinal, qual é a relevância de Hyperion no conflito entre os mundos da Web e os Ousters? E qual é o papel da AI Technocore? As respostas são dadas no surpreendente The Fall of Hyperion, fechando de forma formidável esta parte dos Hyperion Cantos

Stand on Zanzibar (John Brunner, 1968)
Para todos os efeitos, John Brunner falhou na previsão: apesar de a população terrestre em 2010 ser de (mais ou menos) sete mil milhões de indivíduos, as consequências da sobrepopulação estão longe daquelas que imaginou em Stand on Zanzibar. O que, para todos os efeitos, é irrelevante: a sobria distopia que descreveu de forma prodigiosa neste livro premiado continua a ser relevante e, acima de tudo, assustadoramente plausível. Num estilo narrativo que, sendo reminescente de John Dos Passos, nunca deixa de ser original e inovador, Stand on Zanzibar marcou os anos da "New Wave" com as histórias paralelas de Norman House e Donald Hogan num mundo caótico onde o espaço e a privacidade se tornaram luxos. As muitas histórias paralelas dão cor ao mundo imaginado por Brunner ao focar os vários aspectos desta distopia, e há qualquer coisa de vagamente premonitório (e genial) nos infodumps com que o autor apresenta personagens, introduz factos e coloca mais questões do que respostas. 

Lord of Light (Roger Zelazny, 1967)
Pode um livro excepcional ter origem num trocadilho? Pode, e Roger Zelazny demonstrou-o em 1967 com Lord of Light, misturando fantasia épica e ficção científica de forma elegante e irónica. O trocadilho fica à descoberta dos leitores, tal como a história de Mahasamatman, que deixou cair o -Maha e o  -atman para ser conhecido apenas por Sam. Sam abandonou o panteão dos deuses para viver entre os homens e, no seu caminho, decidiu devolver à Humanidade todo o conhecimento e todo o progresso que aqueles lhe negavam. Como é que uma história sobre a revolta contra o divino pode incluir ficção científica? Esse é justamente uma das maravilhas de Lord of Light e da sua recriação sui generis das divindades Hindus. Com uma interessante estrutura narrativa circular, Zelazny desenvolve uma fascinante história de queda e ascensão onde Yama, Brahma, Shiva, Ratri, Mara e Ganesha merecem destaque, mas na qual é Sam, o Buddha, quem de facto brilha. 


The Colour of Magic (Terry Pratchett, 1983)
No final do ano passado, defini como única resolução para 2012 começar a ler a série Discworld, de Terry Pratchett, após me ter maravilhado com o conto The Sea and Little Fishes que encontrei na antologia Legends, de Robert Silverberg. Logo em Janeiro li The Colour of Magic, primeiro volume nesta série que já conta com 39 livros publicados, vários contos e inúmeros livros paralelos, e apesar de esperar uma leitura divertida, acabei por me surpreender com a (aparentemente infinita) capacidade de Pratchett descrever as mais absurdas e hilariantes situações no mundo fantástico de Discworld (que, como se sabe, assenta sobre quatro elefantes enormes que estão de pé sobre a carapaça da Great A'tuin, a tartaruga cósmica). The Colour of Magic apresenta o inábil feiticeiro Rincewind, a formidável Luggage, a Morte e a grande cidade de Ankh-Morpork - e ainda que possa não ser o livro mais divertido da série, é nele que tudo tem início.


The Farthest Shore (Ursula K. Le Guin, 1972)
Earthsea, o universo de fantasia de Ursula K. Le Guin, ocupa um lugar de destaque na fantasia moderna. Com cinco romances e vários contos, Earthsea esconde vários temas adultos numa narrativa de tom mais próximo da literatura young adult e em personagens e localizações fascinantes. A Wizard of Earthsea é o primeiro desses livros, publicado em 1968, mas foi The Farthest Shore, o terceiro livro da série, que mais me tocou. Com a magia a desaparecer do mundo, o feiticeiro Ged junta-se ao jovem príncipe Arren numa viagem pelas ilhas mais remotas do vasto arquipélago de Earthsea. Nessa expedição encontram tribos muito diferentes, dragões e um terrível inimigo que os obrigará a ir para lá dos limites do mundo desconhecido e a enfrentar os seus maiores receios. Tal como nos outros livros da série, em The Farthest Shore Le Guin desenvolve uma história muito contida com um ritmo excepcional, explorando novas facetas do universo de Earthsea numa aventura que se revela mais madura do que aquelas que a antecedem.

The Last Wish (Andrzej Sapkowski, 1993)
The Witcher e The Witcher 2: Assassins of Kings são dois dos mais aclamados videojogos dos últimos cinco anos, e têm a sua origem na obra do escritor polaco Andrzej Sapkowski. Nos vários contos que compõem a antologia The Last Wish, Sapkowksi apresenta Geralt of Rivia, o cínico caçador de monstros que assume o papel principal tanto nos livros e contos como nos populares videojogos. À primeira vista, o universo descrito nos vários contos que compõem The Last Wish parece semelhante a outros universos de fantasia medieval de inspiração tolkieniana, com elfos e anões a conviverem com os seres humanos, e com muita sword & sorcery. A diferença reside no tom, e é aqui que Sapkowski revela toda a sua mestria, criando fábulas que, num tom tão cínico como sarcástico, desconstroem as convenções e os clichés da fantasia épica e dos contos de fadas para criar histórias onde o Bem e o Mal raramente são aquilo que parecem ser

29 de dezembro de 2012

2012 em videojogos

Ao contrário do que aqui escrevi sobre filmes e séries televisivas, o meu balanço de 2012 em videojogos não se resume aos títulos lançados durante este ano, mas sim nos jogos que joguei ao longo de 2012. Em termos de crítica especializada, diria que 2012 foi o ano de algumas desilusões, com o desfecho da série Mass Effect e o terceiro capítulo da popular série Diablo, da Blizzard Entertainment (que acabei por não jogar), a destacarem-se como dois títulos que ficaram muito longe das elevadas expectativas dos respectivos fãs. Mas 2012 foi também o ano de algumas surpresas – com The Walking Dead, uma aventura gráfica desenvolvida pela Telltale Games com base nos comics de Robert Kirkman, a arrecadar vários prémios de jogo do ano, destacando-se entre lançamentos de franchises aclamadas como Halo ou Far Cry

Mass Effect 3 [6.0/10] 
Se havia título que no início de 2012 aguardava com muita expectativa, esse título seria sem sombra de dúvida Mass Effect 3. Em 2011 descobri esta série de ficção científica, e após dois jogos muito bons, as expectativas não podiam ser mais elevadas para o terceiro capítulo. No entanto, Mass Effect 3 revelou-se uma desilusão – menos personagens do que Mass Effect 2 (e mais desinteressantes, como James Vega), menos opções de exploração da galáxia, uma interface de quests ainda mais confusa, um DLC importantíssimo no dia de lançamento e, qual cereja no topo do bolo, três finais terríveis do ponto de vista narrativo que não só são incoerentes com vários elementos já estabelecidos deste universo, como tornam as escolhas feitas pelos jogadores ao longo de três jogos e de inúmeros DLC completamente irrelevantes. A polémica foi longa e virulenta, e o Extended Cut DLC de resposta não resolveu problema algum. É certo que Mass Effect 3 tem momentos extraordinários, mas a série merecia mais. Muito mais. 

Portal [10/10] 
Portal foi uma das mais fascinantes experiências que tive com videojogos desde que disparei os meus primeiros tiros virtuais em Doom 2. Lançado em 2007 no pacote The Orange Box da Valve, que incluía o segundo episódio de Half-Life 2 e Team Fortress 2, Portal apanhou de surpresa o mundo dos videojogos com a sua simplicidade, a sua jogabilidade única e desafiante, e uma narrativa tão simples como surpreendente. GlaDOS tornou-se quase instantaneamente numa das melhores vilãs da história dos videojogos, e o voice acting de Ellen McLain será porventura o melhor que a indústria já conheceu. Numa época em que os videojogos estão cada vez mais complexos sem serem necessariamente mais desafiantes ou estimulantes, a combinação de simplicidade, jogabilidade e narrativa de Portal são um autêntico triunfo, dando forma a um jogo a todos os níveis perfeito. 


Portal 2 [9.7/10] 
O problema de fazer um jogo perfeito é dar-lhe uma continuação que esteja à altura da fasquia estabelecida. Em 2010, este foi o desafio de Portal 2 – e apesar de este segundo título já não beneficiar do factor surpresa que contribuiu para a aclamação de Portal três anos antes, a Valve soube recriar os elementos que fizeram de Portal um sucesso e introduzir novidades suficientes para dar um efectivo passo em frente na série. GlaDOS continua memorável, e ao voice acting irrepreensível de Ellen McLain juntaram-se Stephen Merchant e J. K. Simmons com desempenhos brilhantes. Mas apesar da qualidade superlativa da campanha individual, o destaque de Portal 2 vai para o extraordinário modo de cooperação online, na qual dois jogadores assumem o papel dos hilariantes robots Atlas e P-Body para superar os desafios de GlaDOS em salas de teste comunitárias. O recente DLC Perpetual Testing Initiative veio tornar Portal 2 num jogo ainda melhor, e praticamente ilimitado.

The Witcher: Enhanced Edition [9.2/10] 
Outro título de 2007 que apenas experimentei durante 2012, The Witcher é um jogo role-play de acção baseado no sombrio universo de fantasia épica do autor polaco Andrzej Sapkowski. Desenvolvido pelos estúdios polacos da CD Projekt Red, The Witcher é uma aventura assombrosa – em ambos os sentidos. O protagonista, Geralt of Rivia, é um witcher que se vê envolvido numa vasta conspiração na qual a neutralidade se revela de todo impossível. Tal como a ficção na qual se baseia, The Witcher adquire um tom adulto que roça com frequência o sarcasmo, quando não o cinismo, desconstruindo algumas convenções do género, tanto na literatura como nos videojogos (a quest da dríade e dos lobos é disso um soberbo exemplo). Podem ser apontadas algumas falhas à tradução do original polaco para o inglês, sobretudo no que diz respeito a alguns momentos do voice acting, mas tanto em termos narrativos como em jogabilidade The Witcher é um jogo formidável.

28 de dezembro de 2012

Balanço: O fantástico na televisão em 2012

Tal como no cinema, também na televisão o Fantástico esteve em alta durante 2012. Vampiros, zombies, alienígenas, criaturas de contos de fadas - a escolha foi muita, e a qualidade bastante razoável. De um ponto de vista meramente pessoal, a minha série preferida em 2012 não foi uma série do Fantástico (foi Homeland, já agora – apesar de 2012 também ter sido o ano em que finalmente vi Battlestar Galactica), mas o género esteve muito bem representado no pequeno ecrã, e proporcionou-me grandes momentos de televisão.

The Walking Dead, Temporada 2 – Parte 2 (8.8/10)
Os produtores de The Walking Dead parecem ter prestado atenção às críticas do público – A segunda temporada começou de forma interessante, mas a persistência do grupo de Rick na quinta de Hershel levou muitos fãs ao desespero, reclamando uma narrativa mais centrada na acção e noutros espaços. A segunda parte da temporada, que arrancou no seguimento do fantástico episódio do celeiro, começou a ganhar ritmo a cada episódio, para acabar em grande com dois episódios finais formidáveis, com a morte de personagens importantes, a fuga da quinta, a separação do grupo e, claro, a misteriosa introdução de Michonne. O discurso de Rick no episódio final e a revelação aguardada desde a primeira temporada sobre a natureza da epidemia zombie dificilmente poderiam elevar mais a fasquia para a terceira temporada.

Once Upon a Time, Temporada 1 (7.2/10)
Os contos de fadas estão de novo na moda – e resta determinar se Once Upon a Time é causa ou reflexo dessa moda. Na enigmática vila de Storybrooke ninguém é quem de facto aparenta – cada um dos habitantes da vila tem um passado num conto de fadas. Desse passado desconhecido apenas Regina, a Presidente da Câmara, se lembra – ela que, na verdade, é a Bruxa Má e que lançou o feitiço de esquecimento que enviou as personagens das fábulas para o mundo real. E só Emma poderá quebrar esse feitiço, se conseguir acreditar na magia. Ainda que não esteja livre de altos e baixos, Once Upon a Time vale essencialmente pela forma como, a cada episódio, recriou os contos de fadas clássicos e os cruzou com o presente. E, claro, por dois desempenhos extraordinários: Lana Parrila, no papel de Bruxa Má e Presidente de Storybrooke; e Robert Carlyle, no papel de Mr. Gold e Rumplestiltskin.

Game of Thrones, Temporada 2 (8.1/10)
A segunda temporada de Game of Thrones – porventura, uma das mais aguardadas séries de 2012 – incidiu sobre A Clash of Kings, o segundo livro da série A Song of Ice and Fire, de George R. R. Martin. Com mais personagens e mais localizações num mundo cada vez mais vasto, Game of Thrones cresceu e proporcionou aos fãs muitos momentos memoráveis, entre os quais se destacam praticamente todos os protagonizados pelo anão Tyrion Lannister (interpretado de forma sublime por Peter Dinklage, uma vez mais) e a excelente Batalha de Blackwater. Nesta temporada, porém, sentiu-se a falta de um protagonista claro (após a morte de Ned Stark), e algumas alterações narrativas feitas face ao livro podem vir a revelar-se problemáticas para o futuro da série. Ainda assim, o excelente final abriu sem dúvida o apetite para a terceira temporada, que estreará nos Estados Unidos a 31 de Março de 2013.

Falling Skies, Temporada 2 (7.5/10)
Em boa hora os produtores de conseguiram renovar a interessante, ainda que medíocre primeira temporada de Falling Skies – a segunda temporada revelou-se muito mais sólida, ainda que não isenta de falhas. O misterioso regresso de Tom serviu de âncora aos episódios iniciais da temporada, que a partir daí ganhou um ritmo muito sólido com a história da "Second Mass", as várias histórias pessoais dos vários sobreviventes (onde se destacam Ben, Maggie e Weaver) e, sobretudo, com um twist muito interessante acerca dos alienígenas que invadiram a Terra. Tom (Noah Wyle) continua a ser a referência da série, que ao longo da segunda temporada melhorou de episódio para episódio, até um desfecho surpreendente que deixa muitas expectativas para a terceira temporada.

The Walking Dead, Temporada 3 – Parte 1 (9.2/10)
A terceira temporada de The Walking Dead provou definitivamente que a lentidão da segunda temporada é coisa do passado: os oito episódios da primeira parte da temporada são excelentes, com um ritmo muito elevado, bom desenvolvimento de personagens (ver Carl e Maggie), algumas mortes surpreendentes e novas personagens muito promissoras. Michonne ainda não se revelou no portento dos comics, mas para lá caminha, e Merle Dixon regressou em grande. Foi, no entanto, o Governador quem roubou as temporada, com David Morrissey a desempenhar de forma notável o sinistro vilão de Robert Kirkman. Ainda que mais contido e aparentemente mais vulnerável do que nos comics, o Governador conseguiu dar a The Walking Dead uma ameaça muito mais perigosa do que os zombies. No episódio final, esta primeira parte da terceira temporada deixa as expectativas muito elevadas para os restantes episódios.

Prophets of Science Fiction (8.5/10)
Prophets of Science Fiction é uma série de oito documentários televisivos produzidos em 2011 por Ridley Scott para o Science Channel e transmitidos em Portugal durante Novembro e Dezembro últimos pelo Discovery. Cada um dos documentários incidiu sobre uma das grandes personalidades da ficção científica enquanto género literário e cinematográfico, dando destaque às inovações tecnológicas exibidas nas respectivas obras e à forma como inspiraram progressos reais – ou como progressos reais parecem ter emulado aquilo que em tempos pertencera ao campo da ficção científica.  É certo que a lista de autores é limitada e que os convidados nem sempre foram os melhores – se é óptimo ouvir os testemunhos de vultos como Harlan Ellison ou David Brin, é discutível se o argumentista de Cowboys & Aliens ou Iron Man 2 têm de facto alguma coisa de relevante a dizer sobre o género. Não é isso, porém, que retira o mérito a estes excelentes documentários.

27 de dezembro de 2012

Balanço: o cinema fantástico em 2012

Agora que 2012 está a chegar ao fim e que as minhas idas ao cinema estão para todos os efeitos concluídas, aqui fica o meu balanço cinematográfico do ano. Este balanço é relativo apenas aos filmes de fantasia e ficção científica que vi em sala de cinema; para falar em termos mais gerais dos filmes destes géneros que vi em 2012 precisaria de vários artigos, já que foi o ano em que finalmente vi filmes como Metropolis, The Thing, Eternal Sunshine of the Spotless Mind e muitos outros. Nota: algumas classificações que dei nas reviews originais foram revistas entretanto - os valores apresentados neste artigo são os definitivos, e os alterados estão assinalados com*:

A distopia young adult de Suzanne Collins centrada na personagem Katniss Everdeen deu origem a um filme que, não sendo extraordinário, conseguiu ser interessante q.b.. Jennifer Lawrence interpretou com brio a protagonista, uma adolescente do paupérrimo Distrito 12 de Panem, que para salvar a sua irmã mais nova decide participar voluntariamente nos Hunger Games - na prática, um misto de Battle Royale (pun intended, mas sem maldade) com Big Brother onde dois adolescentes de cada um dos doze distritos de Panem combatem como podem até apenas um estar vivo, para o entretenimento da população rica e o controlo da população pobre. Apesar de ninguém da equipa de produção fazer a mais pequena ideia do que é um tripé de uma câmara, o filme tem um ritmo elevado, com uma segunda parte repleta de acção (ainda que a lógica seja muito discutível de vez em quando).

The Avengers (08/10)
Julgo ser seguro afirmar que mesmo muitos dos mais fervorosos fãs da Marvel esperavam um pequeno desastre deste filme. Eu, que não sou de todo fã de qualquer daqueles super-heróis, esperava um descarrilamento de proporções épicas. A verdade é que, curioso pela aclamação crítica generalizada, acabei por vê-lo no cinema, e durante duas horas e meia diverti-me imenso com aquela improvável equipa de super-heróis. Uma grande surpresa, mesmo sabendo que o projecto estava entregue a Joss Whedon, que até ao momento ainda não desiludiu. Para além do argumento inteligente e com muito humor, em The Avengers merece aplauso o novo Hulk (Mark Ruffalo), renascido depois de um filme miserável e outro medíocre, Loki (Tom Hiddleston), um excelente vilão, e, claro, Tony Stark (Robert Downey Jr.), cujo carisma já assegurou que nenhum actor com juízo vai querer interpretar o papel de Iron Man. 

Prometheus (5.5/10)*
Ridley Scott de regresso à ficção científica? Uma ambiciosa prequela ao seminal Alien? Em inícios de Junho era impossível não estar entusiasmado com Prometheus, que prometia ser "o" filme de ficção científica desta geração. Se de um ponto de vista visual é de facto impressionante, já do ponto de vista do enredo parece querer competir com os vinte minutos finais de Mass Effect 3 para a maior imbecilidade narrativa de 2012. Personagens que não fazem o que quer que seja com nexo, os cientistas mais estúpidos do Grupo Local, twists desnecessários a forçar a lógica interna do filme, disparates científicos embaraçosos para o género e diálogos terríveis. A eventual carga simbólica não salva a péssima narrativa. Aspectos redentores? O andróide David, o design da Prometheus e a componente visual do filme. Não fosse por isso, e mais valia sermos amarrados ao proverbial rochedo e esperar pela águia que nos comeria o fígado.

Outro filme cujo hype estratosférico só pode ser comparado ao estrondo da sua queda. Christopher Nolan decidiu tornar o extraordinário The Dark Knight irrelevante com o terceiro filme da sua trilogia, The Dark Knight Rises, ao retomar a League of Shadows com um vilão excepcional... até ao momento em que a verdadeira vilã se revela. Já Bruce Wayne aproveitou as mais de duas horas e meia do filme para reproduzir aqueles filmes antigos do Jean Claude Van Damme: leva uma carga de porrada, vai treinar, come as passas do Algarve e dá cabo do vilão. E a polícia, certa de que estava na Nova Zelândia a rodar An Unexpected Journey, decide fazer uma carga policial de estilo medieval contra tipos armados e com tanques. Pelo meio, há um piscar de olhos ao Occupy Wall Street, há uma Anne Hathaway a tentar - sem sucesso - salvar o filme e há coincidências suficientes para quebrar a suspensão na descrença na primeira meia hora.

Looper (8.7/10)
Uma produção independente realizada por Rian Johnson que terá porventura sido um dos mais surpreendentes filmes de 2012. No futuro, as viagens no tempo não são utilizadas para ver como os pais se conheceram ou para descobrir quando são inventados skates anti-gravidade, mas sim para os mafiosos enviarem as suas vítimas para o passado, onde são despachadas sem deixar rasto. Joe é um looper, um criminoso que recebe as vítimas do futuro e trata de as fazer desaparecer - algo que desempenha com competência até ao dia em que o seu eu do futuro é enviado para ser eliminado. Conceptualmente muito bom, Looper tem uma narrativa excelente, óptimos desempenhos, efeitos especiais cirúrgicos e formidáveis, e um sentido de humor com um timing perfeito. E tem ainda o Bruce Willis a fazer de Joseph Gordon-Levitt - ou vice-versa -, e uma utilização fabulosa de telecinésia.

Cloud Atlas (09/10)
Cloud Atlas foi, para mim, o grande filme de 2012*. Baseado no romance homónimo de David Mitchell e realizado por Lana e Andy Wachowsky e Tom Twyker, Cloud Atlas propôs-se contar não uma mas seis histórias completamente diferentes no tom, no tema, no tempo e no espaço, e interligá-las para formar uma história mais vasta e mostrar como todos os nossos gestos, mesmo os mais pequenos, ecoam pelos tempos e têm consequências inesperadas. E, pasme-se, contou-as todas muito bem. Dos tempos do colonialismo no Oceano Pacífico ao presente, dos anos 30 à extraordinária Seoul futurista (num misto de Tron com Blade Runner), dos anos 70 a um distante futuro pós-apocalíptico, é difícil apontar uma fraqueza a Cloud Atlas, e é uma maravilha ver as peças do puzzle a encaixar. Mais: é também um excelente regresso dos Wachowsky.

The Hobbit: An Unexpected Journey (8.2/10)
O hype em redor do primeiro filme desta nova trilogia passada na Terra Média de Tolkien foi, no mínimo, invulgar: ao entusiasmo pelo regresso de Peter Jackson ao universo que tão bem recriou há uma década juntou-se a apreensão pela adaptação de um livro pequeno - The Hobbit - em três longos filmes. Peter Jackson foi esgaravatar nos anexos de The Return of the King, nos Unfinished Tales e em algumas referências de The Silmarillion para compor a coisa. É certo que o filme estará confortavelmente instalado no legado da trilogia original, e tem vários problemas na narrativa e na adaptação em si (Radagast, o Istari Pedrado?); nem por isso, porém, deixa de ser um óptimo regresso à Terra Média, com Martin Freeman a desempenhar um extraordinário Bilbo Baggins, um grupo de anões muito interessante e Andy Serkis a quase roubar o protagonismo ao filme nos breves minutos em que reencarna Gollum.

*Na prática, o melhor filme que vi numa sala de cinema este ano foi La Jetée, de Chris Marker; não entra aqui por ser um filme já bem antigo, e não uma estreia.

24 de dezembro de 2012

Em Andrómeda também se celebra o Natal

Pelo que, devido à viagem até à aldeia, à visita à família, aos sonhos, às rabanadas e a todas essas coisas, o Viagem a Andrómeda vai estar um tanto ou quanto parado durante os próximos dias. Regressarei nos últimos dias de Dezembro para os balanços de 2012 e as resoluções de 2013.

A todos os leitores, votos de um Fantástico Natal. 

23 de dezembro de 2012

Citação fantástica (46)

Now it is a strange thing, but things that are good to have and days that are good to spend are soon told about, and not much to listen to; while things that are uncomfortable, palpitating, and even gruesome, may make a good tale, and take a deal of telling anyway.

J. R. R. Tolkien, The Hobbit (1937)

21 de dezembro de 2012

The Hobbit: "Num buraco no chão" foi apresentada a Terra Média

É comum considerar The Hobbit como uma prequela à muito popular trilogia The Lord of the Rings, de Tolkien. De facto, é neste livro de 1937 que encontramos as sementes da narrativa vasta e solene que viria a dar forma a todo um género literário e a estabelecer convenções que ainda hoje são seguidas na Fantasia Épica. Mas The Hobbit é mais do que uma simples prequela a uma obra mais vasta - é, acima de tudo, o ponto de partida de Tolkien na Terra Média que lhe preencheu a imaginação durante a maior parte da sua vida, numa obra cuja inocência esconde um  mundo e uma mitologia de uma vastidão ímpar na literatura.

Inocência é, de facto, um adjectivo adequado para descrever The Hobbit. Ainda que a sua estrutura narrativa tenha servido de base para The Lord of the Rings alguns anos mais tarde, há na aventura de Bilbo Baggins uma leveza e um sentido de humor, tanto no tom como no enredo, que são muito raros na obra de Tolkien (talvez apenas Tom Bombadil em The Fellowship of the Ring recupere essa leveza). Certo: The Hobbit é, na sua essência, uma história infantil, e foi como história infantil que se tornou num sucesso literário de tal ordem que levou o editor de Tolkien a pedir uma sequela que tivesse mais histórias de hobbits. Os elementos que o escritor veio a desenvolver na forma que cristalizou em The Lord of the Rings - e que se tornaram convenções de todo um género literário - estão todos presentes, ainda que de forma pouco madura: os Elfos são folgazões e Rivendell, com toda a sabedoria de Elrond, é lugar de folia; os Trolls, com nomes comuns (Tom, Bert e William), são mais cómicos do que ameaçadores; os Goblins não parecem tão perigosos como os Orcs de Mordor ou os Uruk-hai, e mesmo o extraordinário Smaug não aparenta ter o poder e a malícia do outro dragão célebre de Tolkien, Glaurung (The Silmarillion, The Book of Lost Tales, The Children of Húrin).

Que não se pense por isto que The Hobbit é uma história inferior. Diferente, sem dúvida, em tudo aquilo de comum que tem com a restante obra. Com um tom de fábula e um fio contínuo de incidentes e percalços, a aventura de Bilbo Baggins revela-se um livro de leitura muito divertida, com inúmeras passagens que deixam adivinhar o vasto mundo que existe para lá do seu caminho, sem no entanto se desviar dele (mais do que o necessário, entenda-se). Bilbo Baggins, um respeitável hobbit do Shire, recebe numa bela manhã a visita de Gandalf, um feiticeiro conhecido naquelas paragens pelo seu magnífico fogo-de-artifício. Logo de seguida, aparece-lhe à porta - literalmente - Thorin Oakenshield e uma companhia de doze anões das Montanhas Azuis, que procuram mais um elemento para o grupo que marchará até Erebor, a Montanha Solitária, para recuperar o lendário tesouro dos Anões que o dragão Smaug roubara muitos anos antes. De forma algo hesitante, Bilbo acaba por abdicar do seu sossego para entrar na aventura, assumindo o papel de "ladrão" de que o grupo de Anões precisavam para a sua missão. Claro que esta viagem será tudo menos simples: de encontros perigosos com Trolls e uma fuga precipitada dos Goblins das Montanhas Nebulosas; peripécias na sombria Mirkwood com aranhas gigantes e Elfos; o encontro com Smaug, a descoberta do tesouro dos Anões e a famosa Batalha dos Cinco Exércitos. 

Com o papel de protagonista, é em Bilbo que se centra a narrativa avança - e à medida que a história avança vamos acompanhando o crescimento do pequeno hobbit do Shire e a sua transformação num herói involuntário mas cheio de recursos que ele mesmo desconhecia (tal como Gandalf pervira). Não há nesta história a responsabilidade sufocante de salvar o mundo, que Frodo viria a enfrentar; apenas uma história isolada que, apesar de incluir a fundação do conflito que se tornará central a The Lord of the Rings (a descoberta do Anel) e de se situar à margem do início da "Guerra do Anel" (a história do Conselho Branco e de Dol Guldur), não assume as proporções épicas - e mesmo trágicas - daquela história. É uma história mais pequena e contida, narrada a um ritmo muito rápido através de vários episódios em crescendo interno e externo. 

O texto de The Hobbit que hoje lemos não corresponde exactamente ao texto original de 1937. Ao longo das várias edições, Tolkien fez várias alterações - de simples correcções a mudanças mais significativas no enredo. Após o sucesso de The Lord of the Rings, várias alterações foram introduzidas para tornar a narrativa de The Hobbit mais coerente com a trilogia. A título de exemplo, a célebre passagem Riddles in the Dark, na qual Bilbo encontra o Anel e enfrenta Gollum num jogo de adivinhas, conheceu mudanças substanciais para evitar dissonâncias com o Gollum e o poder do Anel na trilogia. Tolkien queria ir mesmo mais longe e reescrever The Hobbit por completo, aproximando-o do tom de The Lord of the Rings. O seu editor dissuadiu-o desse projecto - e ainda bem. O encanto de The Hobbit reside justamente no seu tom de aventura e na verosimilhança da sua implausibilidade (os tais dei ex machina), aspectos comuns aos contos infantis. Por si só, é uma leitura superlativa, e não só para crianças; enquadrado na obra de Tolkien, é uma magnífica introdução à Terra Média, com uma aventura ligeira que deixa adivinhar que há muito mais para contar e abre o apetite para essas histórias. 

20 de dezembro de 2012

Notas sobre ficção científica (5)

A crucial dynamic in the writing of speculative fiction is the tension between Fantasy and Science Fiction. Of course, for some the distinction between these two terms is very clear: Fantasy, like Tolkien, includes magic; SF, like Arthur C. Clarke, technology. But Clarke famously noted that any sufficiently advanced technology will appear magical; and the best examples of the genre demonstrate that the borderline between these two things is far from clear. Zelazny's Lord of Light is a brilliant demonstration of this: a novel at one and the same time both a superb science fictional tale, in which all the fabulous and fantastical things that happen are rationalized in technological terms; and a superb example of High Fantasy, in which gods and demons mingle with mortals and powerful magic is loosed upon the world. Indeed, one way of reading Lord of Light is as a modification of Clarke's celebrated apothegm: any sufficiently advanced technology, Zelazny is saying, is indistinguishable from religious myth.


Adam Roberts, na introdução de Lord of Light, de Roger Zelazny (1967), edição SF Masterworks da Gollancz.

Humor no espaço

Não, isto não será um longo ensaio sobre o humor na ficção científica - apenas uma curiosidade na qual tropecei enquanto procurava alguma coisa para publicar aqui no blogue hoje (em época de Natal tudo fica tão parado). Quando falamos de humor nos géneros do fantástico será difícil não referirmos, quase de imediato, de Douglas Adams e de Terry Pratchett. Adams introduziu o humor non-sense britânico, algo ao estilo de Monty Python (com quem colaborou, aliás) numa das mais aclamadas séries literárias de ficção científica: The Hitchhiker's Guide to the Galaxy. Pratchett, por seu lado, criou em Discworld  um vasto universo satírico onde nada - mesmo nada - escapa à sua inteligente e hilariante paródia.

O que é curioso tanto em Adams como em Pratchett é a forma como, em ambas as séries (para ser mais preciso, em The Hitchhiker's Guide to the Galaxy e The Light Fantastic, respectivamente), definem o Espaço. Como disse Douglas Adams numa das mais célebres citações do livro,
Space is big. Really big. You just won't believe how vastly hugely mind-bogglingly big it is. I mean, you may think it's a long way down the road to the chemist, but that's just peanuts to space.
É bem visto. Pratchett, porém, dá uma opinião um tanto ou quanto diferente - e não menos válida:
A shadow starts to blot out the distant glitter, and it is blacker than space itself. 
From here it also looks a great deal bigger, because space is not really big, it is simply somewhere to be big in. Planets are big, but planets are meant to be big and there is nothing clever about being the right size.
Considerando que The Hitchhiker's Guide to the Galaxy foi publicado em 1979 e The Light Fantastic em 1986, não me surpreenderia que a frase de Pratchett fosse uma resposta à de Adams (aliás, se não é, parece). 

19 de dezembro de 2012

A legendagem de The Hobbit: An Unexpected Journey

Sobre The Hobbit: An Unexpected Journey, há um problema sério que omiti no meu artigo de ontem por considerar que não é um problema do filme em si, mas sim da exibição do filme em Portugal: a legendagem. Não fixei o nome dos responsáveis pelas legendas, mas mereciam ser cozinhados pelos Trolls; a avaliar pelas legendas, percebeu-se que não só não fizeram qualquer trabalho de casa, como também não se preocuparam muito em confirmar os termos próprios do imaginário de Tolkien. O resultado é, por isso, vergonhoso e miserável (como se o flagelo do Acordo Ortográfico não fosse já suficiente). Alguns exemplos:

1) Nas linguagens élficas, a Montanha Solitária tem o nome de Erebor. Nas legendas portuguesas, porém, Erebor apareceu sempre como... Eriador. Ora acontece que, no universo de Tolkien, Eriador é o nome que é dado ao território situado a Leste das Montanhas Azuis e a Oeste das Montanhas Nebulosas. Isto não é um preciosismo linguístico; é uma confusão indesculpável que só pode ser explicada se admitirmos que os responsáveis pelas legendas não se deram sequer ao trabalho de ler um resumo da história na Wikipedia (quando deviam ter lido pelo menos uma vez o livro no qual o filme se baseia). 

2) Azog the Defiler foi traduzido como Azog o Gnomo. Dispensa comentários.

3) Durante o encontro de Gandalf com Radagast, este fala do seu encontro com as aranhas gigantes de Mirkwood, descrevendo-as como the spawn of Ungoliant. Nas legendas portuguesas, porém, recorrem a uma expressão idêntica a filhas de ungoliant, ou filhas de uma ungoliant. Faltou, uma vez mais, o trabalho de casa, pois Radagast não refere Ungoliant por acaso. Para resumir a coisa sem entrar muito nos acontecimentos de The Silmarillion,  Ungoliant é a terrível aranha gigante da Primeira Era da qual descendem todas as grandes aranhas da Terra Média - desde as aranhas gigantes de Mirkwood até Shelob.

4) A tradução de Dol Guldur como "Monte ao Sul" não é de todo precisa - foi utilizada na tradução portuguesa dos livros de Tolkien, ou também aqui as legendas meteram água?

Julgo que estes bastam para dar uma ideia do desastre - mas se alguém encontrou mais disparates de legendagem no filme, sinta-se à vontade para os partilhar. 

18 de dezembro de 2012

O regresso à Terra Média com The Hobbit: An Unexpected Journey

Ponto prévio em jeito de disclaimer: a haver claques na Fantasia como há na Ficção Científica, eu pertenceria claramente ao grupo que tem na Terra Média de Tolkien a sua grande referência e inspiração. Já li tudo o que me foi possível ler daquele mundo, tenho The Silmarillion como livro preferido de Tolkien e tenciono comprar e ler, quando tal me for possível, os doze volumes que compõem a vasta The History of Middle-Earth. Isto para dizer que à partida qualquer novidade sobre este universo fantástico seria (e será) recebida por mim com entusiasmo, ao qual se junta a inevitável subjectividade. Posto isto, passemos então para o tema deste artigo, que é o filme The Hobbit: An Unexpected Journey, a adaptação do clássico infantil de Tolkien por Peter Jackson, que há uma década surpreendeu e encantou o mundo ao levar para o grande ecrã o mundo imaginado pelo professor britânico. 

E podemos começar por eliminar desde logo o óbvio: sem querer de modo algum desvalorizar a trilogia The Lord of the Rings, que considero a todos os níveis notável, é importante notar que muito do impacto causado pelos três filmes foi também devido ao factor surpresa: poucos seriam aqueles que esperavam uma adaptação razoável de uma obra tão vasta, e provavelmente menos ainda seriam aqueles que imaginaram Jackson capaz de fazer três filmes daquele calibre. The Hobbit: An Unexpected Journey não poderia jamais beneficiar desse factor surpresa: já conhecemos bem a Terra Média, pelo que seria sempre muito improvável que superasse o hype. É possível que nas mãos de Guillermo Del Toro este novo filme (ou esta nova trilogia) se desmarcasse mais em termos visuais de The Lord of the Rings. Foi, porém, Peter Jackson quem acabou por assumir o projecto; e ainda que a decisão seja questionável, faz todo o sentido que Jackson tenha apostado numa continuidade em termos estéticos - até porque foi bem sucedido da primeira vez - ao invés de arriscar em algo novo.

17 de dezembro de 2012

Dog Mendonça e Pizzaboy (quase) de regresso

Imagem: Juan Cavia e Santiago Villa


Esta é a primeira (e excelente) imagem conceptual do terceiro álbum do Dog Mendonça e Pizzaboy, escrito por Filipe Melo e com ilustração e cor de Juan Cavia e Santiago Villa respectivamente. De acordo com o anúncio feito pelo próprio Filipe Melo no facebook, o guião do terceiro livro - que terá como título As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça & Pizzaboy 3: A Vingança do Dr. Aranha - já está pronto, e espera-se que seja publicado no próximo ano. Resta confirmar se este terceiro álbum será de facto o último da série, como estava previsto. 

Fonte: Filipe Melo / facebook

CD Projekt Red e o desenvolvimento de narrativas em videojogos

No blogue da CD Projekt Red, o estúdio polaco que desenvolveu os dois jogos da série The Witcher e que se encontra a produzir o jogo de role-play de ficção científica Cyberpunk 2077, o senior quest designer Mateusz Tomaszkiewicz explica como os escritores e os quest designers trabalham em conjunto para desenvolver uma narrativa densa e complexa como a que podemos encontrar em videojogos como The Witcher. É um artigo muito interessante, e cuja leitura recomendo a quem se interessar pela forma como as narrativas são (cada vez mais bem) trabalhadas neste meio: 
To fully understand our work, I believe it is important to explain the difference between story design and quest design at CDPR. The story design department operates mostly from a macro perspective of game storyline – what should be the main focus in game, what characters would be most interesting to introduce in game, what regions should the action take place in, who should be our main antagonist, etc.



Ghost in the Shell: Stand Alone Complex vai ser adaptada para videojogo pelos Estúdios Nexon

Ainda não falei aqui de Ghost in the Shell: Stand Alone Complex, que com duas temporadas e um filme televisivo será talvez uma das melhores séries televisivas que já tive oportunidade de ver. Conto rever em breve, e publicar aqui uma crítica a ambas as temporadas; para já, fica uma notícia do fim de semana: os estúdios sul-coreanos Nexon, especializados em videojogos free to play online, vão desenvolver um jogo com base nesta popular série de animação japonesa. Ainda não são conhecidos muitos detalhes sobre este projecto; sabe-se, para já, que o jogo seguirá a narrativa das duas temporadas e do filme. 

Ghost in the Shell: Stand Alone Complex, como se sabe, é a adaptação televisiva do manga de Masamune Shirow, de onde também resultou um extraordinário filme de ficção científica (Ghost in the Shell, de 1995). 

Fonte: Polygon

16 de dezembro de 2012

The Humans Are Dead

Isto não é novo (qualquer cibernauta geek já deve ter tropeçado neste vídeo há anos), mas vale sempre a pena mostrar a quem ainda não viu, e dar a quem já viu a oportunidade de rever e de se rir um bocado. De qualquer forma, não é muito habitual falar de música aqui no Viagem a Andrómeda, pelo que aqui fica uma muito adequada para este blogue: The Humans Are Dead, dos neozelandeses Flight of the Conchords.



Citação fantástica (45)

"[People] like to invent monsters and monstrosities. Then they seem less monstrous themselves. When they get blind-drunk, cheat, steal, beat their wives, starve an old woman, when they kill a trapped fox with an axe or riddle the last existing unicorn with arrows, they like to think that the Bane entering cottages at daybreak is more monstrous than they are. They feel better then. They find it easier to live.”

Andrzej Sapkowski, The Last Wish (1993)

14 de dezembro de 2012

The Last Wish, ou as origens de Geralt of Rivia

The Last Wish (no original, Ostatnie życzenie) é uma antologia de contos escrita pelo polaco Andrzej Sapkowski em 1993 e traduzida para inglês em 2008 sobre um personagem que, anos mais tarde, viria a tornar-se numa referência no universo dos videojogos: Geralt of Rivia, witcher. Não é a primeira antologia que Sapkowski escreveu sobre Geralt, mas foi a primeira a ser traduzida para inglês no seguimento do assinalável sucesso que o videojogo The Witcher (CD Projekt Red / Atari, 2007) conheceu após o seu lançamento - um caso curioso de um jogo que funciona como adaptação e expansão de um mundo literário já estabelecido.

Mas para quem nunca jogou o jogo:  The Last Wish é um dos vários livros que compõem o universo ficcional de Andrzej Sapkowski. Este universo não tem nome ou mesmo um mapa oficial, como é habitual em outros mundos de fantasia - Sapkowski admitiu que alguns mapas desenhados pelos fãs são próximos do que imagina ser aquele mundo, mas nunca adoptou ou desenhou um mapa que fosse de facto canónico. Podemos, contudo, imaginar um cenário medieval como o do cento e leste da Europa, com vários reinos com fronteiras variáveis e pactos de alianças voláteis. Tudo isto, claro, num ambiente de high fantasy Tolkieniana, com os incontornáveis elfos e anões, e outras raças como dríades e gnomos, a conviver com os Homens - umas vezes bem, outras menos bem. 

O que de facto distingue o universo de Sapkowski da Terra Média de Tolkien e de outros universos de high fantasy derivados é o seu carácter mais sombrio e cinzento - não existe uma bússola moral que aponte para o Bem, e em oposição para o Mal. Sapkowski joga muito com isso ao longo dos contos, subvertendo de forma frequentemente sarcástica, quando não cínica, muitas das tropes que tão bem conhecemos de outras histórias de fantasia, de fábulas e mesmo de contos de fadas. Neste universo existem magos, feiticeiras, druidas, cavaleiros e aristocratas - mas aqui, mais do que noutras histórias convencionais, as aparências e os papéis iludem com muita frequência.

O protagonista deste universo, e dos vários contos que compõem The Last Wish, é Geralt de Rivia, um witcher. Neste mundo, os witchers são um grupo muito fechado de indivíduos que treinaram desde crianças na fortaleza de Kaer Morhen para virem a ser guerreiros, mas não uns guerreiros quaisquer. Submetidos a mutações violentas, quando não letais, e com vários atributos mágicos, os witchers são mutantes poderosíssimos treinados com o propósito de combater as forças do Mal, independentemente da forma que assumam. Carregam consigo, para além de inúmeras poções e elixires, duas espadas - uma de aço, para homens, e outra de prata, para monstros (como Geralt diz numa das suas mais famosas citações, ambas são para monstros). Num dos contos que compõe The Last Wish, intitulado The Witcher, Geralt é contratado pelo rei Velerad do reino de Temeria para (tentar) retirar da sua filha, a princesa Adda, a maldição da striga, que a faz transformar-se num monstro sanguinário durante a noite. Quem já jogou o jogo decerto identifica esta história, pois serve de prólogo a toda a narrativa então desenvolvida. Na antologia The Last Wish, é o primeiro conto apresentado (se excluirmos o prólogo de The Voice of Reason), e também irá servir de ponto de partida para o livro e de enquadramento para os restantes contos.

E os sete contos que compõem esta antologia são, na sua generalidade, bastante bons, com três (A Grain of Truth, A Question of Price e The Last Wish) a destacarem-se pela sua excepcionalidade. The Voice of Reason é uma noveleta que se encontra dividida em várias partes, numa estrutura de frame story que enquadra os restantes contos. Nela, Geralt encontra-se com a sacerdotisa Nenneke no Templo de Melitele a recuperar dos ferimentos que sofreu durante a tentativa de retirar a maldição da striga da princesa Adda. A Grain of Truth narra o encontro acidental de Geralt com um monstro que não é exactamente monstruoso, e com a sua casa encantada. The Lesser Evil leva Geralt a reencontrar-se com um mago que conhecera anos antes, cujos actos atrozes do seu passado levaram uma princesa caída em desgraça a procurar vingar-se. A Question of Price (talvez o melhor conto da antologia) é uma história sobre as aparências que revela alguns detalhes muito interessantes sobre as regras que governam a sociedade imaginada por Sapkowski. The Edge of the World é uma aventura de Geralt e o bardo Dandillion até terras mais distantes, onde encontram um diabrete muito peculiar. Por fim, The Last Wish, que introduz a feiticeira Yennefer, mostra o que acontece quando Geralt e Dandillion libertam um génio que tem um entendimento muito peculiar dos três desejos que deve conceder. Todos estes contos contém vários elementos que ajudam a caracterizar o rico universo de Sapkowski e são atravessados por um sentido de humor particularmente sarcástico. As personagens mais relevantes, porém, são todas elas muito interessantes, e ao longo dos sete contos há muita coisa para descobrir acerca delas. 

Quem já jogou o jogo decerto estará familiarizado com o tom daquele mundo, e com algumas das personagens (como Dandillion). Mas quem não jogou (ou tenciona jogar) não tem qualquer motivo para se sentir excluído: The Last Wish introduz muito bem todo o universo fantástico de Sapkowski, e desconstrói de forma muito hábil as convenções da fantasia épica e os temas dos contos de fadas da tradição europeia. Quem quiser ler algumas histórias de fantasia muito pouco convencionais, com óptimas personagens e pouquíssimo pudor, não precisa de ir mais longe.

13 de dezembro de 2012

The Walking Dead domina os Video Game Awards

Num ano com novos lançamentos previstos em séries tão aclamadas como Mass Effect, Diablo ou Halo, dificilmente alguém iria prever que os Video Game Awards 2012, da Spike TV, viessem a ser dominados por um jogo tão invulgar como The Walking Dead. A verdade é que o jogo da Telltale acabou por levar cinco dos seis prémios para os quais estava nomeado, incluindo o grande prémio da cerimónia para "Melhor Jogo", e os prémios de "Melhor Estúdio", "Melhor Interpretação Vocal Feminina", "Melhor Videojogo Adaptado" e "Melhor Jogo Descarregável". Aclamado pela crítica especializada*, pela qualidade da escrita, pela densidade narrativa, pela caracterização das personagens e pelo impacto que as várias decisões do jogador no enredo, The Walking Dead foi lançado a partir de Abril de 2012 em cinco episódios (disponíveis na Steam para PC, e também para PS3 e X-Box) que seguem de perto a história dos comics de Robert Kirkman e a série televisiva de Frank Darabont.

Outro destaque da noite foi a atribuição do prémio de "Melhor Jogo da Década" a Half-Life 2 (pessoalmente tinha esperanças de que o prémio fosse para Portal, mas julgo que também está muito bem assim).

Abaixo, o trailer da história de The Walking Dead, da Telltale Games. Algo me diz que vou falar deste jogo várias vezes nos próximos tempos.



A lista completa dos vencedores dos Video Game Awards da Spike TV pode ser consultada aqui.


* Algumas reviews a The Walking Dead (com possíveis spoilers):