2 de novembro de 2012

O Antigo Egipto em Discworld: Pyramids

O sétimo livro dá série Discworld, Pyramids, é também o primeiro a não abrir ou continuar nenhum arco narrativo dedicado a uma personagem específica - narra uma história que, apesar de incluir algumas localizações (a inevitável cidade de Anhk-Morpork) e algumas personagens já familiares para os leitores da série (a não menos inevitável Morte), não tem quaisquer sequelas e, por isso, pode servir como ponto de entrada para novos leitores de Discworld

Em Pyramids, e como o título desde logo indica, Pratchett aponta todo o seu talento satírico para o Antigo Egipto, que tem o seu equivalente no Disco no reino de Djelebeybi, um pequeno território no vasto vale de um rio, encaixado entre duas nações rivais e beligerantes. A única coisa notável em Djelebeybi são as suas vastas pirâmides, não só monumentos como também (e sobretudo) autênticos diques temporais que preservam os corpos dos faraós falecidos. A narrativa (dividida em quatro "livros" distintos), porém, não tem início neste reino, mas na já familiar cidade de Ankh-Morpork, onde Teppic, o príncipe herdeiro do trono de Djelebeybi, se prepara para fazer o exame de final de curso da Guilda dos Assassinos - uma passagem que se tornou célebre na série por ser a única, de acordo com o próprio Pratchett, que foi escrita de forma absolutamente espontânea, sem qualquer controlo sobre as personagens ou noção do que se seguiria. 

Entretanto, o pai de Teppic, faraó de Djelebeybi, morre - e o recém-formado assassino e príncipe vê-se obrigado a regressar ao seu reino e assumir o seu papel de Faraó. Tendo vivido e estudado em Ankh-Morpork, Teppic tem naturalmente uma visão do mundo muito diferente daquela dos habitantes do seu reino, terra pouco habituada à mudança e onde o tempo quase parece não passar. Mais importante, porém, é que as sua visão do mundo é a todos os níveis oposta à de Dios, o sumo-sacerdote do reino e, para todos os efeitos, o governante efectivo de Djelebeybi. Contra a vontade do seu falecido pai (como se sabe, os mortos têm alguma dificuldade em comunicar com os vivos, mesmo em Discworld), Teppic acaba por ceder em construir a maior pirâmide da história daquele ancestral reino. O que, para além de lançar um debate muito curioso sobre obras públicas faraónicas (expressão muito adequada ao contexto), vai causar sérios e hilariantes problemas no espaço e no tempo...

Ainda que o seu ritmo narrativo não esteja tão polido como em alguns livros anteriores, Pyramids continua a ser uma leitura extremamente divertida - da o exame dos assassinos em Anhk-Morpork à construção de pirâmides em Djelebeybi, sem esquecer os filósofos de Ephebe e, claro, o mais brilhante matemático do mundo. Quem tiver curiosidade em acompanhar uma enorme melee entre deuses através de um relato desportivo, de conhecer as semelhanças entre um exame para assassino e um exame de  condução, ou de saber como pode um reino inteiro desaparecer por uma questão geométrica, não precisa de procurar mais: as respostas estão todas em Pyramids. E são, todas elas, hilariantes. 

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