25 de novembro de 2012

Fórum Fantástico 2012: Dia 2

E ao segundo dia, a chuva salpicou o Fórum Fantástico 2012. Nada que tenha surpreendido quem esteve presente nas últimas edições da convenção (onde até houve direito a trovoada), ou que tenha feito com que várias dezenas de aficcionados do Fantástico se juntassem na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras.

O dia começou logo pela manhã, com a primeira sessão do Workshop de Escrita Criativa Fantástica do projecto Trëma, em modo mais informal e com três convidados de luxo: Bruno Martins Soares, autor da trilogia de Alex 9; Madalena Santos, autora da saga das Terras de Corza; e João Barreiros, que, enfim, dispensa quaisquer apresentações para quem costuma frequentar o Fórum Fantástico e acompanhar o género em Portugal (e cuja bibliografia na área do Fantástico em Portugal daria para muitos artigos durante muitos dias). Na sua apresentação, Bruno Martins Soares falou sobre os obstáculos à escrita, sobre as "fórmulas" da escrita, os tipos de enredo e a relevância das técnicas de escrita de guionismo. Já Madalena Santos explicou como controlar a narrativa numa saga, partindo do exemplo da sua própria série literária para ilustrar a necessidade de o autor de uma saga pensar no grande plano narrativo sem perder de vista os detalhes e a planificação das várias intrigas. E, claro, sublinhou duas coisas fundamentais para elaborar uma saga: manter a prática noutros projectos, dada uma saga exigir muito tempo e ser, por natureza, um projecto demorado, e fazer uma revisão constante. Para concluir, João Barreiros referiu a importância de escrever devagar, não deixando a velocidade da escrita sobrepor-se ao fluxo de imagens da história, e considerou ser mais relevante a opinião das personagens nas descrições do que a do narrador. Relembrou que na ficção científica, mais visual e emotiva por natureza, o enquadramento (background) é normalmente mais relevante do que as personagens em si. Essa é mesmo uma das características mais marcantes do género e um dos pontos que o distingue da restante literatura. Inevitavelmente, deixou ainda algumas sugestões nas entrelinhas (The Centauri Device, de Michael John Harrison, e Helliconia, de Brian Aldiss). 

A tarde começou com a apresentação de alguns dos mais recentes projectos do Fantástico em Portugal. Na primeira sessão, Rogério Ribeiro (o editor) apresentou a primeira edição da revista Trëma, que reuniu um conjunto de textos muito variados, do conto ao ensaio, da crítica à crónica, e até mesmo uma entrevista muito interessante com o autor Ivor Hartmann, sobre a ficção científica africana. Nos contos, a Trëma apresentou trabalhos originais de Luís Filipe Silva, Carina Portugal, Maria Amaral Ribeiro e Rui Ângelo Araújo; uma crónica do Rogério Ribeiro, uma crítica de Andreia Torres e dois ensaios - um do Artur Coelho e outro da minha autoria (que, aproveito para dizer, é uma versão revista e adaptada do ensaio O Sofisma da Ficção de Género, que publiquei aqui no Andrómeda a 1 de Novembro). 

O segundo projecto apresentado foi a revista Lusitânia, uma publicação dedicada à ficção especulativa centrada em Portugal. O projecto Lusitância conta com uma equipa composta por Carlos Silva, André Pereira, Alexandra Rolo, Anton Stark e Luís Carreto, e nesta primeira edição contou com as colaborações de Raquel Leite, Marcelina Gama Leandro, José Pedro Lopes, Catarina Lima, Pedro Miguel Ribeiro Cipriano, Andreia Silva, Inês Valente, Nuno Almeida e Bruno R.. 

Por fim, a equipa responsável pela organização pela EuroSteamCon no Porto, em Setembro último - Sofia Romualdo, Joana Lima, André Nóbrega e Rogério Ribeiro - fez uma retrospectiva do evento. Esta convenção teve lugar no Edifício Parnaso, nos dias 29 e 30 de Setembro, e contou com vários convidados, cosplay, concursos e com a edição do surpreendente Almanaque Steampunk. Ficou a promessa de nova edição para o ano.

O painel que se seguiu debateu o tema dos "Mitos e Fantasmas na Ficção Nacional", e contou com a presença da jornalista Vanessa Fidalgo, do Correio da Manhã, que a partir de uma investigação jornalística acabou por escrever o livro Histórias de um Portugal Assombrado, com uma recolha de histórias e mitos do sobrenatural de todo o país. No painel participaram ainda David Rebordão, cineasta e autor da célebre curta de terror A Curva, e Cláudio Jordão e Nélson Martins, criadores da não menos célebre curta Conto do Vento, que após ter corrido mundo e vencido vários prémios foi exibida no Fórum Fantástico.

A segunda parte do programa da tarde começou com as já clássicas sugestões de livros - este ano alargadas também para a banda desenhada e para os jogos, contando com a inevitável (e sempre excelente) presença de João Barreiros, de Artur Coelho e deste vosso escriba (que não falava em público desde que deixou de estudar há já alguns anos). Assim que me for possível, e a pedido de várias famílias, dedicarei um artigo às várias sugestões que deixámos naquele painel - tanto aos livros, às bandas desenhadas e aos jogos recomendados, como também às sugestões a" evitar".

No entanto, o que de facto fez encher o auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro foram as duas apresentações literárias que encerraram a tarde. O norte-americano Dan Wells, autor de I'm Not a Serial Killer, Hollow City e Partials, foi um dos convidados especiais desta sétima edição do Fórum Fantástico para apresentar o segundo livro da trilogia de John Cleaver, Mr. Monster (editado em Portugal pela Contraponto), e não desiludiu quem lá esteve para o ver - sempre descontraído e bem disposto, falou sobre a personagem de John Cleaver, a sua trilogia e as suas influências literárias. Houve ainda tempo para destacar os seus outros trabalhos - Hollow City e a sua incursão pela ficção científica com Partials, projecto iniciado este ano.* A apresentação de Dan Wells esteve a cargo de Luís Filipe Silva e de Rogério Ribeiro.

Seguiu-se a apresentação oficial da mais recente antologia da Saída de Emergência: Lisboa no Ano 2000 - Uma Antologia Assombrosa Sobre uma Cidade que Nunca Existiu. Organizada por João Barreiros, que a apresentou com muito humor, esta antologia teve como objectivo juntar num todo coerente histórias alternativas de escritores de ficção científica do início do século XX, mas contadas por autores do presente. Dos vários autores que contribuíram para esta antologia com contos originais estiveram presentes na apresentação Ana C. Nunes, João Ventura, Telmo Marçal e Jorge Palinhos, com outros autores a marcarem presença na sessão de autógrafos. Na apresentação, o editor Luís Corte-Real traçou uma breve história das antologias da Saída de Emergência, e anunciou a próxima - uma sequela à popular antologia dedicada à Pulp Fiction, uma vez mais organizada por Luís Filipe Silva.

Este segundo dia do Fórum fantástico 2012 terminou assim com as duas sessões de autógrafos - e com muita chuva. O programa continuará hoje, no último dia da convenção.

* A apresentação do Dan Wells foi mesmo muito boa. Não me alonguei mais pois nos próximos dias será publicada a entrevista que fiz ao autor, que incluirá mais detalhes sobre a sua obra e carreira literária. 

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