24 de novembro de 2012

Fórum Fantástico 2012: Dia 1

Arrancou ontem o Fórum Fantástico 2012, a sétima edição da convenção anual do Fantástico nas artes em Portugal. E arrancou muito bem, com a apresentação da Worldcon 2014, que se irá realizar em Londres, e os planos que começam a ser preparados para que se possa organizar um grupo de interessados em aproveitar o facto de a convenção se realizar tão perto e viajar até Inglaterra. Na segunda sessão da tarde decorreu a apresentação oficial dos Workshops de Escrita Criativa Fantástica do projecto Trëma, com os organizadores - Rogério Ribeiro e Luís Filipe Silva - e Dan Wells, que de forma descontraída e divertida falou sobre o podcast Writing Excuses e sobre a actividade de escritor, numa pequena amostra daquilo que certamente será a sua participação no workshop de Domingo próximo.

Após um longo e excelente intervalo de confraternização, tiveram lugar os dois grandes painéis da tarde. O primeiro, dedicado à Ilustração Fantástica, contou com a presença de dois grandes talentos da ilustração portuguesa: Luís Melo e Ana Gomes. Luís Melo já quase dispensa apresentações: esteve dois anos em Shangai a trabalhar na extraordinária arte do videojogo Alice: Madness Returns, e já trabalhou em diversos projectos de ilustração, tanto a título individual como em projectos colectivos. Define-se como autodidacta, tal como Ana Gomes, que foi aos poucos e por iniciativa própria dominando a arte da ilustração digital. Com fortes influências na arte de H. R. Giger (celebrizado pela série Alien), gosta especialmente de fundir na sua arte elementos orgânicos e naturais às criaturas que concebe, bebendo também inspiração nas poses e nos trabalhos de autores clássicos (como Caravaggio).

O segundo painel teve como tema "Criar SciFi" e contou com três excelentes convidados: António de Macedo, João Alves e Filipe Homem Fonseca (por motivos pessoais, João Leitão não pode estar presente, conforme previsto). Rogério Ribeiro lançou o tema a propósito da participação de dois dos convidados na Antologia de Ficção Científica do Fantasporto, o que os levou a falar daquilo que os cativou e inspirou no Fantástico. António de Macedo, no seu estilo pessoal e sempre cativante, sublinhou o seu fascínio por um Fantástico mais abrangente, e sobretudo a uma certa ideia de um Fantástico ibérico. O primeiro conto que escreveu, relembra, foi aos 12 anos, influenciado pelo seu extraordinário professor de Físico-Química no liceu, Rómulo de Carvalho - que, veio a saber mais tarde, era também o poeta António Gedeão. Inspirado por aquilo que aprendera, começou a explorar a ficção científica literária - e se Júlio Verne o desiludiu, a descoberta de H. G. Wells significou "a descoberta da verdadeira ficção científica". Filipe Homem Fonseca referiu-se à ficção científica como "um bom suporte para dissecar o que é ser humano", ao permitir criar situações limite e explorar as personagens através delas. Não considera fundamental a precisão científica no género, sobretudo numa época em que o domínio da fé se manifesta igualmente na ciência e na religião e quando aquilo que num passado não muito distante pertencia ao domínio da ficção científica é hoje real e está provado. Sobre a sua descoberta do género, referiu o seu desejo de aprender a ler, em criança, para conseguir ler as histórias que as imagens dos comics contavam, e considera-se afortunado por crescer numa época em que eram feitas bandas desenhadas de qualidade superlativa (referiu o Daredevil de Frank Miller e a narrativa final de Captain Marvel) e editadas grandes obras da ficção científica - às quais tinha acesso. 

Já João Alves falou sobre o seu mais recente projecto, Inhuman - um projecto de ficção científica espacial que tem vindo a crescer, e cuja forma final ainda não está completamente definida - será uma obra de animação em 3D, um terreno que só há pouco tempo começou a explorar, mas que pretende dominar para desenvolver este trabalho - seja em formato de curta, seja num projecto de longa duração. 

Para concluir o dia, foi exibida a curta Bats in the Belfry (Morcegos no Campanário), com a qual João Alves venceu a edição de 2010 do MOTELx na categoria de "Melhor Curta".

Hoje, o dia começará cedo, com a primeira edição do Workshop de Escrita Criativa Fantástica do projecto Trëma, e com um dia repleto de apresentações, estreias e painéis. Da minha parte, poderão contar comigo às 17:00 (mais coisa menos coisa), juntamente com Artur Coelho e João Barreiros, a deixar algumas sugestões de livros, bandas desenhadas e jogos. 

Nota#1: É com muita pena minha que não tenho fotografias, mas assim que apareçam algumas na Internet serão feitas as obrigatórias hiperligações.

Nota#2: Uma das coisas mais interessantes das convenções é o contacto com várias pessoas que partilham um interesse comum - no caso, o Fantástico. Nesse sentido, foi um prazer estar à conversa com o Nuno Reis, do SciFiWorld Portugal, apesar do pouco nexo nas minhas palavras (falta de descanso e de café). 

Sem comentários: