17 de setembro de 2012

The Walking Dead: Análise da primeira temporada (1)

Com a terceira temporada de The Walking Dead a começar daqui a um mês (17 de Outubro, na Fox), parece-me ser uma boa altura para fazer uma breve análise e retrospectiva às duas primeiras temporadas e a alguns episódios da série que se atreveu a levar zombies para o horário nobre televisivo. Comecemos hoje pela primeira temporada, estreada em Novembro de 2010 (aviso: Spoilers).

Quem, em 2010, já conhecia a banda desenhada The Walking Dead, de Robert Kirkman, não terá sido surpreendido pelo anúncio de que a AMC iria adaptar o conceito para um série televisiva - a história de Rick Grimes e do grupo de sobreviventes num mundo dominado por zombies é perfeito para uma produção televisiva de qualidade. À época, não conhecia a banda desenhada (que hoje colecciono), mas não consegui evitar a estranheza quando vi os anúncios na FOX (que transmite a série em Portugal): uma série de zombies? E em horário nobre? A própria AMC pareceu ter algumas reservas quanto ao projecto: a curta duração primeira temporada, com seis episódios apenas, parece ser prova disso. O que não é de estranhar: tudo o que se aproxime da ficção científica ou dos comics é normalmente empurrado para um nicho, e os números que esse nicho alcança nem sempre se revelam suficientes para manter a série a correr.

Felizmente, bastaram estes seis episódios para The Walking Dead se afirmar como uma das séries do momento, um supreendente sucesso de audiências que cativou tanto os fãs do género como telespectadores que, passe a expressão, dificilmente se aproximariam de zombies. O que não acontece por acaso. Na introdução do primeiro álbum da BD, Kirkman diz:
(...) So, if anything scares you... great, but this is not a horror book. And by that, I do not mean we think we're above the genre. Far from it, we're just setting out on a different path here. This book is more about watching Rick survive than it is about watching zombies pop around the corner and scare you. (...)
Apesar das diferenças, a série televisiva absorveu esta ideia de Robert Kirkman na perfeição, e diria que é a esse motivo que se deve o seu sucesso. The Walking Dead não pretende ser uma série de terror, mas de sobrevivência - e, como tal, o centro da narrativa é Rick, os esforços que ele faz para sobreviver, e a forma como ele e o grupo se vêem obrigados a sobreviver num mundo destruído onde nada voltará a ser como antes. Os zombies não são o elemento principal da história, mas o seu plot device - são eles quem desafia e ameaça permanentemente o grupo, e se as cenas clássicas de zombies (ataques, mortes, etc) são incontornavies, e mesmo bem-vindas, elas jamais serão o ponto. São um meio, nunca um fim. Sim, é excelente ver os ataques de zombies, e a caracterização está absolutamente formidável, merecedora de todos os prémios de que se lembrem. No entanto, a série não vive dos zombies, mas das suas personagens. Claro que, sendo o elenco vasto, nem todas as personagens secundárias ganham o destaque devido - e se algumas, como Daryl, Glenn, Dale e Andrea, têm espaço para brilhar, já outras, como Carol e sobretudo T-Dog, pouco brilham nesta primeira temporada.

O que é interessante notar é como em apenas seis episódios esta primeira temporada conseguiu pegar na narrativa de Kirkman e dar-lhe vida própria sem se limitar a segui-la vinheta a vinheta. Há vários momentos originais na série que é uma pena não estarem no livro, pois resultam muito bem no pequeno ecrã (Daryl, a cena do tanque no primeiro episódio, a despedida de Andrea e de Amy no início do quinto episódio, a passagem do CDC no último episódio); já o clímax do primeiro álbum passou para o final da segunda temporada - opção que julgo acertada. Estas - e outras - introduções conseguem em simultâneo dar mais densidade à série para quem não conhece a banda desenhada, e acrescentar algumas novidades para quem está já familiarizado com as personagens. 

É certo que The Walking Dead não está isenta de falhas - de personagens pouco desenvolvidas (e são bem menos do que na banda desenhada) a alguns problemas de ritmo narrativo, a série apresenta vários aspectos passíveis de ser melhorados. Mas com a sua forte componente dramática e, claro, com zombies absolutamente espetaculares, The Walking Dead destaca-se das restantes séries televisivas da actualidade. É extraordinário que um projecto desta natureza tenha avançado - e, acima de tudo, com a qualidade apresentada. 8.5/10

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