18 de setembro de 2012

A ficção científica e o cinema: The Terminator

Apesar de o seu momento de glória - em termos de prémios - ter ocorrido com Titanic em 1997, James Cameron é associado com frequência à ficção científica - sobretudo a uma ficção científica mais orientada para a acção. Com Aliens, em 1986, realizou uma excelente sequela a Alien de Ridley Scott; no entanto, começou o seu percurso na ficção científica dois anos antes, em 1984, com o original e hoje clássico The Terminator

Feito à medida de Arnold Schwarzeneggee, The Terminator aborda o tema das viagens no tempo com o enquadramento do presente da narrativa a situar-se não no seu passado, mas num 2029 pós-apocalíptico ainda por concretizar. Em 1997, a rede de inteligência artificial Skynet, utilizada para o controlo dos sistemas de defesa dos Estados Unidos, ganhou consciência e desencadeou um holocausto nuclear, colocando a Humanidade à beira da extinção. Sob a liderança de John Connor, os sobreviventes formaram um movimento de resistência e desencadearam uma guerra contra as máquinas da Skynet, até ao ponto em que conseguiram destruir as suas defesas. Em desespero, a Skynet decide enviar para 1984 o cyborg T-800 (Arnold Schwarzenegger), um Exterminador com um único objectivo: eliminar Sarah Connor (Linda Hamilton), mãe do líder da resistência, John Connor, antes mesmo de ele nascer - impedindo assim que ele lidere o movimento de resistência. Como resposta, a Resistência envia para o passado um soldado, Kyle Reese (Michael Biehn), determinado a impedir que o Exterminador cumpra a sua missão.

Um dos aspectos interessantes deste filme é notar a abordagem “circular” de James Cameron ao tema das viagens no tempo, em parte idêntica na sua essência às abordagens de Chris Marker em La Jetée, de Terry Gilliam em Twelve Monkeys (ou, na literatura, à abordagem de Robert A. Heinlein em Time Enough for Love). Afastando-se do conceito clássico de paradoxo, Cameron opta por uma narrativa na qual todos os acontecimentos presentes e futuros estão interligados, independentemente do seu momento cronológico. Assim, John Connor só nasce devido à viagem no tempo efectuada pelo Exterminador para matar a sua mãe, Sarah Connor; da mesma forma, o breakthrough da Cyberdyne Corporation para a Skynet dá-se devido à tecnologia do Exterminador destruído no processo. No entanto, e este é o ponto interessante, o plano da Skynet assenta todo ele na assumpção de que a noção de paradoxo é válida, partindo do princípio que a eliminação de Sarah Connor no passado assegura a neutralização de John Connor no futuro. Dito de outra forma: a noção de paradoxo é imperativa para a anulação da própria noção de paradoxo - ou seja, é a própria Skynet quem, de forma indirecta, “cria” John Connor ao tentar prevenir que ele se torne no líder capaz de a destruir. 

Se do ponto de vista narrativo The Terminator se revela denso e estimulante, que se pode dizer da acção? Pouco mais do que isto: é excelente, e só será superada pela sua própria sequela em Terminator 2: Judgement Day. Pode-se questionar as qualidades de Arnold Scharzenegger enquanto actor, mas importa reconhecer que, no papel do Exterminador, está perfeito - lacónico, intimidante e brutal, capaz de destruir tudo aquilo que esteja entre si e o seu alvo. I'll be back, diz ele para a história do cinema, momentos antes de arrasar uma esquadra de polícia inteira. Memorável.

Hoje, The Terminator apenas parecerá datado nos penteados e no guarda-roupa - e quanto a esses, mais dia menos dia serão moda novamente. Sombrio, intenso e violento q.b., The Terminator marcou de forma indelével a acção na ficção científica, que a sua sequela viria a aperfeiçoar a um patamar que ainda hoje permanece entre o que de melhor se fez no género. 8.6/10

6 comentários:

Bráulio disse...

É curioso que o Cameron queria o Schwarzenegger para o papel de Reese, sendo que este insistiu para lhe ser dado o de vilão.
Não fosse a insistência do austríaco e teríamos corrido o risco de nunca ter sido feito um T2. :)

Rita Santos disse...

O Michael Biehn entrou em tantos BONS filmes que fico doida só de pensar como ele é underrated. Já para não dizer que naqueles velhos tempos era o típico borracho dos 80's.

João Campos disse...

Bráulio, o Schwarzenegger no papel de Reese seria uma galhofa pegada... ainda bem que o homem teve juízo suficiente para perceber o papel que lhe assentava - e, mais importante, para fazer o James Cameron perceber..!

João Campos disse...

Rita, por acaso não me lembro de mais nenhum filme com ele.

Bráulio disse...

João, vais me dizer que não te lembras do Biehn no Aliens? :P

João Campos disse...

Agora já me lembro, lol.