14 de setembro de 2012

Ender's Game

Há dias, o portal io9 publicou um top12 das melhores histórias de guerra na ficção científica. Apesar de algumas surpresas, os livros que ocupam os três primeiros lugares da lista são já clássicos nestas andanças, sendo com frequências considerados as obras mais relevantes dentro deste tema da ficção científica: Starship Troopers, de Robert A. Heinlein, The Forever War, de Joe Haldeman, e Ender’s Game, de Orson Scott Card. As três obras têm uma premissa comum - a Humanidade encontra-se em guerra com uma raça alienígena que, se não for travada, poderá implicar a aniquilação da raça humana. No entanto, os três autores recorreram à mesma premissa para contarem histórias radicalmente diferentes. Starship Troopers centra-se no processo de recruta e em questões tácticas, estratégicas e sociais (passe a simplificação), enquanto The Forever War reflecte sobre a loucura e a alienação da guerra utilizando a dilatação temporal como plot device. Já Ender’s Game incide sobre o treino intensivo, desde a infância, dos futuros comandantes das frotas espaciais da Terra, e nas consequências dessa educação, através de uma personagem tão ambígua como fascinante: Andrew “Ender” Wiggin.

No futuro onde a narrativa tem lugar, a Terra vive na sombra das duas guerras travadas contra uma raça alienígena designada por “Formics” mas vulgarmente conhecida por “buggers”, devido à sua aparência e modelo social idêntico ao dos insectos. Apesar das divisões políticas que existem, a Humanidade tem uma presença militar espacial unificada na "International Fleet" (IF). Saída de uma vitória graças ao lendário Mazer Rackham, que comandou a frota da IF na Segunda Guerra, a IF procura um novo líder capaz de comandar as frotas numa derradeira guerra com os alienígenas - e para esse fim, monitorizam as crianças à procura de potenciais líderes, que serão treinados na "Battle School" e, mais tarde, na "Command School".

Andrew “Ender” Wiggin vive sob o estigma de ser um “Terceiro”, ou seja, um terceiro filho numa sociedade onde apenas são permitidas duas crianças por casal. É uma criança a todos os níveis brilhante, com uma forte ligação afectiva à sua irmã Valentine a compensar o terror que o seu irmão Peter lhe provoca. Devido a um incidente na escola após a remoção do dispositivo de monitorização, Ender acaba por ser seleccionado para a “Battle School”, devido à crença do Coronel Graff de que ele se revelará o comandante que salvará a Humanidade.

O conto original que Orson Scott Card expandiu para criar Ender’s Game parte deste ponto e explora o treino intensivo de Ender na “Battle School”, as relações de amizade, inimizade e rivalidade que estabelece com as outras crianças, o seu amadurecimento forçado e precoce em condições brutais e a genialidade táctica que revela, mesmo perante as maiores adversidades (e as menores probabilidades de sucesso). Ender, como referi, é uma personagem fascinante na sua ambiguidade. A sua resistência ao “molde” que lhe está a ser imposto através da formação militar - do qual tem plena consciência - é visível, e as suas ambições modestas e pacíficas estão em conflito permanente contra o ambiente que o rodeia - primeiro em casa, com Peter, e mais tarde na escola, com as restantes crianças e com o próprio jogo. Esse jogo, pilar fundamental da formação militar na “Battle School”, consiste em simulações de batalhas tácticas competitivas em gravidade zero, com equipas (pelotões) de crianças organizadas entre si em hierarquias militares rigidamente definidas. Na expansão da narrativa, Card incluiu não só o enquadramento de Ender, como também as narrativas laterais de Valentine e Peter na Terra, e a ascensão que, à sua maneira muito própria, também conheceram.

O génio de Ender e as relações que estabelece são o motor de uma narrativa que se desenvolve a um ritmo extraordinariamente rápido (foi das mais rápidas leituras que fiz nos últimos anos), e os twists finais são surpreendentes (pelo menos para mim foram). Ainda que seja considerado um livro destinado sobretudo a um público mais juvenil, diria que Ender’s Game é uma leitura cativante para qualquer idade, devido ao forte protagonista, ao ritmo elevado e às reflexões que suscita.

Entretanto, Orson Scott Card alargou o mundo de Ender com várias sequelas, prequelas e histórias paralelas. E em 2013, estreará a adaptação cinematográfica de Ender’s Game, realizada por Gavin Hood (com Orson Scott Card como produtor), e com um elenco composto por Asa Butterfield, Harrison Ford, Ben Kingsley, Viola Davis, Hailee Steinfeld e Abigail Breslin, entre outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente a estreia do filme para o ano que vem ficou tremida com a insolvência da Digital Domain que trabalhava nos efeitos especiais. A produtora solicitou aos liquidatários que vendem os contratos deles em pack para que fique assegurado que o trabalho ainda em falta decorre dentro do agendado inicialmente.

João Campos disse...

Más notícias, sem dúvida. Estou com algumas expectativas quanto ao filme - esperemos que a coisa se resolva pelo melhor.

Obrigado!