28 de agosto de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: La Jetée

Há pouco tempo tive a oportunidade de assistir, no grande ecrã, ao extraordinário La Jetée, filme curto de Chris Marker (1962) que usa o tema das viagens no tempo para contar a história do homem que, em criança, assistiu a uma morte que apenas no seu último suspiro soube ser a sua. La Jetée é, com toda a justiça, considerado um marco na ficção científica cinemaográfica, com 28 minutos de narração sobre imagens estáticas (com uma única excepção) que dão de facto a ilusão de movimento e de acção de uma forma tão invulgar como fascinante. 

La Jetée curta obra aborda o tema das viagens no tempo de uma forma muito interessante: numa Paris devastada, com a Humanidade - ou o que restou dela - refugiada no subsolo, um homem anónimo (Davos Hanich) é escolhido para "cobaia" da tecnologia experimental de viagens no tempo, com o objectivo de ir ao passado e ao futuro para pedir ajuda para o presente. Este homem é escolhido devido à sua forte ligação emocional com o passado, do qual tem uma memória muito nítida: a imagem de uma mulher que vira num aeroporto momentos antes de assistir à morte de um homem. As suas viagens no tempo acabam por levá-lo até àquele tempo, onde conhece a mulher do aeroporto e estabelece uma ligação emocional com ela. Eventualmente, acaba por encontrar a salvação para o seu tempo; contudo, num último regresso ao tempo da mulher que amava, percebe que o homem que na sua infância vira a ser morto era, afinal, ele mesmo. 

La Jetée fica na memória não só pela sua extraordinária premissa, mas também - e, diria, sobretudo - pelo seu estilo invulgar, baseado numa narração irrepreensível acompanhada por uma sucessão de imagens estáticas, igualmente evocativas e perturbadoras, com uma montagem inteligente que transporta o espectador para aquela narrativa. Não precisa de usar efeitos especiais para dar densidade ao enredo e mostrar movimento - tudo isso está lá, e é curioso ver como continua hoje, cinquenta anos volvidos, a ser fascinante. Para um filme de apenas 28 minutos, deixou um vasto legado na ficção científica e tornou-se numa referência incontornável do melhor que o género já apresentou no grande ecrã. 9.5/10

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