Quem costuma acompanhar este blogue sabe que sou um browncoat irredutível - e, como tal, não poderia deixar de escrever um pouco sobre Serenity (2004), filme de Joss Whedon (que entretanto ascendeu ao estatuto de top director com o excelente The Avengers) que procurou dar um final mais ou menos coerente à inacabada série televisiva Firefly.
É sabido que os filmes baseados em - ou no seguimento de - séries televisivas tendem, na prática, a ser pouco mais do que um grande episódio da série, preparado para ser visto no grande ecrã. Serenity não é excepção - para todos os efeitos, é de facto um grande episódio de Firefly, escrito como um filme. Interessante é notar como Whedon conseguiu passar para um meio diferente tudo aquilo que fez de Firefly uma série de culto: uma componente visual sólida com alguns detalhes muito interessantes pelo seu realismo, um enredo interessante com reviravoltas bem construídas, um guião muito bem escrito (seguindo a fórmula convencional e eficaz que popularizou Whedon, ritmada e repleta de humor) e, acima de tudo, um elenco formidável, com uma "química" perfeita. O que não é de estranhar quando todos os actores principais da série interpretaram os seus papéis no filme.
Não podendo fechar todas as narrativas abertas na série, o enredo centra-se na história de River (Summer Glau), a misteriosa rapariga "raptada" pelo seu irmão, Simon (Sean Maher), e "escondida" na nave Serenity. Não se sabe ao certo por que motivo a Alliance - o governo totalitário do sector - prendeu River e a submeteu a experiências tão misteriosas como traumáticas, mas quando as autoridades enviam um agente especial para a eliminar, devido à informação contida na mente dela, a tripulação da Serenity vê-se envolvida numa conspiração que envolve a origem dos Reavers (bárbaros sanguinários que vivem na orla do sistema) e um segredo muito bem guardado. Serenity leva assim Firefly para a sua conclusão lógica - e independentemente das pontas soltas que sobraram (e cuja introdução no filme seria impossível) de de alguns saltos narrativos entre os últimos episódios da série e o filme, pode-se dizer que o resultado foi muito bem sucedido.
Em jeito de conclusão, Serenity demonstra o enorme potencial de uma série televisiva cancelada muito antes de ter a oportunidade de se afirmar - mas que mesmo assim perdurou no imaginário da ficção científica da última década. As (poucas) fraquezas que o filme exibe são largamente compensadas pela solidez do seu enredo, pelo elenco extraordinário e por uma componente visual simples e eficaz - provando (se tal fosse ainda necessário provar) que um bom filme de ficção científica é muito mais do que os seus efeitos especiais. Numa década com muito poucos filmes a destacarem-se no género, Serenity figura sem dúvida entre os melhores. 8/10
2 comentários:
“I aim to misbehave”
Gostar deste universo implica sentir uma espécie de angústia que nos mói, porque sabemos que esta série tinha tanto, mas tanto mais para dar…
Como já explicaste, é o caso mais flagrante de um produto excelente, vítima de condicionantes exteriores.
No entanto, podemos ter poucos episódios e apenas um filme, mas eles valem por muitos, porque os podemos rever e rever, sempre com o mesmo interesse e descobrindo coisas novas.
Agora estou pensando em comprar a BD, sempre completa um pouco mais a história e pelo que já vi, o aspecto gráfico é bastante cativante.
Valem mesmo por muitos. Eu tenho andado a rever a série (qualquer dia escrevo um artigo sobre cada episódio).
Quando leres a BD, diz como é. Neste momento não posso, pois estou a coleccionar The Walking Dead (e a banda desenhada é cara, pelo que tem de se ir comprando aos poucos), mas também tenho alguma curiosidade.
Enviar um comentário