31 de julho de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: Serenity

Quem costuma acompanhar este blogue sabe que sou um browncoat irredutível - e, como tal, não poderia deixar de escrever um pouco sobre Serenity (2004), filme de Joss Whedon (que entretanto ascendeu ao estatuto de top director com o excelente The Avengers) que procurou dar um final mais ou menos coerente à inacabada série televisiva Firefly

É sabido que os filmes baseados em - ou no seguimento de - séries televisivas tendem, na prática, a ser pouco mais do que um grande episódio da série, preparado para ser visto no grande ecrã. Serenity não é excepção - para todos os efeitos, é de facto um grande episódio de Firefly, escrito como um filme. Interessante é notar como Whedon conseguiu passar para um meio diferente tudo aquilo que fez de Firefly uma série de culto: uma componente visual sólida com alguns detalhes muito interessantes pelo seu realismo, um enredo interessante com reviravoltas bem construídas, um guião muito bem escrito (seguindo a fórmula convencional e eficaz que popularizou Whedon, ritmada e repleta de humor) e, acima de tudo, um elenco formidável, com uma "química" perfeita. O que não é de estranhar quando todos os actores principais da série interpretaram os seus papéis no filme. 

Não podendo fechar todas as narrativas abertas na série, o enredo centra-se na história de River (Summer Glau), a misteriosa rapariga "raptada" pelo seu irmão, Simon (Sean Maher), e "escondida" na nave Serenity. Não se sabe ao certo por que motivo a Alliance - o governo totalitário do sector - prendeu River e a submeteu a experiências tão misteriosas como traumáticas, mas quando as autoridades enviam um agente especial para a eliminar, devido à informação contida na mente dela, a tripulação da Serenity vê-se envolvida numa conspiração que envolve a origem dos Reavers (bárbaros sanguinários que vivem na orla do sistema) e um segredo muito bem guardado. Serenity leva assim Firefly para a sua conclusão lógica - e independentemente das pontas soltas que sobraram (e cuja introdução no filme seria impossível) de de alguns saltos narrativos entre os últimos episódios da série e o filme, pode-se dizer que o resultado foi muito bem sucedido.

Em jeito de conclusão, Serenity demonstra o enorme potencial de uma série televisiva cancelada muito antes de ter a oportunidade de se afirmar - mas que mesmo assim perdurou no imaginário da ficção científica da última década. As (poucas) fraquezas que o filme exibe são largamente compensadas pela solidez do seu enredo, pelo elenco extraordinário e por uma componente visual simples e eficaz - provando (se tal fosse ainda necessário provar) que um bom filme de ficção científica é muito mais do que os seus efeitos especiais. Numa década com muito poucos filmes a destacarem-se no género, Serenity figura sem dúvida entre os melhores. 8/10

2 comentários:

Rony disse...

“I aim to misbehave”

Gostar deste universo implica sentir uma espécie de angústia que nos mói, porque sabemos que esta série tinha tanto, mas tanto mais para dar…
Como já explicaste, é o caso mais flagrante de um produto excelente, vítima de condicionantes exteriores.
No entanto, podemos ter poucos episódios e apenas um filme, mas eles valem por muitos, porque os podemos rever e rever, sempre com o mesmo interesse e descobrindo coisas novas.
Agora estou pensando em comprar a BD, sempre completa um pouco mais a história e pelo que já vi, o aspecto gráfico é bastante cativante.

joão campos disse...

Valem mesmo por muitos. Eu tenho andado a rever a série (qualquer dia escrevo um artigo sobre cada episódio).

Quando leres a BD, diz como é. Neste momento não posso, pois estou a coleccionar The Walking Dead (e a banda desenhada é cara, pelo que tem de se ir comprando aos poucos), mas também tenho alguma curiosidade.