Descobri Mass Effect mais ou menos por acaso já perto do final do ano passado. Alguns amigos andavam a falar-me do segundo título da série há alguns meses, mas apesar de a ideia de um jogo de role-play passado num futuro de ficção científica ser bastante atractiva, a curiosidade não foi suficiente para procurar activamente o jogo - e, verdade seja dita, não sou apreciador do Steam como alternativa para adquirir videojogos. Um dia, contudo, ao passar na Fnac encontrei os dois primeiros títulos da série - Mass Effect e Mass Effect 2 - por um preço irrecusável, e não resisti: comprei os dois. Após cinco minutos de jogo, percebi que os meus amigos tinham razão: tinha nas mãos um videojogo extraordinário.
Mesmo considerando os problemas com o final do último capítulo da série, Mass Effect tem lugar garantido entre os melhores videojogos de ficção científica. A narrativa acompanha o/a Comandante Shepard (considerando a minha experiência de jogo, doravante será "a" Comandante Shepard) na sua missão de salvar a Via Láctea do perigo iminente dos Reapers - uma raça antiga de máquinas que, a cada cinquenta mil anos, extingue as civilizações mais avançadas da galáxia. Mass Effect reúne vários elementos clássicos de role play, como o sistema de quests (divididas entre principais e secundárias) que fazem a narrativa progredir, mas acrescenta uma óptima componente de acção e introduz-lhe um grau de escolha raro nos videojogos, e que se traduz numa experiência única para cada jogador. Dependendo das escolhas que são feitas, Shepard pode ser uma Marine, uma franco-atiradora ou outra das "classes" disponíveis, e pode assumir o personalidade clássica de heroína (Paragon) ou revelar uma faceta mais sombria (Renegade). As escolhas determinam a forma como a protagonista interage com as restantes personagens, introduzem diversidade nas várias missões e, ainda que a narrativa principal seja fundamentalmente linear, o jogador pode determinar a forma como ela se desenrola, através das suas decisões e das personagens que escolhe para executar cada missão (que, por sua vez, interagem de forma diferente com os vários elementos).
As personagens são, também elas, um dos elementos mais fortes de Mass Effect. Suportadas por um voice acting muito sólido, elas dão textura e profundidade à narrativa, enriquecendo todo aquele mundo com a sua diversidade (sobretudo com as várias possibilidades de romance). Inicialmente, a tripulação da Normandy - a nave de Shepard - é composta exclusivamente por humanos, mas várias raças alienígenas acabam por se juntar à missão: Asari, Quarians, Turians e Krogans (no primeiro título; no segundo, há também um Salarian, um Drell e um Geth) aliam-se a Shepard, indicando que a sua missão não pretende apenas salvar a raça humana, mas todas as raças que compõem a grande civilização galáctica. No geral, as personagens são todas bastante sólidas, cada uma com a sua própria história e visão do universo - e contribuem para alguns momentos inesquecíveis (aqui, destaco Wrex e Tali).
Mass Effect é um jogo ao qual invariavelmente se regressa. Há várias classes para experimentar, várias personalidades a escolher, pequenos momentos que merecem ser vistos e revistos, e inúmeras combinações de personagens e missões que introduzem sempre uma novidade à experiência já conhecida. E é, acima de tudo, um triunfo na arte de contar uma história através de videojogos, com um nível de interactividade ímpar que realmente coloca o jogador numa galáxia na iminência da guerra definitiva. Em Mass Effect encontramos, sem sombra de dúvida, um dos melhores exemplos - se não mesmo o melhor exemplo - de ficção científica jogável, com inúmeras influências a espreitar aqui e ali, mas sempre com uma personalidade muito própria. Não sei se existem "videojogos essenciais" - mas a existirem, este é um deles. Para fãs de ficção científica e não só.
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