Pela segunda vez em quatro anos, George R. R. Martin, autor de aclamada série A Song of Ice and Fire, esteve em Portugal. O que é extraordinário, se considerarmos o enorme sucesso que os seus livros têm conhecido, e o furor gerado pela adaptação televisiva da HBO. No passado dia 18 de Abril, o autor norte-americano esteve em Lisboa, a convite da editora Saída de Emergência, para a apresentação do livro O Cavaleiro de Westeros e Outras Histórias, uma antologia com alguns dos seus melhores contos de ficção científica e horror, e com a tradução do conto The Hedge Knight, a primeira das histórias de "Dunk & Egg".
A apresentação decorreu num Teatro Villaret completamente lotado, com todos os lugares ocupados e imensas pessoas de pé a assistir. George R. R. Martin foi recebido com uma tremenda ovação da plateia - a prova definitiva do entusiasmo que os seus livros e a série geram entre pessoas de todas as idades.
A sessão foi conduzida por Safaa Dib e pelo editor Luís Corte Real, da Saída de Emergência. Martin falou do livro O Cavaleiro de Westeros e Outras Histórias, que consiste na adaptação portuguesa das antologias GRRM: A Rretrospective e Dreamsongs, e fez uma breve descrição sobre os vários contos que compõem o livro e respectivas influências, sempre com muito humor (a história do colega de quarto que tinha um aquário com piranhas que alimentava com peixinhos dourados foi hilariante). Naturalmente, o conto O Cavaleiro de Westeros teve destaque, sendo a primeira história das personagens Dunk e Egg, que viveram em Westeros cerca de cem anos antes dos acontecimentos da série A Song of Ice and Fire. Existem já três contos escritos, com um quarto em produção e com publicação prevista na antologia Dangerous Women [com o título provisório The She-Wolves of Winterfell].
"Gosto de escrever coisas diferentes. Adoro ficção científica, adoro horror." As palavras são do próprio autor, e a antologia publicada reflecte esta paixão, e reflecte as suas influências principais, desde Robert A. Heinlein (Have Space Suit - Will Travel foi o primeiro livro que leu) a Jack Vance ("o melhor escritor de ficção científica vivo"), sem esquecer, naturalmente, J. R. R. Tolkien. Os seus contos já lhe valeram bastantes prémios internacionais na área do Fantástico (entre os quais alguns Hugo Awards).
De qualquer forma, o público que actualmente acompanha o autor segue sobretudo a densa história de Starks, Lannisters, Targaryens e outros - e George R. R. Martin falou longamente sobre A Song of Ice and Fire, e sobre o fenómeno mundial que a série constitui actualmente. O autor assume alguma surpresa sobre a dimensão do fenómeno, com uma comunidade de fãs que, apesar da pequena minoria de "trolls" (nas palavras do próprio, "é o mundo moderno da Internet"), se tem revelado bastante leal e dedicada. A escrita dos livros teve já os seus problemas, sobretudo após a publicação de A Storm of Swords, em 2000 - a ideia do autor era dar um salto narrativo de cinco anos, para que algumas personagens pudessem "crescer". Essa ideia, contudo, não resultou como o previsto, pois "o que funciona bem para uma personagem não funciona para outra". O que acabou por se traduzir em bastante tempo de trabalho perdido.
Actualmente, A Song of Ice and Fire conta já com cinco volumes - e estão previstos mais dois para concluir a série. A adaptação televisiva da HBO - Guerra dos Tronos, que estreia no dia 23 em Portugal, no canal SyFy - vai já na segunda temporada. Entre os fãs, há o receio de que a série televisiva acabe por eventualmente "ultrapassar" a literária, mas Martin parece não partilhar esse receio. O seu método é simples: "não penso na pirâmide completa, mas apenas na primeira pedra. E depois na próxima". E mantém-se optimista quanto aos próximos volumes. "Espero acabar os livros antes da conclusão da série", afirma. "Mas não faço promessas", disse, recordando os sucessivos adiamentos que a publicação dos dois últimos livros conheceram. Na série televisiva, George R. R. Martin é um dos produtores executivos, e escreve o guião de um episódio por temporada. "Também dou as minha opinião sobre o elenco, mas a série não é minha", sublinhou.
À apresentação seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas por parte da audiência - que foi excelente; escrevei sobre essa parte amanhã - e a sessão de autógrafos, que demorou mais de duas horas e meia. Houve quem se queixasse da organização, mas sejamos francos: organizar uma sessão de autógrafos com mais de 500 pessoas é sempre uma confusão. Pessoalmente, não encontro motivos de queixa: quem estava de pé despachou-se primeiro, e quem tinha lugar sentado aguardou confortavelmente - e, em alguns casos, ansiosamente - pela sua vez.
Nota: As fotografias presentes neste artigo foram gentilmente cedidas pela Saída de Emergência, incansável na organização desta apresentação. Aos responsáveis, os meus agradecimentos.
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