20 de abril de 2012

A Game of Thrones

A Game of Thrones (A Guerra dos Tronos, na edição portuguesa da Saída de Emergência), publicado em 1996, é a primeira parte da série A Song of Ice and Fire,  de George R. R. Martin. A série conta já com cinco livros publicados: A Clash of Kings (1998), A Storm of Swords (2000), A Feast For Crows (2005) e A Dance With Dragons (2011). Estão previstos mais dois livros para completar a série, The Winds of Winter e A Dream of Spring, apesar de ser impossível fazer qualquer previsão sobre a conclusão e publicação das duas últimas sequelas. Dentro da literatura de fantasia, há muito quem considere A Song of Ice and Fire a melhor série do género desde que Bilbo encontrou o Anel e Frodo teve de resolver o problema. Talvez não seja a melhor série literária do género deste Tolkien - o britânico Philip Pullman, com a trilogia His Dark Materials, é sempre um sério candidato ao segundo lugar -, mas não fica decerto longe disso, e conseguiu refrescar um género que, ao longo dos anos, usou e abusou das ideias do velho professor inglês.

A verdade é que A Game of Thrones aproxima-se muito mais da nossa História medieval do que das narrativas de fantasia convencionais. George Martin assume ter retirado bastantes ideias de episódios históricos como, entre outros, a Guerra das Rosas. Os elementos do fantástico estão presentes, e tornam-se cada vez mais relevantes à medida que a série avança, mas a intriga e os conflitos entre as várias casas nobres e facções políticas e militares do mundo ficcional dos Sete Reinos de Westeros constituem o verdadeiro motor de toda a história, à medida que os apoiantes das grandes casas Stark, Baratheon, Arryn, Tully, Lannister, Tyrell e Martell (e outros, tantos outros), sem esquecer os despojados herdeiros dos Targaryens, se embrenham nas malhas da intriga da capital do reino. E, acrescente-se de passagem, que intriga!

A estrutura narrativa é outro dos pontos fortes de A Game of Thrones, com a estrutura por capítulos a abdicar dos narradores de primeira ou terceira pessoa convencionais. Cada capítulo do livro tem como título o nome de uma personagem, e é narrado de acordo com o ponto de vista dessa personagem. Esta estrutura pode parecer estranha ao início, mas revela-se surpreendentemente dinâmica à medida que a história progride, dando protagonismo a vários personagens em localizações distantes. Sem esquecer, claro, que diferentes personagens encaram as situações de formas distintas, e também isso é visível ao longo da narrativa.

Em resumo, A Game of Thrones (e o resto da série) é uma leitura cativante, que certamente não decepcionará quem gostar de uma boa história muito bem contada. Deixo contudo o aviso: George Martin parece retirar particular satisfação de quebrar convenções, e a noção de "plot armor" é praticamente inexistente na sua obra. Dito de outra forma, e em jeito de advertência a potenciais leitores: não se afeiçoem demasiado às personagens, mesmo que (aparentemente) elas sejam protagonistas. É bastante provável que venham a ter alguns dissabores (que, na minha opinião, só melhoram a leitura).

Para os aficcionados - e também para quem aprecia bons contos - fica também a recomendação para uma série de contos no mundo de A Song of Ice and Fire publicados por George R. R. Martin ao longo dos anos. Estes contos, conhecidos de forma mais ou menos informal como The Tales of Dunk and Egg, passam-se cerca de 90 anos antes dos acontecimentos de A Game of Thrones, quando Westeros ainda era governado pela dinastia Targaryen. Até ao momento foram publicados três contos: The Hedge Knight, The Sworn Sword e The Mistery Knight. The Hedge Knight foi publicado originalmente na antologia de contos Legends, organizada por Robert Silverberg em 1998 - e foi agora editado em português na antologia O Cavaleiro de Westeros e Outras Histórias, da Saída de Emergência. The Sworn Sword foi publicado na antologia Legends II, também organizada por Robert Silverberg; e The Mistery Knight foi publicado na antologia Warriors I, organizada por Gardner Dozois e pelo próprio George R. R. Martin. 

[artigo adaptado deste post do Delito de Opinião]

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