Quando estreou, em 1982, Blade Runner causou perplexidade no público, com o seu visual arrojado e a sua banda sonora misteriosa (da autoria de Vangelis), e gerou críticas particularmente ácidas. Se há filmes que estão destinados a estarem à frente do seu tempo, Blade Runner é um deles: de filme falhado a filme de culto, inaugurou o sub-género ciberpunk no cinema, e foi (é, ainda) uma autêntica lição de adaptação de livro para filme - no caso, o livro que lhe serviu de base foi Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick (leitura que aproveito para recomendar). Scott baseou-se na obra de Dick, sim, mas retirou-lhe os elementos de natureza religiosa e filosófica (os "mood organs", o Mercerism, a obsessão com animais vivos numa Terra devastada) e favoreceu a história "crua": um grupo de Replicants (andróides) evadiu-se na Terra e Rick Deckard (Harrison Ford em grande forma), um blade runner (caçador de andróides), assume a missão de os "retirar", eufemismo para "destruí-los". Mas quando o seu teste de reconhecimento de Replicants falha ao analisar Rachael, uma andróide praticamente perfeita desenvolvida pela Tyrell Corporation, Deckard começa a questionar a sua missão; e os andróides evadidos procuram por todos os meios sobreviver...
Hoje, é impossível falar de ficção científica no cinema sem mencionar Blade Runner, que brilha por si só e pela influência que teve em vários filmes subsequentes (dos quais Ghost in the Shell e Matrix serão bons exemplos, e porventura os mais óbvios - o primeiro, aliás, "transpira" Blade Runner), tanto em temática como em estética. Tal como acontece com Alien, vê-se hoje o filme e percebe-se que, quase trinta anos passados, não ganhou uma única ruga. Num período de quatro anos, Ridley Scott criou duas obras essenciais, não só da ficção científica, mas do cinema em geral. O que, convenhamos, não é para todos. A ver se este ano repete a graça com Prometheus.
[Adaptado deste post do Delito de Opinião]
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