23 de abril de 2012

Entrevista: George R. R. Martin

A segunda temporada da série Game of Thrones estreia hoje à noite no SyFy. O primeiro episódio teve direito a ante-estreia com a presença do autor no passado dia 19, nos cinemas do El Corte Inglés (Lisboa). Diga-se de passagem que é excelente ver a série no grande ecrã - e, no final, houve ainda uma sessão de perguntas e respostas com o público.

Na manhã de 19, o SyFy promoveu uma mesa redonda com George R. R. Martin e vários jornalistas e bloggers, que tiveram assim a oportunidade de colocar ao autor várias questões - sobre a série, e não só. O Viagem a Andrómeda esteve presente, e o resultado foi esta breve entrevista sobre o presente e o futuro da série Game of Thrones:

VA: Quanto à segunda temporada de Game of Thrones, não pude deixar de reparar alguns personagens relevantes para a história em falta no elenco, como Thoros ou Jojen e Meera Reed. Estas personagens vão eventualmente aparecer na terceira temporada? 
GRRM: O David Benioff e o D.B. Weiss são os criadores da série, e provavelmente serão as pessoas mais indicadas para responder a essa pergunta. Tanto quanto seu, os Reed [Jojen e Meera] vão eventualmente aparecer, provavelmente na terceira temporada. O Thoros foi mencionado em diálogo, pelo que certamente existirá naquele mundo - poderá aparecer também na terceira temporada. Mas não o posso assegurar. Algumas personagens têm de ser eliminadas - já temos o maior elenco de personagens contínuas em televisão, e o número de personagens aumenta a cada livro, à medida que estas se espalham pelo mundo e encontram novos povos, novas cidades e novas pessoas. Esse é o desafio para os criadores e para a HBO: manter tudo sob controlo. Obviamente, num livro posso ter quantas personagens quiser, mas numa série televisiva cada personagem requer um actor, e cada actor requer um salário... a coisa pode descontrolar-se. É isso que o David [Benioff] e o Dan [Weiss] têm de gerir. Ainda bem que isso é problema deles, e não meu! Deixo-lhes a eles a tarefa de resolverem os desafios da série, enquanto me concentro em escrever os livros. 

VA: Foi mencionado [noutra questão] o episódio que escreveu para esta temporada, Blackwater. O que podemos esperar deste episódio? Certamente não será a "Batalha de Pelennor Fields" [no filme The Lord of the Rings: The Return of the King] em formato televisivo?
GRRM: Sem querer revelar demasiado: é evidente que não podemos fazer algo como a Batalha de Pelennor Fields. Na verdade, não podemos sequer fazer a batalha tal como ela está escrita nos livros, ou custaria certamente muito mais do que a Batalha de Pelennor Fields. Por mais espectacular que seja, e é, a Batalha de Pelennor Fields é uma batalha bastante linear: há dois exércitos, a carga dos cavaleiros de Rohan, a chegada dos Oliphants, e mais tarde os fantasmas. Na minha batalha há uma cidade completamente fortificada, três enormes "trebuchets" [arma de artilharia medieval parecida a uma catapulta] a atirar pedras e projécteis flamejantes, pessoas nas muralhas, uma batalha naval com duas frotas em combate, uma corrente gigantesca a bloquear o rio, e, claro, há ainda a introdução de um elemento místico: o "wildfire", que arde intensamente como fogo grego mas com uma chama verde, e que não pode ser apagado. Há ainda um exército enorme na margem sul do rio a tentar atravessá-lo e cargas de cavalaria a partir das portas da cidade para tentar impedir os desembarques. Tudo isto é um pesadelo - cada um destes elementos é um pesadelo para produzir. São necessários efeitos especiais para os "trebuchets" e para o "wildfire", e temos ainda de contar com os cavalos e os barcos. Alguns destes elementos tiveram de ser eliminados - não vou dizer quais. Ainda assim, espero que com os elementos escolhidos tenhamos conseguido recriar uma batalha extremamente intensa e visceral, mais do que suficiente para satisfazer os fãs. Não creio que aqueles que tenham lido os livros vão referir o que está em falta - a batalha será suficientemente grande. 

VA: Tenciona escrever outros momentos fortes da série em temporadas posteriores, como por exemplo o "Red Wedding"?
GRRM: Suspeito que o Red Wedding vá ser escrito pelo David Benioff e pelo Dan Weiss - creio que eles já o decidiram. Espero vir a escrever outros momentos fortes, mas são eles quem decide cada episódio e quem escreve o quê. Posso manifestar as minhas preferências, mas eles podem ou não dar-me as partes que gostaria de escrever. 

VA: A série literária terá sete livros. No entanto, é provável que a adaptação televisiva precise de mais do que sete temporadas. Quais são as suas expectativas para o futuro da série? Será feita uma adaptação integral?
GRRM: Espero que a série chegue ao final da história, claro. Quantas temporadas serão necessárias? Não sei. Sei que a terceira temporada acabou de ser confirmada, e que não vai cobrir na totalidade os eventos do terceiro livro [A Storm of Swords], mas apenas metade. Como tal, a quarta temporada - se houver uma quarta temporada -, irá provavelmente cobrir a segunda metade do terceiro livro. E aí chegamos ao quarto e ao quinto livro, que são um problema porque decorrem ao mesmo tempo, mas com personagens diferentes. Estes dois livros terão de ser recombinados, e contém material para pelo menos duas temporadas - provavelmente para três ou mesmo quatro. Dito de outra forma, as coisas começam a complicar-se. A dada altura, o David e o Dan vão ter de começar a simplificar, pois a história cresce cada vez mais, com cada vez mais complexidade, exércitos, batalhas, personagens em partes diferentes do mundo, mas atravessaremos cada uma dessas pontes quando lá chegarmos. Suspeito que para contar toda a história a série precise de dez temporadas, ou mesmo mais – talvez onze ou doze. Veremos. Teremos essas temporadas? Depende do público e das audiências. Se continuarmos a vencer prémios, a obter excelentes reviews e a ter boas audiências... as vendas de DVD e Blu-Ray bateram todos os recordes da HBO; as vendas externas também bateram recordes – nunca uma série da HBO foi vendida para tantos mercados estrangeiros. Se tudo isto se mantiver, a HBO continuará a apostar na série. Se a dada altura os resultados caírem, se a produção da série se tornar demasiado dispendiosa ou se as audiências diminuírem drasticamente, então a HBO poderá desistir. Claro que espero que isso não aconteça; de qualquer forma, isso está fora do meu controlo, e não pode ser para mim uma preocupação. Eu sou o autor dos livros, e nos livros irei acabar a história. A HBO decidirá o futuro da série televisiva, e isso eu não poderei influenciar. 

VA: Ainda sobre o futuro da série, os actores mais jovens poderão constituir um problema? Os actores crescem, e poderá ser estranho ver personagens como Bran ou Arya demasiado crescidos. 
GRRM: Será sem dúvida diferente. A série começou com todos os personagens mais velhos do que eram nos livros, e estão a crescer ainda mais depressa. A Arya cresceu cerca de três anos em cinco livros, mas a Maisie Williams cresceu três anos só durante a adaptação do primeiro livro. É difícil. Maisie e Sophie [Turner] vão tornar-se em jovens mulheres – aliás, já estão a tornar-se jovens mulheres. Uma vez mais, pensaremos nisso quando lá chegarmos. Não penso que isso vá afectar demasiado a série. Excepto no caso do Hodor, que poderá ter de deixar de carregar o Bran às costas, pois em breve o Bran será tão grande como o Hodor. Acho que o Kristian Nairn já se começa a acusar o esforço de carregar o Isaac Wright – julgo que as filmagens são feitas mais depressa!

Naturalmente, muitas outras questões interessantes foram colocadas pelos restantes jornalistas e bloggers. Outros artigos sobre a mesa redonda podem ser lidos em: TV Dependente (também aqui), Diário Digital, ActionScreen.

Já agora: no dia anterior, na sessão de autógrafos promovida pela Saída de Emergência após a apresentação de O Cavaleiro de Westeros e Outras Histórias, tive a oportunidade de colocar a George R. R. Martin uma outra questão: se Howland Reed, uma das mais enigmáticas personagens de A Song of Ice and Fire (porventura a mais enigmática), irá eventualmente aparecer activamente na narrativa, ou se vai manter-se ausente e envolto em mistério. De acordo com o autor, "eventualmente o Howland Reed vai aparecer." O que é uma excelente notícia, claro (a menos que apareça no prólogo ou no epílogo de The Winds of Winter, considerando que todos os pontos de vista de prólogos e epílogos morrem - e Howland Reed tem muito para contar, certamente).

Agradecimentos: Fernando Batista/LewisPR/SyFy

2 comentários:

Anónimo disse...

entrevista incrível, sou brasileiro e adoro o site e game of thrones.

João Campos disse...

Obrigado!