Na Forbes Online - que para minha surpresa dedica muitos e bons artigos à ficção científica - pode (e deve) ler-se esta crónica de David DiSalvo sobre o regresso de Ridley Scott ao cinema de ficção científica, e à importância que o muito aguardado Prometheus pode ter para o género.
O autor tem razão quando afirma que a ficção científica cinematográfica (não só a cinematográfica, mas ficamo-nos por esta agora) tem passado um mau bocado, apesar dos orçamentos milionários. Em retrospectiva, não temos um grande filme de ficção científica, um clássico instantâneo, uma obra capaz de reinventar o género, desde 1999, quando estreou The Matrix. Isto não quer dizer que nos últimos 13 anos o género tenha estado morto. No seu artigo, David DiSalvo fala de Children of Men (2006), e muito bem - é de facto um filme bastante sólido, com uma premissa interessantíssima e uma realização soberba. Li e ouvi maravilhas de Moon (2009). District 9 (2009) também foi muito falado - e bem -, mas três anos volvidos ainda não me consegui entusiasmar o suficiente para o ver. Depois há os filmes feitos única e exclusivamente para encher chouriços e o cgi-ego de meia dúzia de realizadores (olá, Michael Bay) e duas ou três obras que prometeram revitalizar a ficção científica mas não sobreviveram ao hype. Nesta categoria temos naturalmente Avatar (2009), de James Cameron, um filme que de facto cumpriu metade daquilo que se pode esperar de um filme de ficção científica - subiu a fasquia visual do cinema com a verdadeira experiência tridimensional no grande ecrã - mas falhou na segunda, ao abdicar de desenvolver uma narrativa mais imaginativa, atrevida e original para se limitar a contar uma história que todos já conhecemos e que todos já vimos mais bem contada (e, atenção, eu gostei bastante de Avatar, e faço frequentemente o papel de advogado do Diabo). Nesta categoria de promessas por cumprir na ficção científica temos também Inception (2010), de Christopher Nolan. Inception prometeu demasiado, e perdeu-se no seu próprio labirinto onírico, optando por perseguir um argumento intricado (que será de facto assim tão intricado?) num mundo de sonhos estranhamente realista quando devia, em vez disso, ter explorado o enorme potencial que o elenco lhe dava (caramba: falamos de Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Lewitt, Ellen Page, Marion Cotillard, Ken Watanabe e Tom Hardy). É um óptimo filme, sem qualquer dúvida, mas está longe de ser a obra-prima de que tantos falaram (Paprika, de Satoshi Kon, tratou o tema incomparavelmente melhor - e, agora que penso nisso, provavelmente é o meu filme de ficção científica preferido desde The Matrix), e não consegue ombrear com os gigantes do género.
Acontece que Prometheus marca justamente o regresso de um dos gigantes da ficção científica cinematográfica, do homem que, há pouco mais de três décadas, redefiniu o género duas vezes em apenas quatro anos com Alien (1979) e Blade Runner (1982). Não sei se Ridley Scott está a prometer trazer o fogo de volta para a ficção científica cinematográfica - mas a verdade é que as expectativas em redor de Prometheus parecem-me ainda mais altas do que para Inception em 2010 ou Avatar em 2009. Os trailers estão muito bons, abrem o apetite e fazem desejar que Junho chegue depressa. Mas conseguirá o filme alcançar, ou mesmo superar as expectativas que gerou e tem vindo a alimentar? Ou, mais importante ainda, conseguirá mostrar hoje, em 2012, que ainda é possível fazer um clássico de ficção científica, um filme da estatura de um 2001: A Space Odyssey ou de um Blade Runner?
Saberemos a resposta a 7 de Junho.
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