10 de março de 2012

The Moon Is a Harsh Mistress

Imaginemos um mundo futurista por volta do ano de 2075, em que as nações da Terra deram lugar a "super-nações" de dimensões continentais, e em que a colonização da Lua é uma realidade. Ou antes: em que a utilização das cidades subterrâneas (sublunares?) da Lua como uma enorme colónia prisional é uma realidade. Imaginemos que, nessa colónia, um técnico de computadores individualista e apolítico, uma agitadora profissional, um professor reformado que se define como "anarquista racional" e um supercomputador tão complexo que ganhou consciência própria acabam por se aliar para colocar em prática uma revolução que dê à Lua o estatuto de "nação independente". Quais seriam as probabilidades de sucesso dessa revolução? E como executá-la?

Este é o ponto de partida de The Moon Is a Harsh Mistress, obra premiada de Robert A. Heinlein, que aborda os aspectos teóricos de uma revolução colocando-a em prática neste cenário de ficção científica através de personagens improváveis, mas muito interessantes. Heinlein disserta sobre a natureza das revoluções, sobre o seu planeamento, sobre os factores aleatórios que, em muitos casos, as precipitam e as levam para direcções imprevisíveis - nunca esquecendo as lições que a História ensinou, como as revoluções americana e russa. E a revolução acaba por ser um pretexto para o autor explorar remas relacionados com a família, o patriotismo, a guerra, a forma de governo (existe até uma curiosa passagem sobre a monarquia, a propósito de um personagem que se afirma monárquico), e a economia - aqui, opondo o modelo libertário praticado pelas colónias lunares, aos vários modelos existentes na Terra (que todos conhecemos). Há quem diga que Heinlein terá até sido o primeiro autor a referir em livro a ideia de "não há almoços grátis" (muito associada a Milton Friedman), através da sigla TANSTAAFL (There Ain't No Such Thing As A Free Lunch), presença constante ao longo de todo o livro e, diria, base ideológica de toda a obra. Tudo isto sem nunca descurar a componente científica, de uma precisão considerável.

The Moon Is a Harsh Mistress consegue, para além de ser uma obra extremamente inteligente, ser uma leitura muito divertida. Desde o primeiro momento, em que "Mike", o computador consciente, adquire sentido de humor e procura compreendê-lo, até todas as peripécias que decorrem da revolução. Sem dúvida, uma leitura mais do que recomendada.

[adaptado deste post no Delito de Opinião]

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