23 de abril de 2014

This happening world (10)

Em Abril começa a temporada dos prémios, das polémicas relacionadas, e das eternas discussões sobre a literatura de género. Sobre os prémios e as polémicas, escrevi este artigo para a Bang!; sobre o debate dos géneros na ficção, escreveram Juliet McKenna no The Guardian e Chris Beckett na The Atlantic - dois artigos que merecem ser lidos pela pertinência dos argumentos apresentados, pelos estigmas que não desaparecem nem mesmo numa época em que a pop culture foi capturada pelo poço gravitacional dos universos geek, e pela importância da ficção científica no presente.

Na Amazing Stories, Steve Fahnestalk recupera os juveniles de Robert A. Heinlein e pergunta: serão ainda relevantes? Numa época em que a ficção de género voltou a entrar em força no território young adult, é bem possível que sim - e Fahnestalk explora os romances publicados por Heinlein entre 1947 e 1959. Que é como quem diz: entre Rocket Ship Galileo, o primeiro dos seus livros YA, até Starship Troopers, que marca a transição da sua literatura juvenil para os temas mais adultos que marcaram a sua obra a partir dos anos 60. 

Em entrevista a Ryan Hill para o portal ScreenInvasion, Christopher Priest fala sobre o seu mais recente romance, The Adjacent, sobre o tema da magia na sua obra, e sobre adaptações cinematográficas - mais concretamente, sobre a adaptação a The Prestige realizada por Christopher Nolan em 2005 - e é interessante como o autor consegue, ao mesmo tempo, tecer críticas positivas e negativas (e ambas com justiça) ao trabalho do realizador britânico. 

2 comentários:

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

João, nesta entrevista de Christopher Priest eu noto da parte dele, a respeito de Christopher Nolan, mais ingratidão... e contradição.

Basicamente, o que ele diz é que, tirando «O Prestígio» (e, vá lá, «Memento»), todos os outros filmes de CN são maus. Como que está a dizer: adapta outras obras minhas! Quantos pessoas mais passaram a conhecer Priest, e a comprar, e a ler, livros dele depois de verem o filme?

Convinha igualmente que Priest se decidisse a respeito das capacidades de escrita dos irmãos Nolan. Então, para «O Prestígio», ele descansou porque a sua obra ficou em «boas mãos» («I felt in safe hands. I backed off and let them get on with it. I’ve never regretted that»), mas essas mesmas mãos são, nos outros filmes, tão... más que «ele deveria arranjar outras pessoas para lhe escrever os argumentos»?!

E aquela de os filmes da trilogia «Batman» se ressentirem de «show-off techniques»... o que é que ele esperava? São baseados em histórias de banda desenhada de uma personagem que é um super-herói!E aquela de os mesmos irem parecendo «increasingly silly and dated as time goes by»... Nem de propósito: pela mesma «lógica», filmes como «Casablanca» e todos os que foram feitos há mais tempo tornam-se irrelevantes e desvalorizáveis pelo seu «anacronismo».

Eu preferia acreditar que a «culpa» é do entrevistador, Ryan Hill: talvez não tenha ouvido bem, talvez tenha cometido erros na transcrição da entrevista... porque, se não, que decepção!

João Campos disse...

Não faço de todo essa leitura - o que me parece que o Christopher Priest refere é que "Inception" é um exercício de forma sobre conteúdo (o que me parece óbvio após ver o filme) e que os filmes que compõem a trilogia "The Dark Knight", apesar da sua qualidade técnica, não alcançam o mesmo patamar narrativo e criativo, e começam a acusar um pouco a passagem do tempo - não estou certo de concordar por completo com esta última ideia, mas percebo o que ele quer dizer (sobretudo olhando para o último filme, e pela forma como a trilogia no seu todo reflecte a época em que foi feita - independentemente dos méritos evidentes de "Batman Begins" e "The Dark Knight", julgo que os dois "Batman" de Tim Burton são mais intemporais). Não creio que essa lógica de desvalorização e anacronismo se aplique.

"(...) o que é que ele esperava? São baseados em histórias de banda desenhada de uma personagem que é um super-herói!"

Isto parece-me excessivamente redutor - o que não falta são boas histórias de super-heróis com substância e criatividade. Aliás, o Batman tem várias - de "The Killing Joke" do Alan Moore a "Year One" de Frank Miller... Para nem irmos a "Watchmen", claro.