22 de fevereiro de 2014

O som e a fúria (14)

Regressemos hoje aos Radiohead. Se poucas são as bandas que se atrevem a mudar de forma profunda e radical a sua sonoridade, menos ainda são aquelas que o fazem quando estão no auge, após conhecerem em simultâneo a aclamação crítica e o sucesso comercial. Mas foi exactamente isso que a banda de Abington fez em 2000, quando, no seguimento de um dos melhores álbuns da década de 90 - OK Computer -, gravaram um disco em grande medida presciente do tom e do zeitgeist do novo milénio. Kid A marcou a viragem, dando o rock expressivo dos seus antecessores lugar a uma mistura electrónica tão minimalista como intensa, com pormenores a aproximar-se do jazz (mais marcados em Amnesiac, de 2001, o sucessor espiritual de Kid A). Em termos temáticos, a repressão hiper-vigilante deu lugar ao terror declarado, tão futurista e ao mesmo tempo tão presente no mundo pós-11 de Setembro. Everyone is so near / Everyone has got the fear / It's holding on, canta Thom Yorke na furiosa The National Anthem. Mas é na extraordinária Idioteque (indiscutivelmente uma das cinco melhores músicas da banda) que os terror surge tenso e explosivo, ao ritmo do sintetizador e das ondas Martenot. Who's in a bunker? / Who's in a bunker?, começa por perguntar Yorke; uma questão que cedo dá lugar a uma falsa segurança: We are not scaremongering / This is really happening, happening. Para concluir num resumo perfeito do clima social da segunda década deste novo milénio: Mobiles working / Mobiles chirping / Take the money and run / Take the money and run / Take the money.

Idioteque tem lugar cativo no alinhamento ao vivo dos Radiohead. Aqui fica a versão de 2003, ao vivo em Glastonbury.

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