24 de outubro de 2013

Cloud Atlas: Um clássico futuro?

No Tor.com, Brad Kane recorda Cloud Atlas, a adaptação cinematográfica do romance homónimo de David Mitchell realizada por Larry Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer que foi um dos grandes flops cinematográficos do ano passado. Um fracasso não merecido, argumenta Kane, destacando os seus méritos mais evidentes - a sua inegável ambição, a forma soberba como consegue interligar seis histórias tão diferentes em termos temporais, temáticos e estilísticos numa mesma continuidade fragmentada (a edição é um luxo), as temáticas exploradas através desta estrutura invulgar, a excelente banda sonora, criminosamente ignorada. 


Recuperando a minha própria crítica ao filme, escusado será dizer que concordo com quase todos os pontos do artigo de Brad Kane. Cloud Atlas foi, sem sombra de dúvida, o melhor filme que vi no ano passado, e um dos melhores que tive a oportunidade de ver nos últimos anos - pela sua ousadia narrativa, pela competência do seu elenco, pela edição formidável, pelos temas. Apenas não partilho aquela relativa superioridade da afirmação de que quem não gostou prefere necessariamente entretenimento fácil - não só por haver muitos outros motivos válidos para explicar um menor encantamento, como também porque o que não falta na história do cinema são clássicos que, à época da sua estreia, foram desprezados nas bilheteiras e espezinhados pela crítica. Blade Runner, de Ridley Scott, será talvez o caso mais popular entre a comunidade de ficção científica (de resto habituada a estas andanças), mas The Night of the Hunter, com Robert Mitchum, constitui um exemplo melhor: tal foi o seu fracasso na bilheteira que se tornou no primeiro e no último filme realizado pelo actor Charles Laughton. O tempo, porém, deu razão a Laughton; hoje em dia, não há lista dos "melhores X filmes de sempre" que se preze a esquecer este improvável e fascinante clássico do cinema. 

Infelizmente para Cloud Atlas, tal fenómeno começa a escassear. Não vivemos numa época dada a esperar, a reavaliar, a reconsiderar - os grandes filmes deste ano são praticamente esquecidos no ano seguinte, após o lançamento no mercado doméstico; e o debate da especialidade, transposto para os fórums da Internet, acaba também por ceder à voragem do meio - com o soundbyte a sobrepor-se à reflexão e os temas de hoje a serem irrelevantes amanhã. Gostaria de pensar que, daqui por uma ou duas décadas, as audiências olhassem para o filme dos Wachowski e de Tykwer como nós hoje olhamos para Blade Runner; mas, olhando para a cultura contemporânea, os sinais não são de todo animadores. 

Fonte: Tor.com

2 comentários:

Célia disse...

Gostei do filme, mas acho que tinha ainda o livro demasiado presente para o poder apreciar como uma obra com valor por si própria. Pode parecer estranho dizer isto em relação a um filme de quase 3 horas, mas depois de passar quase um mês à volta de um livro com tanta qualidade narrativa e detalhes tão magníficos, pareceu-me faltar algo. Mas é um bom filme, sem dúvida.

João Campos disse...

Ainda não li o livro (está na lista, mas esta é tão longa). Saí banzado da sala de cinema. Que tanto filme medíocre faça sucesso na crítica e na bilheteira enquanto um filme como "Cloud Atlas" fracassou e ficou esquecido é algo incrível.