8 de agosto de 2013

Gravity e as mulheres na ficção científica

Decerto todos já vimos um ou dois trailers de Gravity, o próximo filme de Alfonso Cuarón (Children of Men), que conta com George Clooney e Sandra Bullock como protagonistas - e únicas personagens (o segundo trailer em IMAX é fenomenal). O que talvez nem toda a gente soubesse foi que Cuarón teve de lutar para manter a sua protagonista feminina, quando na produção não faltava quem defendesse a troca por um actor. Durante a San Diego Comic Con, o realizador mexicano falou disso:
"When I finished the script, there were voices that were saying, 'well, we should change it to a male lead,'" (...) "Obviously they were not powerful enough voices, because we got away with it. But the sad thing is that there is still that tendency."
Mais curioso do que existir esta tendência é a subsistência desta mentalidade, em pleno 2013 - talvez o tema me puxe mais não por qualquer ideologia feminista (longe disso - aliás, basta olhar para o outrora excelente webcomic "Sinfest" para ver quão triste é o feminismo levado ao extremo), mas por desde cedo ter simpatizado com protagonistas femininas. No caso, com Arienrhod e Moon Dawntreader na literatura e com as inevitáveis Ellen Ripley e Motoko Kusanagi no cinema (GlaDOS chegou mais tarde, mas fê-lo com estrondo). Muitas outras poderiam ser mencionadas, claro - como secundárias, temos por exemplo Brawne Lamia em Hyperion, Marigay Potter em The Forever War e, de certa forma, Noÿs Lambent em The End of Eternity (no cinema, e em algo mais recente, Mako Mori em Pacific Rim - de longe, a personagem mais complexa do filme). Na fantasia, seriam referência obrigatória Tenar de The Tombs of Atuan e Tehanu, Granny Weatherwax de Discworld e Lyra Belacqua de His Dark Materials (e mais uma ou outra, mais obscuras, que me ocorrem agora). 

Claro - a ficção científica sempre foi um género maioritariamente masculino, tanto em termos de autores como em termos de personagens (para cada uma das personagens literárias que referi podia mencionas cinco masculinas só ao olhar para as lombadas da minha estante), mas daí a dizer-se que uma história é mais atractiva para o público (em termos gerais) se tiver uma personagem masculina como protagonista, ao invés de uma feminina, parece-me mais um preconceito individual de várias pessoas do que um preconceito generalizado do público (seja lá o que "público" aqui signifique). Da minha parte, e após muitas leituras, muitos filmes e séries, e centenas - milhares? - de horas de jogo com a Comandante Shepard (Mass Effect) e com uma 'Night Elf Priestess' e uma 'Paladin' (World of Warcraft), continuo a acompanhar com muito interesse protagonistas femininas - e também por isso Gravity implicará uma visita obrigatória a uma boa sala de cinema.

E porque o tema das mulheres na ficção de género continua a ser debatido (e ainda bem), em Julho o autor e blogger Ian Sales compilou uma lista de 100 grandes contos de ficção científica escritos por várias autoras entre 1927 e 2012. Lá encontram-se alguns inevitáveis (Ursula K. Le Guin, claro), e muitas outras menos conhecidas. E várias destas histórias estão disponíveis gratuitamente na Internet, para quem se dedicar à leitura em formato digital.


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