9 de julho de 2013

Evolution, ou a evolução para coisa nenhuma

Ainda que a comédia não seja especialmente frequente na ficção científica cinematográfica, na história do género no grande ecrã podemos encontrar, entre várias tentativas de sucesso limitado, alguns exemplos muito bons - como Back to the Future, Galaxy Quest ou Ghostbusters. Muito a propósito, na semana passada, dediquei a crónica de cinema a Mars Attacks!, abordando o filme de Tim Burton como um exemplo bastante bom de comédia de ficção científica que, sem se levar demasiado a sério, utiliza a trope clássica da invasão alienígena para desenvolver uma narrativa humorística e satírica muito eficaz. E é também nesta trope que Ivan Reitman pegou em 2001 para realizar Evolution, dando-lhe uma reviravolta interessante que, tivesse sido mais bem trabalhada, poderia ter resultado num filme mais próximo do sucesso que o seu Ghostbusters alcançou nos anos 80. Mas o resultado final de Evolution não podia ser mais distante daquele filme, aproximando-se mais das comédias adolescentes insossas que marcaram a viragem do milénio, e do qual o expoente máximo será porventura American Pie. E isso não se deve apenas ao desempenho de Seann William Scott.

É um facto que Scott parecia fadado naqueles anos a repetir ad nauseam o papel de Stifler, e que essa repetição é um dos muitos pontos fracos de Evolution; está, porém, longe de ser a única. O que não deixa de ser lamentável, pois a ideia base do filme revela-se um tanto ou quanto promissora: a queda de um meteorito no deserto do Arizona leva o professor de secundário e ex-cientista caído em desgraça Ira Kane (David Duchovny) e o seu colega Harry Block (Orlando Jones) a descobrir vida alienígena num destroço do meteorito que encontraram no interior de uma gruta. Mas aquela forma de vida alienígena vai revelar-se muito mais do que o organismo aparentemente unicelular detectado por Kane e Block nas suas primeiras análises no limitado laboratório da escola onde leccionam...


Com um ritmo evolutivo anormalmente rápido, os organismos alienígenas cedo formam um pequeno ecossistema no interior das cavernas, com uma atmosfera própria (o oxigénio mata-os), mas a sua evolução acelerada leva-os a crescer exponencialmente, suscitando a intervenção das autoridades políticas lideradas pelo Governador Lewis (Dan Aykroyd), do exército comandado pelo General Woodman (Ted Levine) e do Center for Disease Control (CDC), representado pela desastrada Allison (Julianne Moore). Em abstracto, a premissa é vaga o suficiente para poder servir de base a vários subgéneros de ficção científica - poderia ser um thriller, um filme de terror, ou uma comédia.


Reitman optou pela última, mas falhou em toda a linha na execução. Não que Evolution não seja capaz de suscitar uma ou duas gargalhadas, e outros tantos sorrisos com alguns momentos menos desinspirados; mas a verdade é que aquilo que Evolution tem de mais engraçado é tão irónico como involuntário: mostrar David Duchovny, que nos anos 90 imortalizou Fox Mulder na série de culto The X-Files, a descobrir vida extraterrestre num filme cómico (ou que tenta ser cómico). Mas mesmo a sólida interacção de Duchovny com Orlando Jones e a sempre cativante presença de Julianne Moore não conseguem salvar o filme de uma mediocridade absoluta, sustentada por um guião atroz que não permite sequer que a película entre no território do campy, onde a coisa poderia ter salvação - ou pelo menos desculpa.


A insistência na (fraca) comédia física de Stifler Seann William Scott, a persistência de um humor escatológico básico e aquele que será porventura o mais descarado product placement do cinema de ficção científica destroem qualquer esforço que Duchovny, Jones e Moore pudessem fazer para elevar um pouco Evolution. O que não deixa de ser uma pena: a ideia está lá, e mesmo recorrendo a alguns chichés um tanto ou quanto estafados (o protagonista especialista em área X que foi afastado por um erro, mas que se vai redimir de forma espectacular), Evolution poderia ter sido um blockbuster cómico sólido e mesmo inteligente na tradição de Ghostbusters, mas a evolução do humor em Reitman não se fez de forma qualitativa, e isso nota-se logo nos primeiros minutos. Os fãs de ficção científica que procurem algumas gargalhadas deverão procurar noutro lugar. 3.2/10

Evolution (2001)
Realizado por Ivan Reitman
Argumento de David Diamond e David Weissman com base numa história de Don Jakoby
Com David Duchovny, Julianne Moore, Orlando Jones, Seann William Scott, Ted Levine e Dan Aykroyd
101 minutos

2 comentários:

Bráulio disse...

Bem, não curtes nada do Scott. :P
Acho-o um tipo com muita piada, apesar da quase constante insisténcia nos papéis errados. Ainda assim tem alguns bons desempenhos em papéis que lhe fogem ao padrão. :)

BTW, no outro dia apanhei os minutos finais de Zombieland, que conhecia apenas de nome, e fiquei agradavelmente surpreendido. Quando tiver tempo tenho de ver melhor.

Já fizeste review ao Dark City? Revi no outro dia. Era daqueles filmes que tinha no meu top até o rever agora em idade adulta. Hehehe.

João Campos disse...

Não tenho nada contra o Scott - mas a verdade é que ele num curto espaço de tempo fez o mesmo papel em três filmes (Road Trip, American Pie, Evolution).

Já vi o Dark City mas ainda não escrevi nada sobre ele. Um dia destes revejo e faço isso. Gostei do filme, acho que tem ideias muito interessantes e uma atmosfera espectacular (muito reminescente de The Crow e de clássicos noir como The Third Man), mas a verdade é que o filme era-me vendido há anos como igual ou superior a The Matrix, e fica vários furos abaixo.