7 de junho de 2013

The End of Eternity, ou o tempo fora do tempo

Imaginemos que, fora do tempo e do espaço, existe um lugar designado por "Eternity", a partir do qual os seus habitantes, os "Eternals", estabelecem uma organização com o propósito de vigiar as sociedades humanas, monitorizando a sua evolução e interferindo sempre que consideram necessário. O propósito dos Eternals, à luz da sua perspectiva, é benevolente - a minimização do sofrimento humano, o evitar das guerras, e a manutenção de um estado considerado "de equilíbrio". As interferências são, por isso, estudadas ao mais ínfimo detalhe por técnicos especializados, que avaliam de forma exaustiva todos os cenários, calculam todas as possibilidades, e determinam a mudança mínima necessária para se alcançar o objectivo pretendido - e efectuam essa mudança, alterando a linha temporal. 

É esta a premissa fundamental de The End of Eternity, romance de Isaac Asimov publicado pela primeira em 1955, dedicado ao tema das viagens no tempo. Asimov segue a ideia de que o passado pode ser alterado, mas dentro de limites e de regras cumpridas pelos "Eternals": não lhes é permitido viajar para uma data anterior à descoberta das viagens no tempo, no século XXVII, ou para datas posteriores a 70 mil séculos no futuro, data a partir da qual a Terra se encontra aparentemente vazia (sem que ninguém compreenda como tal é possível). Para isto, desenvolveram um equipamento especial, quase um elevador, que lhes permite deslocar-se para o tempo pretendido. O protagonista, Andrew Harlan, é um dos Técnicos especializados da "Eternity", seleccionado pelas suas qualidades do tempo no qual originalmente nasceu e viveu. O seu hobby consiste em estudar as sociedades e a história anteriores às viagens no tempo - algo que não é muito bem visto pelos seus superiores hierárquicos, mas que se vai revelar vital numa missão muito peculiar. No decorrer do seu trabalho, Harlan conhece Noÿs Lambent, uma mulher de uma época que vai sofrer uma alteração na realidade - e ao apaixonar-se por ela, algo que jamais deverá acontecer a um técnico da "Eternity", vê-se confrontado por um dilema de difícil resolução e consequências imprevisíveis.

Não é por acaso que muitos fãs de Isaac Asimov consideram The End of Eternity como um dos seus melhores livros (quando não mesmo o melhor): a sua escrita directa funciona bem na narrativa rápida e com algumas reviravoltas muito interessantes e momentos especialmente intensos (ocorre-me um em especial, inesquecível), e tanto Andrew como Noÿs são personagens sólidas - com algumas secundárias a acrescentarem vários detalhes curiosos àquele universo e à premissa estabelecida. Mas o mais interessante deste clássico de 1955 é a forma como Asimov concebe uma realidade capaz de controlar a realidade a partir de fora, através das viagens no tempo, e as questões que esse controlo benevolente tem - ao erradicar as fontes de conflito e o desenvolvimento de tecnologias revolucionárias, a Humanidade continuará a ser capaz de assegurar a sua existência continuada? Até que ponto a troca da liberdade e da imprevisibilidade pelo conforto é saudável, ou mesmo desejável? Ou até que ponto a nossa capacidade de cometer erros é a nossa verdadeira força motriz - e, uma vez removida, restará apenas a estagnação? Asimov fornece algumas respostas num final um tanto ou quanto surpreendente - e que poderá ter uma ligação ténue às séries Robot e Foundation. Para os apreciadores do tema das viagens do tempo, com as suas consequências e ramificações, este será sem dúvida um livro indispensável. 

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