22 de abril de 2013

Resident Evil: Um reboot necessário?

Jen Bosier, uma das colaboradoras do (excelente) blogue da revista Forbes dedicado aos videjogos, publicou há dias uma reflexão muito interessante sobre a possibilidade - ou mesmo a necessidade - de a série Resident Evil seguir uma das mais recentes tendências dos meios audiovisuais: o reboot. Escreve Bosier:
With the shining exception of Resident Evil 4, the franchise has slowly but surely been losing its way since Resident Evil: Nemesis or Resident Evil: Code: Veronica, depending on your feelings on the latter, story-driven affair. With Resident Evil 6 firmly behind us, it’s only a matter of time before Resident Evil 7 is teased, which makes me wonder: Is it time for a reboot?
Resident Evil 3: Nemesis continua a ser um dos meus jogos preferidos (tal como Bosier refere noutro artigo muito interessante, algumas mecânicas novas, as criação de munições e Nemesis fizeram do jogo uma experiência a todos os níveis inesquecível); ver a franchise regressar à qualidade dos primeiros três títulos seria sem dúvida uma excelente notícia. Na altura, a narrativa ainda estava razoavelmente contida entre o incidente na mansão das Arklay Mountains e a fuga dos protagonistas de Resident Evil 2 (Leon Kennedy, Claire Redfield e Sherry Birkin) e de Resident Evil 3: Nemesis (Jill Valentine e Carlos Oliveira) de uma Raccoon City infestada momentos antes da sua destruição. Resident Evil Code: Veronica X , com um pendor muito narrativo, ainda se manteve bastante fiel às origens da série - mas também foi aqui que a série conheceu o primeiro momento de jumping the shark, com a introdução de um irritante "Super-Wesker" (na prática, um misto de Wesker com o Agent Smith de The Matrix, bullet time incluído). 

Apesar de ter Leon como protagonista (e de Ada aparecer), Resident Evil 4 afastou-se tanto da fórmula original que praticamente se tornou num jogo diferente. Não desfazendo: RE4 é um óptimo jogo, difícil q.b., repleto de detalhes interessantes e com alguns dos inimigos mais memoráveis e assustadores da franchise, como os "Regenerators". Mas apesar da sua atmosfera opressiva e da sua banda sonora lúgubre, RE4 é mais um título de acção do que de survival horror, uma tendência que se acentuou nos jogos subsequentes. Mas não foi o horror o único elemento a deteriorar-se; também a narrativa (o aspecto mais fraco de RE4) perdeu qualidade, tornando-se, nas palavras de Bosier, numa "unholy mess" - porventura mais próxima da salganhada insípida dos filmes de Paul W. S. Anderson do que da trilogia de sucesso da Playstation original. 

Para todos os efeitos, RE4 foi um reboot à série Resident Evil, utilizando uma das suas personagens mais populares para transportar a narrativa num novo rumo e para fazer os seus controlos libertarem-se em definitivo do modelo "tank" que caracterizou os primeiros títulos, actualizando-os para os sistemas dos jogos de acção contemporâneos. E a verdade é que, apesar de RE4 ser um excelente título, a direcção que deu à franchise falhou - a narrativa perdeu-se e os jogos que se seguiram perderam as suas características de survival horror para se tornarem em jogos de acção mais ou menos genéricos. Basta ler o que se escreveu, em críticas especializadas e fóruns de discussão frequentados por jogadores, sobre RE5 e RE6. Regressar atrás para recomeçar a série do zero (ou, pun intended, do um) implicaria mais do que decidir como reorganizar toda a narrativa e todas as personagens dos últimos dezassete anos, uma tarefa decerto hercúlea - implicaria, também, decidir entre devolver a série às suas origens de survival horror ou reconstruí-la em modo de acção. 

Dado o passado recente da Capcom, não é difícil imaginar qual seria a opção seguida. E, para isso, talvez seja preferível deixar tudo como está. 


4 comentários:

André Pereira disse...

E foi por essas razões que a Capcom suspendeu o outsourcing para retomar a produção in-house.
Em equipa vencedora não se mexe, portanto, enquanto aqueles jogos de acção vendessem, iriam fazer mais e mais.
No entanto concordo, podia-se fazer u reboot à saga. Algo completamente diferente do que temos hoje em dia.

João Campos disse...

Mas algo completamente diferente do que temos hoje... para regressar ao que era? Não sei se pegaria.

E, de resto, a "equipa vencedora" já desapareceu. Muito a propósito, o Shinji Mikami está a preparar um novo título de survival horror para este ano. Se conseguir fazer algo tão atmosférico como RE3: Nemesis....

André Pereira disse...

Já vi o trailer live action e alguns detalhes do Evil Within, não me aqueceu. Espreita o Shadows of the Damned, também dele, do Suda51 e do AKira Yamaoka - mau.

Salva-se a banda sonora.

João Campos disse...

Nisso ele sempre foi pródigo (ver RE3: Nemesis e RE:4). Aliás, em ambos os jogos, a banda sonora é uma parte fundamental da construção do horror.