29 de abril de 2013

Guildas, dragões e labirintos: a história de um pré-lançamento de Magic: the Gathering

A minha relação com Magic: the Gathering será sem dúvida curiosa - e algo irónica também. Como já aqui contei em tempos, comecei a jogar durante a adolescência, quando estudava no Secundário - e ao longo desses três anos jogava com regularidade com os meus amigos mais próximos. Chegámos mesmo a organizar um torneio oficial na escola, de formato sealed deck (o bloco da época era Invasion - já lá vão doze anos. Doze!), que me correu bastante bem. Na altura, a perspectiva de concluir o Secundário e vir para Lisboa para ingressar no Ensino Superior entusiasmou-me por vários motivos - um dos quais foi saber que, por cá, teria muitas mais oportunidades para jogar e participar em torneios, casuais ou oficiais. É mais ou menos neste ponto que reside a ironia: após me ter mudado para Lisboa, fui deixando de acompanhar as novas expansões, e deixei mesmo de jogar até há alguns anos, quando um amigo me mostrou o recente formato de Commander. Daí para cá voltei a jogar, de forma muito casual. 

Talvez por isso valha a pena perguntar: que raio fui eu fazer no mais recente "pre-release" de Magic: the Gathering?

Em termos práticos, a resposta poderia ser algo na linha de: fui arranjar material para um artigo no blogue (o que é, em parte, verdadeiro). Mas há motivos melhores: fui fazer algo que queria fazer desde que vivo em Lisboa, mas que por circunstâncias várias (entre as quais se destaca a minha infinita preguiça) nunca tinha feito. Conhecer um ambiente mais "oficial" de torneios de Magic. Repetir a experiência daquele magnífico torneio de sealed deck que organizámos, há já tantos anos, na ludoteca da minha antiga escola secundária. Ou, mais simplesmente, aproveitar a oportunidade de alinhar num torneio raro com um formato-dentro-de-um-formato.


É evidente que a mais inútil maze 
runner tinha de sair num dos meus 
boosters aleatórios...
A mais recente expansão, Dragon's Maze, é a segunda e última dentro do bloco iniciado em Setembro último por Return to Ravnica. Neste bloco, os jogadores regressaram ao mundo de Ravnica (iniciado em 2005 com o bloco de Ravnica: City of Guilds e as suas expansões, Guildpact e Dissension). No multiverso de Magic, o mundo de Ravnica é composto, na sua maioria, por uma vasta cidade onde convivem (nem sempre bem) dez guildas com diferentes alinhamentos de magia. A ideia em si é interessante, e a Wizards of the Coast deu-lhe um twist ainda melhor nos vários pre-releases deste novo bloco ao criar pacotes de torneio específicos para cada guilda, dando aos jogadores a possibilidade de jogar com um alinhamento de cores e um enquadramento narrativo previamente determinados. Nos pré-lançamentos de Return to Ravnica, foram introduzidos os pacotes de torneio de cinco das guildas; em Gatecrash, os outros cinco.  Mas para os pré-lançamentos de Dragon's Maze foram disponibilizadas as dez guildas de Ravnica, em pacotes com uma guilda aliada (e aleatória). O que deu a estes torneios de sealed deck um sabor especial, ligando-os de forma directa à narrativa subjacente à expansão: qual das guildas de cada torneio seria a primeira a atravessar o "Labirinto Ímplicito".

Felizmente, este tipo saiu-me na
rifa - e mesmo a tempo de me
garantir uma ou duas vitórias...
Os torneios de pré-lançamento de Dragon's Maze de Lisboa foram organizados pela (e na) Loja Arena, em Entrecampos. Três, ao todo - o mais "competitivo" na manhã de Sábado, e dois mais "casuais" nas tardes de Sábado e de Domingo. No meu caso, participei no casual de Sábado, e a guilda escolhida foi Boros Legion, de alinhamento branco e vermelho. Que, por acaso, foi a mais escolhida pelos jogadores - muito mais -, e que por isso foi a primeira a "atravessar o labirinto" (o que sempre me permitiu ganhar qualquer coisa). Não sei o que terá motivado outros jogadores, porventura mais experientes, a escolher esta facção. No meu caso, a coisa não se deveu a qualquer preferência benfiquista (foi uma interessante coincidência, garanto), ou mesmo por uma preferência dentro das escolhas possíveis - mas o estilo de jogo ofensivo de Boros pareceu-me mais simples, directo e fácil de construir do que as combinações que outras guildas porventura mais interessantes, como Izzet ou Simic. Para além disso, tanto a líder da guilda como o campeão do labirinto seriam extremamente interessantes caso a sorte estivesse para aí virada (não esteve, e sabendo do meu gosto habitual por Goblins, deu-me antes isto - o que, diga-se de passagem, não foi nada mau). Pese embora a sorte, ou falta dela, com a distribuição de terrenos durante as várias rondas (a sério: a coisa parecia enguiçada), o resultado nem foi mau. Ou melhor: o fraco resultado competitivo final não ensombrou uma tarde bastante divertida. Bem pelo contrário.

A verdade é que o formato de sealed deck revelou-se tão divertido como as minhas recordações daquele torneio distante me faziam parecer que era. Do abrir dos pacotes para ver o que nos saiu em sorte (ou azar), da construção de um baralho competitivo num período de tempo muito limitado (quando sou capaz de gastar inúmeras horas com deckbuilding em frente ao computador), dos jogos sucessivos, em rondas de três, sempre contra adversários diferentes - tudo no formato é aliciante e propício a algumas horas muito bem passadas. A introdução das guildas de Ravnica deu a este torneio de pré-lançamento de Dragon's Maze uma faceta ainda mais casual e divertida, dividindo os jogadores pelas guildas que escolheram representar e introduzindo num formato por natureza aleatório uma certa previsibilidade - e, com ela, uma limitação que obriga os jogadores a alguma criatividade adicional. Será talvez impossível de prever, pelo menos para já, se a Wizards of the Coast irá voltar a criar algum bloco desta natureza para recriar este tipo muito especial de torneios. O que posso prever, com um grau de certeza muito razoável, é que não deixarei passar outros doze anos para voltar a alinhar num sealed deck

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