29 de janeiro de 2013

The Girl Who Leapt Through Time, ou a abordagem adolescente às viagens no tempo

Mokoto é uma adolescente como outra qualquer. Vive com os pais e a irmã mais nova, ocupa o seu tempo entre as aulas (para as quais se atrasa de vez em quando, sobretudo de manhã. Como muitas outras adolescentes, vive na indecisão sobre o que quererá fazer no futuro, e que escolhas académicas terá de tomar nesse sentido. O seu tempo livre é ocupado a andar de bicicleta e a jogar baseball com os seus dois melhores amigos, Chiaki e Kousuke. Nada na sua vida é invulgar; todas as suas dúvidas e todos os seus problemas poderiam ser as dúvidas e os problemas de qualquer outra rapariga da sua idade.

Isto até ao dia em que um estranho mas aparentemente pouco importante incidente na escola a faz cair sobre um objecto misterioso que, sem querer, lhe dá um poder extraordinário: o poder de saltar no tempo, de recuar minutos, horas ou mesmo dias, e de refazer o decurso dos acontecimentos como muito bem entender. Esse poder manifesta-se pela primeira vez de forma inconsciente, salvando-lhe a vida; mas quando Mokoto percebe o do que tem, decide aprender a controlá-lo para os seus próprios objectivos. Coisas simples, como chegar a horas à aula, resolver com nota máxima um teste no qual antes tivera negativa, passar mais tempo com Chiaki e Kousuke, resolver situações embaraçosas. Aos poucos, porém, começa a aperceber-se de que cada alteração que faz no decurso do tempo em benefício próprio causa outras pequenas alterações que acabam por prejudicar quem a rodeia, em cadeias de acontecimentos inesperadas que começam a escapar por completo ao seu controlo.

Inspirado no livro homónimo, escrito por Yasutaka Tsutsui em 1967, The Girl Who Leapt Through Time funciona de certa forma como uma sequela àquele livro – a personagem principal de Tsutsui, Kasuko, é no filme tia de Mokoto, a curadora que no museu da cidade se encontra a restaurar um quadro muito invulgar, e confidente habitual de Mokoto. Mas no filme, a rapariga que salta no tempo não é Kasuko, mas Mokoto – e é Mokoto quem vai aprender, à custa das suas indecisões e dos seus erros, que todas as acções têm uma reacção, e que essa reacção nem sempre (quase nunca) se manifesta da forma que esperava.

Um dos aspectos mais interessantes de The Girl Who Leapt Through Time é a forma como aborda a vida dos adolescentes – as várias personagens, dos protagonistas aos seus vários colegas de escola, são adolescentes e comportam-se como tal, mas nem por isso redundam em meros estereótipos. Mokoto, Chiaki ou mesmo personagens secundárias são interessantes, com alguma densidade e bastante relevância. Para todos os efeitos, The Girl Who Leapt Through Time é um romance de ficção científica que usa a premissa clássica das viagens no tempo para explorar as idossincrasias dos adolescentes e para contar uma história de amor. E essa premissa encaixa na perfeição na história, dando-lhe não só densidade como também um toque invulgar que torna algo potencialmente banal em algo extraordinário. 

Talvez não seja um filme que apenas pudesse ser feito em animação japonesa – mas só o anime (e a animação de The Girl Who Leapt Through Time é excelente) lhe conseguia conferir a magia que revela a cada cena, a oscilação constante entre a mais hilariante comédia com o drama num ritmo perfeito. É uma fascinante e sentimental história sobre o que significa crescer e mudar quando apenas queremos que tudo fique na mesma, para sempre. 8.4/10

The Girl Who Leapt Through Time (2006)
Realizado por Mamoru Hosoda
Com Riisa Naka, Takuya Ishida e Mitsutaka Itakura
98 minutos

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