23 de janeiro de 2013

Bradbury e Burroughs no Clube de Leitura Bertrand do Fantástico em Lisboa

Decorreu no passado dia 11 de Janeiro mais uma edição do Clube de Leitura Bertrand do Fantástico em Lisboa - como é habitual, na Livraria Bertrand do Chiado, num final de tarde especialmente chuvoso. O tema da sessão era Marte, com The Martian Chronicles de Ray Bradbury e A Princess of Mars de Edgar Rice Burroughs; e para falar de ambos, e de Marte, o moderador Rogério Ribeiro convidou José Saraiva, investigador no Instituto Superior Técnico na área da exploração espacial (com trabalhos sobre a Marte), fã de longa data de ficção científica, ligado ao antigo clube Simetria e, já agora, habitué das sessões mensais do Clube de Leitura desde o seu início no ano passado.

O gosto de José Saraiva pela ficção científica é já antigo - como o próprio afirma, "nasci no início da década de 60, e era impossível não me entusiasmar e acompanhar a exploração do espaço". Daí às leituras foi um pequeno passo, e entre as primeiras obras que leu contam-se, por exemplo, The War of the Words e The Island of Doctor Moreau, de H. G. Wells, sem esquecer os vários livros da Colecção Argonauta que tinha em casa. Quanto a The Martian Chronicles, de Bradbury, adquiriu o livro na edição  "de capa azul" da Caminho - e mesmo considerando-o "um clássico", admite haver "muitas coisas de que não gosto em The Martian Chronicles. É excelente literatura, mas pobre no que diz respeito à ficção científica propriamente dita". Algo que está longe de ser novidade: o próprio Bradbury admitiu, em tempos, não ter introduzido qualquer rigor científico no livro (a propósito do convite que recebeu da Caltech para uma palestra sobre Marte). 

De facto, Bradbury parece ir buscar as suas referências de Marte à imaginação popular, aos "canais" de Percival Lowell e à ideia de que o planeta poderia ser habitado por uma civilização. Essa civilização é imaginada um pouco à imagem dos próprios seres humanos - como José Saraiva refere, "quem coloniza Marte em The Martian Chronicles não é a Humanidade, mas os americanos - e os próprios marcianos não são muito diferentes dos terrestres". Constituindo uma crítica mais ou menos velada ao povo norte-americano (há mesmo um capítulo célebre, eliminado nas edições mais recentes, que toca na questão do ódio racial), nota-se em The Martian Chronicles "uma nostalgia, um apego ao passado", ao invés de um espírito de aventura. 

Já Burroughs, na sua série Barsoom - da qual se destacou A Princess of Mars - prestou bastante atenção tanto ao imaginário popular como ao conhecimento científico da sua época sobre Marte. Para 1912, A Princess of Mars será, para todos os efeitos, um livro espantoso, ainda que hoje, um século volvido, nos pareça formulaico e previsível.  Durante a tertúlia foram também mencionadas duas adaptações da obra de Burroughs: os comics da Dynamite, com uma volumptuosa Dejah Thoris, referidos por Artur Coelho (que descreveu A Princess of Mars como uma obra marcante da sua época e um clássico do tema "white man's burden"), e o filme de 2012, produzido pela Disney e considerado (injustamente) um dos piores filmes do ano. Houve ainda tempo para falar da anatomia dos habitantes do Marte de Burroughs, com destaque para a verosimilhança e a utilidade de quatro braços numa criatura bípede.

Finda a sessão, e passando por entre os pingos de chuva, seguiu-se o já habitual jantar da Tertúlia Noite Fantástica (no qual desta vez não estive presente). Quanto à próxima sessão do Clube de Leitura do Fantástico, ainda está por confirmar. 


Imagem por Frank Frazetta

5 comentários:

André Pereira disse...

Desde que as tertúlias começaram, ainda não consegui ir a uma... Ou porque tinha formações ou esquecia-me por pura estupidez; e este tema era bastante interessante...

A ver se consigo ir na próxima, já agora, ir também à oficina de escrita da Trema :)

João Campos disse...

A ver se há uma próxima em Lisboa para ires. Até ver, a coisa está tremida.

André Pereira disse...

Então porquê?

João Campos disse...

Mudanças na Bertrand, tanto quanto sei.

Paulo Morgado disse...

Tanto quanto sei, o Teatro Rápido, no Chiado, poderá estar disponível para acolher propostas deste tipo de Tertúlias (já se efectuam lá outras).
O espaço tem um excelente Bar/Café Concerto que até inclui Vídeoprojector.
Poderão contactar através do blog:

http://teatrorapido.blogspot.pt/p/tr-bar.html

http://teatrorapido.blogspot.pt/p/info-util.html