27 de novembro de 2012

A ficção científica e o cinema: Logan's Run

No século XXII, o que resta da população mundial vive numa cidade isolada, contida numa gigantesca cúpula, sem acesso ao mundo exterior que foi devastado no passado por uma guerra de proporções bíblicas. A sociedade que sobrevive na cidade, porém, vive uma autêntica utopia: tudo aquilo de que necessitam é fornecido pelo computador central que governa a cidade, permitindo à população dedicar-se apenas ao lazer, libertada que está de quaisquer preocupações - até da reprodução. Só existe um aspecto negativo neste aparente paraíso: para controlar a população, os habitantes da cidade apenas podem viver até aos 30 anos. Os habitantes da cidade levam uma vida hedonista e despreocupada, seguros de que o computador central lhes proporcionará tudo aquilo de que necessitarem, certos do tempo de vida que lhes resta para gozar graças ao lifeclock que está implantado na palma da mão esquerda. Quando o seu tempo de vida termina, entregam-se ao ritual do "Carrossel", onde são mortos com a promessa de uma possível reanimação.Esta é a premissa de Logan's Run, filme de 1976 realizado por Michael Anderson baseado no livro homónimo de William F. Nolan e George Clayton Johnson. 

A vida na cidade, porém, não agrada a toda a gente; há quem deseje viver mais do que 30 anos, e que suspeite de que a promessa de ressurreição é falsa. Quando essas pessoas tentam evadir-se das autoridades e escapar ao seu destino, tornam-se runners, e cabe aos Sandmen, agentes de autoridade especiais, capturarem os evadidos e assegurar-se de que são eliminados. O protagonista, Logan 5 (Michael York), é um Sandman - que, numa perseguição a runners com o seu colega Francis 6 (Richard Jordan), tropeça numa pista que o levará a encontrar a enigmática Jessica 6 (Jenny Agutter) e indícios de um grupo que ajuda os runners a evadirem-se, escapando à morte num lugardesignado por Santuário. O computador central ordena a Logan que procure e destrua esse lugar, mas essa missão vai levá-lo mais longe do que imagina...

Todo o conceito de Logan's Run fez-me pensar numa outra obra de ficção científica: The City and the Stars, de Arthur C. Clarke. Não fui o único: Roger Ebert pensou no mesmo. A cidade fechada, isolada na sua redoma, ignorando o mundo que a rodeia por julgá-lo estéril e devastado; o computador central que tudo controla; a entrega voluntária dos cidadãos à morte definida pelo sistema que governa a cidade. Logan's Run, porém, não tem um protagonista tão interessante como Alvin, nem a cidade anónima do tem tantos segredos como a velha Diaspar. O que não é necessariamente mau: Logan's Run é um filme interessante, com uma componente visual invulgar e muito própria, e várias imagens e momentos memoráveis. Os efeitos especiais, porém, cedo ficaram excessivamente datados, longe dos de outras produções da sua época, e as interpretações dos vários actores deixam muito a desejar - excepção feita a Peter Ustinov, brilhante no papel do velho eremita. Tem algumas ideias boas e levanta questões pertinentes, mas não chega perto de outros filmes de ficção científica da sua década - não tem uma componente visual impressionante como a de Star Wars (1977) ou a densidade narrativa de um A Clockwork Orange (1975). Nem por isso, porém, deixa de merecer atenção, ou de ter um estranho e muito próprio encanto. 6.3/10

Logan's Run (1976)
Realizado por Michael Anderson
Com Michael York, Richard Jordan, Jenny Agutter e Peter Ustinov
119 minutos 

2 comentários:

Barreiros disse...

Humanos fechados em cavernas? Há mais. Mas para já não percam o Dark World do Daniel F. Galouye e o The Hero of Downways do Michael G. Cooney. Sem esquecer, claro o Penultimate Truth do K. Dick.

João Campos disse...

Obrigado pelas sugestões!