10 de outubro de 2012

The Walking Dead: Análise da segunda temporada

Após o sucesso da curta mas excelente primeira temporada, The Walking Dead teve uma segunda temporada maior, com 13 episódios dividos em duas partes: a primeira, de sete episódios, estreou no Outono de 2011; a segunda, com seis, foi transmitida a partir de Fevereiro de 2012. Já se notou um maior afastamento da série face à banda desenhada - marcado sobretudo pela ausência de Tyreese (um personagem muito relevante pelo menos do segundo ao quinto álbum - ainda não li mais) e por um dos dois arcos narrativos introdutórios que envolvem a quinta de Hershel:  o desaparecimento de Sophia, que mantém o grupo naquele espaço durante a primeira parte da temporada (o outro é o incidente de caça no qual Otis fere Carl, que leva o grupo a procurar Hershel e a encontrar a quinta).

Apesar de a apreciação global da segunda temporada ter sido positiva, muitas críticas mais negativas incidiram sobre o facto de ter sido demasiado parada - praticamente toda a acção decorreu na quinta de Hershel ou nos espaços circundantes. Excluídas as poucas (mas excelentes) incursões na vila mais próxima, o cenário foi invariavelmente o mesmo. Em parte, as críticas têm razão - teria sido interessante ver outros cenários (como o bairro aparentemente tranquilo que o grupo encontra na banda desenhada) -, mas nelas também há algum exagero. O grupo permaneceu, de facto, a temporada inteira praticamente no mesmo espaço, e o ritmo narrativo foi mais lento até aos últimos três episódios; no entanto, nem por isso a série perdeu interesse, e essa "pausa" (se quisermos chamar-lhe assim) foi fundamental para o desenvolvimento de várias personagens.

Diria que esse desenvolvimento foi mais visível em Daryl, que assumiu uma posição cada vez mais importante dentro do grupo ao assegurar a sua segurança sem tomar posição no conflito emergente entre Rick e Shane. Daryl, que não existe na banda desenhada de Robert Kirkman, é mesmo uma das personagens mais interessantes de The Walking Dead: é realista e persistente (como se viu nas buscas de Sophia), é leal para com o grupo sem no entanto se comprometer com posições insustentáveis (como aconteceu, por exemplo, Andrea), e não hesita naquilo que tem de fazer. Também Rick evoluiu, impulsionado por uma narrativa de conflito cada vez mais declarado com Shane - um conflito que termina de forma mais ou menos idêntica ao final do primeiro álbum da banda desenhada (há uma diferença, mas não é significativa). Algumas das dúvidas que Rick tem sobre matar ou não matar quem coloca em risco a segurança do grupo surgem na série mais cedo do que na banda desenhada (onde só surgem nos volumes #3 e #4, já na prisão) - e o seu discurso no final da temporada tem muitos ecos do extraordinário discurso do final do quarto álbum. Shane, por seu lado, assumiu cada vez mais o papel de elemento instável do grupo, até ao ponto em que, no final da temporada, se torna abertamente no vilão. Não deixa de ser uma evolução muito interessante: a queda de Shane não se deu, como acontece em muitas outras narrativas, por erros crassos; na maioria dos casos, Shane esteve certo (nas questões do celeiro, de Sophia e mesmo do prisioneiro - apesar de esta ser mais discutível), mas os seus métodos e a sua constante agressividade minaram o seu lugar no grupo.

Entre as novas personagens introduzidas destacaram-se Hershel, a sua filha Maggie e, nos primeiros episódios, Otis. Hershel e Maggie foram fundamentais nos vários conflitos e pontes que se estabeleceram entre o grupo de Rick e a quinta - o primeiro, por oposição; a segunda, por aceitação. 

No resto, os zombies continuaram espectaculares (a equipa de caracterização merece todos os prémios que existirem), e a temporada teve alguns dos momentos mais marcantes de toda a série até agora. O sétimo episódio, Pretty Much Dead Already, será talvez o melhor de ambas as temporadas, dando espaço para que a segunda parte se desenvolva num crescendo que culmina com a perda de algumas personagens relevantes e com dois episódios finais formidáveis. Alguns problemas permanecem (há personagens que continuam pouco desenvolvidas, e o ritmo narrativo, apesar de não ser tão mau como alguns críticos querem fazer crer, podia ser melhor, sobretudo na primeira parte), mas estão muito longe de ofuscar aquela que é uma das melhores séries do momento. Fica aberto o caminho para a próxima temporada de The Walking Dead, com 16 episódios, que estreia já na próxima semana (no dia 14 nos Estados Unidos, e no dia 17 em Portugal). 8.7/10

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