4 de setembro de 2012

A ficção científica e o cinema: Twelve Monkeys

Na semana passada escrevi sobre La Jetée, de Chris Marker. Prova da influência desta curta, Terry Gilliam baseou-se na sua premissa para, em 1995, realizar um dos grandes filmes de ficção científica da década de 90: Twelve Monkeys. Com a inspiração reconhecida desde logo, Gilliam fez mais do que um remake de La Jetée: expandiu o abordagem de Marker para, no seu estilo inconfundível (recordemos o formidável Brazil), criar um inquietante thriller sobre um futuro no qual a Humanidade foi quase erradicada por um misterioso vírus que obrigou os sobreviventes a refugiarem-se debaixo do solo. Os cientistas sobreviventes procuram uma forma de estudar o vírus para criarem uma cura e permitirem o regresso à superfície - e, nesse sentido, desenvolvem tecnologia para viajar no tempo, enviando "voluntários" para o passado com a missão de descobrirem o que puderem sobre o vírus e o enigmático "Exército dos Doze Macacos", responsável aparente pela catástrofe. 

Entre os muitos voluntários está James Cole (Bruce Willis com uma interpretação extraordinária e, diria, injustamente esquecida), enviado por engano para 1990, onde é tomado como um louco e internado num hospício. Lá conhece a psiquiatra Kathryn Railly (Madeleine Stowe), que toma conta do seu caso, e Joffrey Goines (Brad Pitt numa interpretação memorável que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário), um doente mental tão inteligente como paranóico. Cole vive atormentado por um sonho antigo, no qual estava num aeroporto e viu um homem ser abatido a tiro à sua frente - twist que não será surpreendente para quem conhece o filme de Chris Marker.

Assumindo que a revelação do sonho pode ser conhecida à partida, Terry Gilliam expandiu a trama em redor de James Cole e nas suas erráticas viagens a diferentes épocas passadas, no seu envolvimento com Kathryn e na sua busca incessante pelo verdadeiro McGuffin que é o "Exército dos Doze Macacos". Gilliam solta várias pontas para as unir com inteligência no final do filme, numa série ritmada de twists e revelações surpreendentes, que nunca perdem a sua coerência interna. A componente visual inconfundível de Gilliam confere ao filme um tom particularmente sombrio, e os sólidos desempenhos de Willis, Pitt e Stowe dão substância e densidade ao enredo. 

Twelve Monkeys poderá não ter o impacto de La Jetée, mas continua a ser uma tributo formidável de Terry Gilliam ao clássico de Chris Marker, uma reinvenção contemporânea e muito pessoal de uma das melhores premissas que o cinema de ficção científica já conheceu. Numa época em que o "grande" cinema parece assentar em sequelas e prequelas, remakes e reboots, seria bom que os realizadores do presente olhassem para este clássico de 1995 para perceberem como se faz. 8.5/10

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