13 de julho de 2012

Discworld: Mort

De acordo com o concurso (a sondagem, se preferirem) "Big Read", organizada pela BBC no Reino Unido em 2003, Mort (1987) é um dos 100 livros preferidos do público britânico e, na vasta série Discworld de Terry Pratchett, aquele  que mais cativou os leitores. Ainda só li os cinco primeiros livros da série (isto aos poucos vai), mas posso dizer que Mort é, de facto, um dos livros mais divertidos que li até hoje, uma extraordinária paródia do início ao fim - notas de rodapé incluídas

Quem conhece Discworld estará certamente muito familiarizado com a Morte, o esquelético grim reaper clássico, com manto negro e gadanha, dono de um sentido de humor particularmente seco, sarcástico e mordaz. Com um discurso sempre em LOW CAPS (que não consigo reproduzir aqui, infelizmente) a Morte é, como o nome indica, responsável pela passagem dos vivos para "o outro lado" após morrerem, tarefa que pode contudo ser delegada (excepto no caso das bruxas e dos feiticeiros, que a Morte recolhe pessoalmente). Mas também a Morte precisa de ajuda de vez em quando, e é aqui que entra Mortimer, mais conhecido por Mort, um jovem rapaz que, na opinião do seu pai, é demasiado dado à introspecção e por isso não revela aptidão para qualquer trabalho que seja. Quando a Morte lhe oferece um emprego como seu assistente, Mort aceita, já que morrer não é necessário para o desempenho das suas funções. No entanto, quando começa a ganhar alguma prática no trabalho, decide salvar uma princesa que devia morrer - e a partir desse momento, instala-se o caos em Discworld (como se tal fosse novidade).

Mort é extraordinário na forma como dá à Morte - até então uma personagem recorrente, mas secundária - o protagonismo. E se em livros anteriores as suas breves aparições já eram hilariantes, aqui superam-se sucessivamente (basta ver a sua procura de emprego). É Pratchett no seu melhor, como se pode ver no curto trecho transcrito abaixo:

Death was standing behind a lectern, poring over a map. He looked at Mort as if he wasn't entirely there. 
YOU HAVEN'T HEARD OF BAY OF MANTE, HAVE YOU? he said.
'No, sir,' said Mort. 
FAMOUS SHIPWRECK THERE. 
'Was there?' 
THERE WILL BE, said Death, IF I CAN FIND THE DAMN PLACE.

A passagens como esta - e são muitas - junta-se uma excelente galeria de personagens (onde figuram Ysabell, filha adoptiva da Morte, Albert, o empregado da Morte - com um segredo muito interessante - e o cavalo Binky), uma narrativa fluída e frequentemente non-sense, e, claro, as habituais descrições do universo de Discworld, de Ankh-Morpork e Sto Helit aos domínios da Morte. Sem esquecer as famosas notas de rodapé de Pratchett - e Mort tem algumas extraordinárias. Não sei se será o melhor livro de Discworld, mas é sem dúvida formidável. 

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