29 de junho de 2012

Rendezvous With Rama

O primeiro desafio Arthur C. Clarke coloca ao leitor com Rendezvous With Rama (1972) é de perspectiva, implodindo qualquer noção de familiaridade ao apresentar um mundo cilíndrico - no interior do cilindro. É um pouco como a ideia antiga da Hollow Earth, mas alguns passos mais à frente - um mundo completo com cidades e mares construído na superfície interior de um gigantesco cilindro oco a viajar pelo espaço.

Está então apresentado Rama, nome dado a um misterioso objecto que é detectado ao entrar no Sistema Solar, num futuro no qual a Humanidade já se expandiu para fora da órbita da Terra e colonizou vários planetas e luas. É, inicialmente, tomado por um asteróide; no entanto, essa teoria cai por terra quando análises à sua trajectória indicam não estar a orbitar o Sol. Mais: indicam que aquele objecto é um cilindro perfeito e gigantesco, completamente liso, com um movimento de rotação incrivelmente rápido. O que torna evidente que não pode ser um objecto natural - foi criado por alguém, e poderá ser uma nave espacial. De imediato é preparada uma missão, liderada pelo Comandante Norton da nave Endeavour, para chegar a Rama e tentar perceber o que é, de onde vem e qual é o seu objectivo antes de se aproximar demasiado do centro do Sistema Solar e de o Sol inviabilizar qualquer tentativa de exploração. 

Rendezvous With Rama é a história da tripulação da Endeavour durante a sua exploração de Rama - com todo o engenho e toda a improvisação que foi necessária para tentarem desvendar os mistérios daquele artefacto extraterrestre. Clarke desenvolve a narrativa a um ritmo perfeito, com capítulos curtos e intensos, mostrando aos poucos as maravilhas que a tripulação, qual exploradores de outros tempos, vai descobrindo naquele estranho mundo cilíndrico onde o familiar assume frequentemente formas estranhas e o estranho está para lá da mais rebuscada imaginação. Não é dada especial atenção à caracterização das personagens, pois a verdadeira personagem não faz parte da Endeavour - é, sim, a própria Rama; e toda a concepção de Rama é um prodígio que desafia constantemente a percepção do leitor ao apresentar o impossível de forma tão plausível e rigorosa. É frequentemente considerado um dos grandes livros de Clarke, e uma obra fundamental na hard science fiction; quando foi publicado, venceu os prémios Nébula e Hugo. Percebe-se bem porquê.

(Seria fascinante ver Rendezvous With Rama adaptado para o cinema - e não sou só eu a dizê-lo. Morgan Freeman está há mais de uma década envolvido no projecto que teima em não sair do development hell. David Fincher é um dos realizadores apontados para o projecto, mas, ao que parece, falta ainda um guião realmente bom. Que seja escrito, e depressa.)

8 comentários:

Artur Coelho disse...

a descrição inicial do primeiro impacto aquando da entrada dos astronautas no gargantuesco o'neill é daquelas imagens literárias que ficou gravada na minha mente.

Anónimo disse...

Ainda não li o livro, na verdade estou tendo dificuldades de encontrá-lo. Sempre está indisponível e até entendo isso!

Mas mesmo não tendo lido,só pela história em si, adoraria vê-lo na Tela!

João Campos disse...

Artur, a mim o livro prendeu-me desde a entrada até cada detalhe da exploração daquele mundo. Se bem me lembro, foi dos livros que li mais rapidamente - não conseguia mesmo parar.

João Campos disse...

critica, a edição que eu tenho é a da SF Masterworks, muito fácil de encontrar na Amazon (ainda que tenha comprado a minha numa livraria em Lisboa). Sei que em Portugal há uma edição antiga, que nunca li e de cuja tradução desconfio; não sei se foi traduzida e publicada no Brasil.

Mas que vale a pena ler... sem dúvida.

Rogério Ribeiro disse...

A edição é da EA, e, pelo que recordo, não é má de todo. Mas a memória pode estar a atraiçoar-me! ;)

Rogério

João Campos disse...

Não sei, verdade seja dita. É possível que seja - a EA nem sempre mete os pés pelas mãos (ver Tolkien). Eu é que sou naturalmente desconfiado. Como sabes (acho eu), iniciei-me na literatura de ficção científica com a tradução de "The Snow Queen", da Joan Vinge, naquelas edições de bolso da... Livros do Brasil? Acho que é isso. Não importa: jurei solenemente nunca mais repetir a graça. Foi por essas e por outras que me dediquei tanto a aprender inglês!

Anónimo disse...

Ná. O Rama foi primeiro publicado pela Livros do Brasil na Argonauta; as sequelas todas (que nunca li nem tenciono ler) saíram na EA. O Snow queen é que foi primeiro (e só) publicado pela EA na colecção FC de bolso.

João Campos disse...

Isso, Anónimo. No entanto, a tradução de The Snow Queen (livro de que gostei muito apesar das vírgulas erráticas da edição portuguesa) afastou-me daquele tipo de traduções. É bem possível que haja por aí algumas competentes, mas nesta altura do campeonato já não são para mim.