4 de junho de 2012

Julgar o livro pela capa (3)

Uma trope interessante das invasões extraterrestres na ficção científica consiste na chegada de naves gigantescas que entram no planeta e ficam a pairar sobre as principais cidades - por vezes com más intenções. É provável que muita gente se lembre desta trope a propósito do filme Independence Day, de 1995, mas ela é bem mais antiga. Não sei se foi Arthur C. Clarke quem a criou em 1953 com Childhood's End, que sem dúvida um dos seus melhores livros. Ao longo dos anos, Childhood's End tem tido algumas capas particularmente evocativas, capturando muito bem este motivo sem no entanto revelar o que está realmente em causa na chegada dos extraterrestres, como aquelas que apresento abaixo (julgo que algumas edições tiveram capas com um spoiler do tamanho de um elefante, mas não é o caso destas). 

Esquerda: edição antiga da Pan Science Fiction, com a ilustração da nave a chegar à cidade e o pânico generalizado; Direita: não me lembro qual é a edição desta capa, mas encontra-se facilmente nas livrarias hoje em dia. Ilustração mais "realista", e também bastante boa.

Duas edições da colecção SF Masterworks, da Gollancz - a da esquerda é uma edição mais antiga, enquanto a da direita é a (re)edição actual. É a mesma ilustração com diferentes cores (pessoalmente, prefiro a antiga). Existe ainda uma terceira ilustração de Childhood's End nesta colecção. 

4 comentários:

Artur Coelho disse...

devo observar que sou grande fã da primeira, com aquele estilo retro tão icónico e reminiscente de eras douradas tecno-científicas; e da última. londres como pano de fundo é uma escolha estranha, mas em termos de composição as fortíssimas manchas de cor dão-lhe um equilíbrio abstracto, realçado pelo contraste de tons dominantes. mas... olhando para o livro, as capas recentes estão um bocadinho distantes do espírito da obra.

joão campos disse...

O problema é que, em Childhood's End, mostrar o espírito da obra é fazer um valente spoiler. A chegada das naves e a sua paragem sobre as cidades é, como sabes, apenas a ignição de uma narrativa que vai muito para lá desse ponto. Daí ter referido, ainda que de forma vaga, àquela capa em que se vê determinado "alien" a "espreitar" de uma nave (e aqui a forma é tudo). E nem esse é o ponto dominante, verdade seja dita!

A primeira capa é de facto muito boa. Sobre a ideia de Londres - na edição que tenho (a vermelha/amarela hardcover da SF Masterworks), há algumas notas no final, e numa delas, Arthur C. Clarke recorda o dia em que, de longe, assistiu aos bombardeamentos de Londres pela Alemanha nazi. Essa imagem permaneceu sempre muito viva na sua memória, e foi uma das principais influências para a ideia de os extra-terrestres chegarem e se posicionarem precisamente sobre as principais cidades. Vistas as coisas por esse prisma, a imagem de Londres faz todo o sentido (e, passe o comentário, é preferível a mais uma imagem de Nova Iorque, Los Angeles ou Washington DC).

Artur Coelho disse...

yep, mas com o gherkin em proeminência...

João Campos disse...

Foi para dar folga ao Big Ben :)