26 de junho de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: Aliens

Realizar a sequela a uma obra-prima é uma tarefa que não está ao alcance de todos: a muitos faltaria a arte, e à maioria faltaria mesmo a coragem. A James Cameron não faltou uma ou outra quando decidiu realizar Aliens (1986).

Percebendo que não poderia limitar-se a repetir a fórmula do filme original de Ridley Scott para gerar aquele horror claustrofóbico que tornara Alien num filme tão especial, Cameron optou por mudar de registo: passou da combinação de ficção científica, suspense e horror para uma ficção científica mais orientada para a acção, sem contudo abdicar do suspense e de alguns sobressaltos. This time there’s more, anunciava a frase promocional do filme; e fiel à sua promessa, Cameron mostrou em Aliens muitos xenomorphs (e evitou de forma muito elegante a denominação “Alien 2”), e procurou dar algumas respostas que Scott omitira no primeiro filme (e que, com franqueza, não eram relevantes para o filme). Nomeadamente, a origem dos “ovos” de onde saiu o facehugger que atacou Kane e lhe plantou um xenomorph nas entranhas. A solução encontrada por Cameron é para muitos discutível, talvez por ser tão óbvia, mas pessoalmente gosto muito da Alien Queen.

Em Aliens, Ellen Ripley (Sigourney Weaver, uma vez mais) deixa de ser a sobrevivente do primeiro filme para assumir definitivamente o papel de heroína de acção. Encontrada após mais de cinquenta anos a vaguear em sono criogénico pelo vazio do espaço, Ripley é convidada a regressar a LV-426 - o planeta onde o xenomorph foi encontrado pela infeliz tripulação da Nostromo. O planeta fora entretanto colonizado, mas o contacto com a colónia foi interrompido. Desta vez, porém, ao invés de ter por companhia uma tripulação civil, Ripley é acompanhada por um pelotão de Marines cuja confiança nas suas capacidades apenas é comparável ao poder de fogo que transportam consigo. Mas o título do filme não alude aos Marines, mas aos xenomorphs, aos Aliens - e já sabemos como estes encontros costumam acabar.

Enquanto filme de acção, Aliens é um triunfo de James Cameron - perfeito no ritmo e excelente nos efeitos especiais (para a época), com uma excelente caracterização das personagens e um argumento bastante sólido (basta pensarmos na quantidade de deixas do filme que fazem hoje parte da cultura popular). Ripley evoluiu da sobrevivente solitária de Alien para uma autêntica heroína de acção, personagem que seria quase masculina não fosse a sua forte ligação maternal a Newt. Lance Henriksen brilha no papel do andróide Bishop, que, longe do frio calculismo de Ash no primeiro filme, procura ajudar Ripley a sobreviver ao terror dos xenomorphs. Carrie Henn, no único papel da sua carreira, representou uma Newt inesquecível, simultaneamente frágil e corajosa. O resto das personagens encaixa nos estereótipos da praxe - Marines, o tipo da corporação -, mas conseguem na sua maioria ter interesse e densidade suficientes para serem mais do que carne para canhão (mesmo que, na prática, sejam apenas carne para canhão).

O horror, esse, ficou um pouco remetido para segundo plano, mas Aliens tem momentos mais do que suficientes para justificar alguns saltos da cadeira ou do sofá. Os cenários mantiveram a influência original de H.R. Giger, que, combinados com os tons predominantemente sombrios em todo o filme, com os espaços apertados onde as personagens se movem e, claro, com a grande quantidade de xenomorphs, asseguram que há espaços escuros e claustrofóbicos mais do que suficientes para entusiasmar os adeptos do horror.

Não costumo entrar na discussão sobre qual dos filmes é melhor: se o primeiro, de Scott, ou se este, de Cameron. Há quem diga que Aliens supera o Alien; pessoalmente, prefiro o original, mas considero que esta sequela tem imenso mérito, e continua a ser um filme de cortar a respiração. Fossem todas assim. 8.8/10

(adaptado deste post do Delito de Opinião)

2 comentários:

Loot disse...

Nem mais, acabam por ser filmes bastante distintos e cada um domina no seu género.

Sobre a Rainha, gosto, mas leva-me a crer que esta espécie devia entrar rapidamente em extinção. É que é preciso que um dos infectados tenha uma rainha. É que ao contrário das abelhas estes aliens nascem em muito menor quantidade. Veja-se o alien em prometheus, se for macho como continua a espécie?

Quanto ao terror, há uma cena em particular que me ficou cravada na memória, quando fecham Ripley e a miúda numa sala com dois facehuggers :S

João Campos disse...

Essa cena dos facehuggers é de facto extraordinária...