18 de maio de 2012

The Forever War

The Forever War, the Joe Haldeman (1974) é um exemplo perfeito da ficção científica que coloca num enquadramento futuro temas do presente para sobre eles reflectir com maior desprendimento - e, frequentemente, com maior acutilância. Neste caso, o tema é a guerra (e a sua derradeira falta de sentido), a partir do ponto de vista de William Mandella, estudante brilhante recrutado para o exército com o objectivo de combater na guerra com os Taurans, uma misteriosa raça de extra-terrestres que atacou naves de colonização humana. Joe Haldeman foi, ele mesmo, um veterano do Vietname, pelo que as descrições do campo de recruta e de combate dificilmente poderiam ser mais realistas. Mandella junta-se a outros recrutas - todos com QI elevado e currículos académicos exemplares - para um período de recruta brutal em Charon, e depois embarca para o espaço profundo através das collapsar utilizadas para viajar a velocidades superiores às da luz, e assim chegar às zonas de batalha mais distantes.

É neste ponto que entra o tema central de The Forever War: considerando a teoria da relatividade como válida, a passagem do tempo para os soldados a bordo das naves de batalha é diferente daquela verificada no mundo que deixaram para trás - e que juraram defender. Para Mandella e os restantes soldados na frente de combate, passam-se alguns meses, poucos anos; mas na Terra, várias décadas passaram - e é com choque e surpresa que os militares sobreviventes regressam ao seu planeta-natal após uma longa campanha para encontrar um mundo radicalmente diferente daquele que deixaram. Haldeman jogou de forma brilhante com este conceito para ilustrar o deslocamento sentido pelas tropas quando regressam da guerra e se tentam reintegrar num mundo que já não conhecem, do qual já não fazem parte - e que já não tem lugar para eles, tendo avançado ao seu próprio ritmo e com as suas próprias condicionantes, privada das suas mentes mais brilhantes, consumidas pelo esforço de uma guerra espacial à escala galáctica. O mundo que Mandella encontra no seu regresso é uma autêntica distopia política, económica e social, uma de muitas que se sucederam durante os poucos anos que esteve ausente - que foram muitos, na sua ausência. Ao ponto de compreender que a guerra, que viveu de forma tão dura por tão pouco tempo, é o único mundo que lhe resta. 

The Forever War distingue-se de uma parte relevante da ficção científica ao ter em consideração a passagem do tempo em relatividade, com todas as suas consequências - das alterações sociais ao constante jogo do "gato e do rato" entre a Humanidade e os Taurans pela supremacia bélica quando as batalhas estão a distâncias - espaciais e temporais - incompreensíveis para um homem comum. Sem esquecer as próprias relações humanas, tornadas impossíveis a partir do momento em que a separação espacial implica uma separação temporal que se torna inevitavelmente permanente. Haldeman não foi, é certo, o único escritor a recorrer a este tema (podia nomear alguns bons exemplos), mas poucos terão alcançado o mesmo impacto e realismo. Mas aqui, mais do que ser um plot device, esta questão da relatividade é o centro da história, sustentando as várias ramificações do enredo e as diferentes questões que o autor levanta, e sobre as quais convida o leitor a reflectir. 

Joe Haldeman tem em The Forever War mais do que uma space opera, e mais do que um clássico incontornável da ficção científica - tem uma obra notável sobre a guerra e sobre os efeitos indeléveis que esta deixa naqueles que lhe sobrevivem, e uma reflexão sobre a sua própria experiência colocada num futuro plausível e extraordinariamente rico. Este futuro é descrito de forma extraordinária, num estilo sólido e com um ritmo narrativo perfeito. Na edição que possuo, da colecção SF Masterworks, o escritor Peter F. Hamilton descreve The Forever War como "a book that's damn near perfect". E é mesmo. Está, sem dúvida, entre a melhor ficção científica que já li. 

3 comentários:

Anónimo disse...

Ele há coisas. Ainda há dias recebi precisamente esta edição para relê-lo passados mais de 20 anos sobre a leitura original. Mas do que me lembro concordo a 100% com esta opinião, e com a do Peter Hamilton, claro!

joão campos disse...

Acabei de o ler ontem (hoje de madrugada, vá). É formidável, sobretudo pelo realismo. É certo que muita da ficção científica que lemos e vemos só funciona ao ignorarmos algumas regras elementares (a da relatividade nas viagens, por exemplo) - e nem há mal nenhum nisso. Mas é excelente encontrar-mos uma história que usa precisamente esse elemento como a sua principal força.

Isto de fazer listas é sempre complicado, mas se fosse (re)fazer uma agora, acho que o colocava entre os cinco primeiros.

joão campos disse...

*encontrarmos, evidentemente.