6 de abril de 2012

Starship Troopers

Mais do que contar uma história, Starship Troopers, obra polémica de Robert A. Heinlein, recorre aos mecanismos de uma narrativa de ficção para desenvolver um longo - e muito interessante - ensaio militar, político e mesmo social. De facto, muitos são os momentos em que temos a sensação de que a trama - a progressão de "Johnnie" Rico na "Mobile Infantry" durante o conflito espacial com uma espécie alienígena, os "Aracnídeos" - tem como único propósito servir de veículo à visão da sociedade futurista que Heinlein descreve: uma sociedade saída da queda das democracias ocidentais do século XX, e que vive naquilo a que (muito livremente) chamaria de "democracia militar". Nesta sociedade, os direitos plenos de cidadania apenas são adquiridos após a conclusão de um período de serviço militar voluntário; quem não o fizer, não poderá votar ou candidatar-se a cargos públicos, mantendo porém outros direitos cívicos como liberdade de expressão ou de associação. Os castigos corporais são relativamente comuns, também.

As personagens, essas, mais do que serem fundamentais à evolução do enredo, são fundamentais à reflexão do próprio autor. Por exemplo, é através do Coronel Dubois e das suas aulas de História e Filosofia Moral, recordadas em constantes analepses, que uma parte significativa da mensagem da história é transmitida - e é através da recordação de Johnnie dos constantes debates daquelas aulas que o leitor compreende a formação daquela sociedade, e os diferentes factores que a sustentam. Para além de o próprio Dubois ser uma fonte aparentemente inesgotável de conhecimento militar, histórico e táctico, que Heinlein não se cansa de partilhar com o leitor.

Mas não se pense que Starship Troopers, sendo uma obra tão marcadamente ideológica, perde por isso a sua qualidade narrativa. A verdade é que a história, apesar de relativamente simples, funciona muito bem, e a constante ideologia presente não impede o leitor de "entrar" realmente naquele mundo - ajuda-o, aliás, na percepção de todo o enquadramento narrativo. Para além, claro, de todas as cenas do treino militar, e da acção frenética, sempre na primeira pessoa, dos combates. E, claro, da escrita de Heinlein - simples, fluída, ritmada.

Mas Starship Troopers não foi (é) apenas um livro polémico - é também uma obra extremamente influente, e não só em termos literários - não fosse, afinal, Heinlein um dos "três grandes" da ficção científica, a par dos mestres Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. O filme foi transposto para o cinema em 1997 por Paul Verhoeven, numa adaptação simpática que deixa a filosofia de lado para se focar na acção. Mas a influência de Starship Troopers é anterior ao filme. Aliens, de James Cameron, tem influências óbvias da obra de Heinlein. E os próprios criadores do jogo Starcraft reconheceram a obra como uma das influências determinantes na criação daquele universo.

Adaptado deste post do Delito de Opinião

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