14 de março de 2012

O Red Wedding de Shepard (ou: um bom final é um final bom?)

Parece que os fás de Mass Effect 3 estão furiosos com o final - ao ponto de estarem mesmo a constituir um movimento on-line para exigir à produtora do jogo um final alternativo. Exagerado? Sem dúvida - um dos traços mais marcantes do actual mundo on-line é, justamente, o exagero a que as pessoas se dão na crença de que é possível fazer movimentos com significado a partir do que quer que seja. Enfim, ainda nem vou a metade do jogo, pelo que é possível que, daqui a uma ou duas semanas, eu perceba que a coisa de facto não tem ponta por onde se lhe pegar e, de archote e forquilha em riste, me junte à turba. No entanto, e até ver, julgo que neste caso em particular talvez o efeito dacontestação seja exactamente o oposto daquele que os contestatários pretendem atingir. Tal como diz Ben Kuchera nesta análise no Penny Arcade (que não li na íntegra para não absorver demasiados spoilers),


Ora isto faz-me mesmo lembrar A Song of Ice and Fire, de George R.R. Martin, e a brutalidade que é para o leitor a passagem do Red Wedding, em A Storm of Swords. Há relatos de imensos leitores devastados com aquele momento (livros a ser atirados à parede e tal), que mais do que qualquer outro mostra quão diferente a obra de Martin é da generalidade da fantasia épica publicada. No clímax de alguns capítulos de angústia em crescendo, ao longo dos quais o leitor sente que alguma coisa está errada e que algo de terrível vai acontecer, o autor dá o golpe de mestre, na cena de particular violência (também emocional) a que designou de Red Wedding - um verdadeiro massacre que revela, ao mesmo tempo, que os "bons" não estão a salvo, que os "maus" podem mesmo cometer as maiores atrocidades e escapar incólumes (mesmo que temporariamente), e que o mundo pode de facto ser um lugar particularmente cruel.

Para que se note, e uma vez mais, ainda não cheguei ao final de Mass Effect 3 (longe disso; quando acabar, haverá review), apesar de alguns indícios que apanhei aqui e ali me levarem a suspeitar, com elevado grau de certeza, que a coisa vai ser mais próxima de um Red Wedding do que de um and they lived happily forever after. Força nisso. Há muito tempo que os videojogos deixaram de ser um meio menor; se um jogo conseguir fazer-me sentir algo idêntico ao que senti quando li a passagem do Red Wedding, ou o poderosíssimo final de Childhood's End, the Arthur C. Clarke, ficarei mais do que satisfeito.

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