5 de março de 2012

O eterno retorno

No Scifiworld: Joel Kinnaman confirmado como o novo Robocop. A minha questão é: precisávamos mesmo de um novo Robocop?

Um dos grandes problemas do cinema actual é justamente isto: o eterno retorno, a eterna repetição não de temas - o que seria aceitável - mas dos próprios filmes. O cinema em geral e a ficção científica em particular não necessitam de um novo Robocop - há o original de Paul Verhoeven, que não sendo uma obra-prima é um filme moderadamente interessante, e algumas sequelas duvidosas. Tal como, por exemplo, não é de todo necessário um remake ao Total Recall, que já está na calha - o original, também de Paul Verhoeven (há aqui um padrão?), é também bastante bom. Já todos os vimos várias vezes, já sabemos várias deixas de cor. O que falta nestes filmes? Outros actores? Efeitos especiais melhorados? 3D? Chega.

Isto é particularmente frustrante quando, falando apenas em argumentos adaptados, já um filão gigantesco para explorar na ficção científica. Rendezvous With Rama, de Arthur C. Clarke, está há anos no development hell. The End of Eternity, de Isaac Asimov, também poderia dar um belo filme (para nem falar de Foundation). E, por Deus, como é que nunca ninguém se lembrou de adaptar ao cinema The Moon Is a Harsh Mistress, de Robert A. Heinlein? Ou do Gateway, de Frederik Pohl? Ou de The Stars My Destination, de Alfred Bester? Ou do The Snow Queen, da Joan D. Vinge? É evidente que estou apenas a falar dos mais óbvios, mas são alguns exemplos de narrativas perfeitamente adaptáveis para o cinema, e que nas mãos de um argumentista e de um realizador com talento, poderiam resultar em grandes filmes, até mesmo em clássicos. E, convém sublinhar, bem mais interessante do que assistir ao remake - provavelmente em 3D - de um filme que todos já vimos mais vezes do que nos lembramos, é ver um filme novo, baseado numa história nova, que tenha algo de novo para contar. Ou que, pelo menos, nos conte a história de sempre de uma forma diferente. A regra, no entanto, parece ser outra - a aposta nas fórmulas seguras de filme-pipoca de Verão (quantos mais filmes de super-heróis teremos de aturar?) tão cheios de CGI como vazios de conteúdo ou de narrativa palpável, e a produção de remakes de filmes mais lembrados do que relembrados, na esperança de que a nova capa (3D, certamente) mais brilhante torne boa uma coisa que já no original era assim-assim. 

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