31 de março de 2012

Crítica: The Hunger Games

Não li ainda a trilogia de Suzanne Collins que inclui The Hunger Games, Catching Fire e Mockingjaw. No entanto, num ano repleto de sequelas e remakes, estava curioso quando à adaptação cinematográfica de The Hunger Games, o primeiro volume da trilogia. Realizado por Gary Ross, o filme conta com Jennifer Lawrence (nomeada para o Óscar de Melhor Actriz em 2010 pelo seu desempenho em Winter's Bone), Liam Hemsworth, Lenny Kravitz (sim, esse mesmo), Woody Harrelson e Donald Sutherland, entre outros.

Não podendo falar dos aspectos da adaptação, vou-me restringir ao filme em si. Diria que The Hunger Games é um filme bastante aceitável - tem momentos muito bons, um contexto interessante e uma história com potencial. Jennifer Lawrence tem um desempenho excelente no papel da protagonista, Katniss Everdeen - mas, diga-se de passagem, é a única personagem com um desempenho acima da média no filme (apesar de Woody Harrelson ter alguns momentos inspirados e de Donald Sutherland, enfim, ser Donald Sutherland). Aliás, um dos problemas do filme reside justamente nas personagens - as únicas realmente interessantes são Katniss e Rue. Seria óptimo que os "vilões" - no caso, os miúdos de outros distritos - tivessem um pouco mais de densidade e de motivação, mas para todos os efeitos são apenas um bando de miúdos que 1) fazem um autêntico massacre no início do jogo e 2) juntam-se numa matilha acéfala e desprovida de personalidade (e de inteligência, já agora) para caçar Katniss, sem que a motivação para tal seja clara. Mesmo Peeta é um personagem algo  desinteressante, apesar de cumprir o seu papel de forma minimamente competente (o filme teria ficado a ganhar se tivesse morrido no final).

A história é simples: na nação de Panem, todos os anos são escolhidos dois jovens - um rapaz e uma rapariga, designados por "Tributos" - de cada um dos 12 distritos, para se enfrentarem nos "Hunger Games", um misto de arena romana em modo deathmatch com Survivor que só termina quando apenas um dos concorrentes estiver vivo. Aparentemente, estes jogos servem para manter viva a memória da rebelião (falhada) dos distritos contra o poder central. No distrito 12, Katniss Everdeen oferece-se como voluntária quando a sua irmã mais nova é seleccionada, evitando assim que ela entre nos Jogos para um fim trágico. Katniss vai então - juntamente com Peeta, também seleccionado pelo distrito 12 - para Capitol, onde é "apresentada" ao público e aos restantes participantes nos Jogos. Até que são deixados à sua sorte numa arena onde a única regra é matar para não morrer. Há excelentes momentos aqui (o massacre inicial, as cenas com Rue), mas a narrativa, apesar de conter uma ou duas surpresas, é no geral francamente previsível (a maçã, a mudança nas regras, as bagas). Os cenários são muito bons - Capitol está excelente - mas teriam ficado a ganhar com um operador de câmara sóbrio. Na primeira parte do filme, ainda no distrito 12, a câmara não pára quieta um segundo - anda aos saltos, não se consegue focar em praticamente detalhe nenhum, numa espécie de "Saving Private Ryan desembarca na praia de Omaha durante um terramoto de grau 9 na escala de Richter". Mais tarde a coisa melhora um pouco - provavelmente despediram o primeiro cameraman - mas o mal está feito.

The Hunger Games é um filme interessante e com potencial. Infelizmente, esse potencial é minado por algumas falhas técnicas e por um argumento pouco ousado, incapaz de explorar as boas ideias que apresenta (por exemplo, a explicação para a realização dos Jogos ao invés de execuções sumárias, que constitui um dos melhores momentos do filme) e mesmo as capacidades dos próprios actores. De qualquer forma, The Hunger Games é um bom entretenimento, e quem teme que a série se venha a tornar no próximo fenómeno Twilight pode ficar descansado: a adaptação dos livros de Suzanne Collins é infinitamente superior à história dos vampiros brilhantes. Mas também não esperem desta adaptação o próximo The Lord of the Rings. 6.5/10

Crítica recomendada: The Hunger Games, por Abigail Nussbaum (via Trëma).


(texto editado para eliminar algumas repetições irritantes. vou tentar não escrever a palavra "bastante" nos próximos cinco posts)

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