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1 de agosto de 2014

As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy, Volume II: Apocalipse: Proporções bíblicas

Depois das Incríveis, era inevitável que se seguissem as Extraordinárias - e refiro-me, como é evidente, às aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy, a banda desenhada escrita por Filipe Melo e ilustrada por Juan Cavia e Santiago Villa que em 2011 viu publicada a sua segunda parte, intitulada Apocalipse. Um título sem dúvida apropriado, sobretudo se considerarmos o desafio que terá decerto colocado aos autores. Afinal, o primeiro volume da série adquiriu uma enorme popularidade, fruto da história bem construída e bem humorada, inspirada nas aventuras cinematográficas de outros tempos e bem ancorada em referências, alusões e easter eggs; e a ilustração inspirada soube explorar a narrativa e elevá-la com talento e com uma grande atenção ao detalhe. 

Será talvez difícil, após a leitura de As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy, não chegar à conclusão de que Melo, Cavia e Villa foram absolutamente bem sucedidos no desafio que se propuseram: conseguiram demonstrar que a premissa original não se esgotou no primeiro álbum, mas que pode ser explorada em novas histórias de forma ao mesmo tempo próxima e distante da original. Cedendo à tentação de pegar no "gancho" que deixou no final do primeiro volume - a invasão alienígena que leva o grupo a reunir-se de novo -, Filipe Melo arriscou numa elipse que transportou a história alguns anos para o futuro e para as vidas pacatas que as personagens levam: Dog e Pazuul no seu gabinete sem muito que fazer, Eurico a trabalhar num call center com o seu amigo Vasco (a subversão ao título é interessante, e quase parece indiciar um subtexto de comentário social). 

E nesse futuro o Apocalipse bíblico está iminente, surgindo interligado com a história - tão portuguesa, afinal - das aparições de Fátima, e dando aos autores um pretexto único para alargarem os horizontes da trama para lá de Lisboa. O prólogo, por exemplo, abre em pleno Vaticano, e no decorrer da acção os heróis terão de fazer uma viagem atribulada ao santuário de Fátima, com o propósito de descobrir algumas pistas sobre os acontecimentos em curso e de obter uma aliada surpreendente - naquela que será talvez a passagem mais divertida de toda a série. 

No que ao enredo diz respeito, Filipe Melo provou estar uma vez mais, e passe a expressão, a jogar em casa. A história flui pelas vinhetas com um ritmo frenético e aquele delicioso sabor pulp das grandes aventuras sobrenaturais, exageradas e divertidíssimas. Os clichés continuam a ser uma constante, intencionais como sempre, e invariavelmente bem desmontados pelos acontecimento ou por alguma deixa mais oportuna (o piano a cair, os quatro cavaleiros, os zombies - mais interessantes sobretudo quando se repara que o prefácio foi escrito por George Romero) - nada ali surge por acaso, ou por mera conveniência. E há os momentos de humor puro, a todos os níveis hilariantes - a Bíblia infantil, a batalha no Marquês de Pombal com um tuno muito infeliz, a sessão de pancadaria final que surge fora das pranchas para surgir descrita por Dog (e pelas expressões de Pazuul) de forma tão vaga quanto sugestiva. 


A complementar e a avolumar a trama tecida por Filipe Melo está a ilustração notável de Juan Cavia e Santiago Villa - o traço cada vez mais seguro, as cores sempre perfeitas, as personagens expressivas mesmo quando o ponto é a sua inexpressividade. Cavia e Villa deliciam os leitores com algumas imagens memoráveis da Lisboa apocalíptica, como o choque de titãs no Marquês, a praga de gafanhotos sobre as Amoreiras ou a visão da Outra Banda, junto à Ponte 25 de Abril, com o céu de tom vermelho-sangue. O talento desta dupla de ilustradores argentinos já tinha ficado bem patente no primeiro álbum, mas neste segundo decidiram subir a parada - e fizeram-no com mestria, como se pode ver. 

Dada a qualidade superlativa do primeiro volume, é difícil argumentar que este Apocalipse seja um daqueles raros casos em que - recuperando a comparação com o cinema, arte sempre tão presente nas histórias de Dog Mendonça e Pizzaboy - a sequela se revela melhor que o original. Mas será sem dúvida um daqueles casos, igualmente raros, em que a sequela conseguiu alcançar a fasquia do original, e abrir-lhe novas possibilidades sem se afastar da fórmula que se revelou tão bem sucedida. Se em 2011 ainda fosse necessário demonstrar os méritos e a singularidade de Dog Mendonça e Pizzaboy no panorama da banda desenhada nacional, este Apocalipse seria mais do que suficiente para dissipar todas as dúvidas. 

6 de maio de 2014

Scott Pilgrim vs. The World: O romance na era da interactividade

Coloquemos a premissa da seguinte forma: Scott Pilgrim é um jovem canadiano que leva uma vida pouco atribulada entre a sua desocupação generalizada, o seu hobby de tocar baixo numa banda com amigos de liceu e a sua ressaca amorosa. Até ao dia em que conhece a rapariga dos seus sonhos, e decide fazer tudo para ficar com ela - incluindo lutar contra os sete ex-namorados dela. Esta sinopse pode resumir na perfeição o filme Scott Pilgrim vs. The World, filme de 2010 realizado por Edgar Wright que adaptou para o grande ecrã a série de seis graphic novels de Bryan Lee O'Malley. E, no entanto, não diz rigorosamente nada sobre o filme em si - descreve-o na sua forma mais elementar de comédia romântica, que de facto é, sem dar a mais pequena ideia de tudo aquilo que o torna num dos filmes mais irreverentes, originais e over the top deste novo milénio. 

E essa irreverência nota-se logo nos instantes que antecedem o filme, quando se ouve a música tradicional da Universal, a distribuidora do filme, numa versão 8-bit reminescente dos videojogos de arcada e de consolas que hoje são relíquias de coleccionadores e de fãs nostálgicos. Essa referência não surge por acidente: para além da cena inicial na arcada (já agora: onde se pode encontrar uma arcada daquelas?), toda a premissa é explorada, tanto em termos narrativos como em termos estéticos, numa miscelânea entre a imagética da banda desenhada e o estilo frenético, garrido e excessivo dos videojogos clássicos.


Regressemos à premissa premissa: Scott Pilgrim (Michael Cera) é um jovem de 22 anos com uma vida no mínimo curiosa. Divide um cubículo com Wallace Wells (Kieran Culkin), um dos seus melhores amigos (e homossexual), mesmo em frente à casa onde cresceu. Toca baixo numa banda chamada Sex Bob-Omb (o nome soa tão bem) com dois antigos colegas de liceu: o seu amigo Stephen Stills (Mark Webber) e a sua ex-namorada Kim Pine (Alison Pill). E namora com Knives Chau (Ellen Wong), uma rapariga chinesa cinco anos mais nova, que ainda estuda no liceu. Mas tudo se vai complicar quando conhece - literalmente - a rapariga dos seus sonhos: Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), uma jovem nova-iorquina de cabelo colorido e com rumores de um passado no mínimo agitado. 


E é esse passado agitado que se vai desenrolar diante Scott Pilgrim, obrigando-o a enfrentar os sete ex-namorados maléficos de Ramona para poder ficar com ela - e as batalhas desenrolam-se como num videojogo, com cada ex-namorado a ser, na prática, uma boss fight. Noutro filme, talvez tudo isto parecesse absurdo no pior dos sentidos do termo: ver um tipo aparentemente desastrado Scott Pilgrim tornar-se de repente num lutador experiente, com poderes especiais e espadas mágicas à mistura, procurando derrubar os ex-namorados da rapariga que ama através de combinações improvisadas e desafios ousados seria sem dúvida uma experiência... confusa. Mas em Scott Pilgrim vs. The World, Edgar Wright torna o estranho e o dissonante em algo tão familiar como sublime.


A isso não está alheio um guião muito acima da média, capaz de dar personalidade às várias personagens e de as individualizar - e de as tornar verosímeis com todas as suas peculiaridades, mesmo quando manifestam poderes impossíveis ou uma total falta de surpresa perante os poderes dos outros. Um guião descomprometido e despretencioso, que em momento algum se leva demasiado a sério - e que arranja espaço para momentos de humor genuíno e para algumas das melhores one-liners do cinema recente. E, acima de tudo, um guião que conhece bem os territórios que pisa: Edgar Wright e Michael Bacall sabem exactamente que tropes dos videojogos devem utilizar e em que situações (excepto numa ocasião), e que elementos da banda desenhada podem ser incorporados de forma harmoniosa nas suas imagens em movimento


E, claro, o elenco talentoso ajuda - e de que maneira. Michael Cera é um excelente protagonista - e a forma como transita da fraqueza para a força e da hesitação para a determinação é soberba. Alison Pill é a energia nervosa dos Sex Bob-Omb, e Ellen Wong é a perfeita namorada adolescente de Scott Pilgrim. Mary Elizabeth Winstead representa bem o papel de Ramona Flowers, mesmo quando a sua personagem se revela a mais problemática do filme (na medida em que no final acaba por lhe faltar algum rasgo). E Kieran Culkin rouba praticamente todas as cenas em que o seu Wallace entra. 

O resto são cenas memoráveis, editadas com mestria e pensadas ao pormenor. A sequência final no Chaos Club é uma delícia para todos os apreciadores de videojogos - até à reviravolta final, um delírio absoluto que só o entretenimento interactivo pode proporcionar. O momento da vegan police foi uma das coisas mais hilariantes que vi em cinema nos últimos anos. As batalhas são deliciosas, num misto frenético de música com artes marciais e combos que funcionam espantosamente bem. E a história de base, a tal comédia romântica a que aludia, acaba por se elevar acima da sua banalidade aparente para dar forma ao romance quase perfeito da era da interactividade. 

Durante anos, a banda desenhada foi o parente pobre das adaptações cinematográficas - demasiados filmes de qualidade duvidosa, incapazes de quebrar com os seus moldes e de se ajustar a um formato diferente, até ao momento em que se afastaram desses moldes para adoptarem uma seriedade e um estilo mais próximo do cinema de acção. As adaptações de videojogos, ainda que sejam um fenómeno mais recente, e ainda pouco frequente, parecem preparar-se para trilhar o mesmo caminho. Mas se há coisa que Scott Pilgrim vs. The World demonstra à saciedade é a possibilidade de os elementos mais característicos dos comics e dos videojogos poderem resultar em pleno num filme - assim haja imaginação, criatividade e arrojo estilístico para tal. Edgar Wright não teve receio de arriscar na adaptação da banda desenhada aclamada de Bryan Lee O'Malley - e o resultado, ainda que possa ter sido decepcionante em termos comerciais, foi um dos filmes mais originais e refrescantes dos últimos anos. 8.4/10

Scott Pilgrim vs. The World (2010)
Realização de Edgar Wright
Argumento de Edgar Wright e Michael Bacall a partir das graphic novels de Bryan Lee O'Malley
Com Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Ellen Wong, Alison Pill, Mark Webber, Kieran Culkin, Johnny Simmons e Anna Kendrick
112 minutos

29 de abril de 2014

Unbreakable: Antítese física e ambiguidade moral

Vivemos num tempo em que a banda desenhada de super-heróis da tradição norte-americana - usemos a designação comics para simplificar, ainda que não seja de todo rigorosa - abandonou o gueto geek no qual se manteve durante décadas para se instalar bem no centro da cultura popular contemporânea. Não será decerto incorrecto afirmar que tal fenómeno se deve em larga medida ao sucesso das adaptações cinematográficas deste novo milénio, que deram nova vida no grande ecrã a personagens já populares como Spider-Man ou Batman, que trouxeram para a ribalta personagens menos conhecidas do grande público como o Iron Man ou os mutantes de X-Men, e que possibilitaram o encadeamento narrativo do Marvel Cinematic Universe, cuja primeira fase foi concluída com The Avengers num sucesso mundial que seria difícil de prever uma década antes. É certo: já antes dos anos 00 havia adaptações de comics ao cinema, e algumas bastante bem sucedidas tanto em termos críticos como comerciais - é ver o caso de Batman e Batman Returns, de Tim Burton, exercícios notáveis de enquadramento do tom mais camp de muitos comics num filme de contornos mais sombrios. Para todos os efeitos, porém, antes do ano 2000 os filmes de super-heróis eram algo que não apelava ao grande público, e nem os sucessos passados do Batman de Burton ou do Super-Man de Richard Donner lhes retiravam o estigma de histórias over the top, com pouco a dizer sobre o seu tempo, e efectivamente irrelevantes. Para todos os efeitos, essa percepção começou a mudar com o X-Men de Bryan Singer, em 2000, e com o Spider-Man de Sam Raimi, em 2002 - filmes com elencos muito conhecidos do grande público, a dar destaque à acção e com alguma exploração do zeitgeist, ainda que limitada. Mas no mesmo ano em que X-Men mostrava as possibilidades dos super-heróis dos comics para os blockbusters de acção, um filme mais discreto pegava nos comics para contar uma história de origens de um super-herói pela via oposta - pela pausa, pelo silêncio, pela exploração do drama pessoal. Esse filme é Unbreakable, de M. Night Shyamalan. 


As narrativas dos comics são com frequência histórias de opostos, assentando com frequência na eterna antítese ente o bem e o mal para distinguir entre heróis e vilões e colocá-los em confronto. Em termos práticos, Unbreakable não é excepção a esta norma, mas utiliza um conhecimento assinalável dos comics para desconstruir a premissa e torná-la original e refrescante. E fá-lo desde logo na apresentação dos seus protagonistas, Elijah e David.


Elijah Price (Samuel L. Jackson) nasceu com uma condição rara que faz com que os seus ossos quebrem ao mais pequeno impacto - um autêntico homem de vidro (Mr. Glass), como é conhecido pelos seus pares em criança. A sua mãe, numa tentativa de o fazer viver com um módico de normalidade, dá-lhe a conhecer os comics de super-heróis - em troca, Elijah terá de sair de casa para os obter. Elijah acaba por se tornar num coleccionador e num estudioso do formato, e acaba por tentar encarar a sua fragilidade à luz dos princípios da banda desenhada.


Em antítese à fragilidade de Elijah temos David Dunn (Bruce Willis), um homem aparentemente normal que trabalha como segurança num estádio de futebol americano. Dunn passou ao lado de uma carreira fulgurante na modalidade, e desde então nunca mais foi o mesmo - o seu casamento com Audrey (Robin Wright) terá sido a única coisa positiva que retirou do acidente, mas mesmo isso está a desmoronar-se; e a sua relação com o seu filho, Joseph (Spencer Treat Clark) está longe de ser afectuosa. Mas a sua vida vai mudar de forma radical no momento em que sobrevive ileso a um violento acidente de comboio que ceifou a vida a todos os outros passageiros.


Ao sobreviver ao desastre, David chama a atenção de Elijah - que lhe pergunta se alguma vez ele esteve doente. Instigado por aquele estranho que começa a intrometer-se na sua vida, David é levado a reflectir sobre algumas peculiaridades do seu passado e sobre as versões verdadeiras de alguns acontecimentos, numa jornada de auto-descoberta feita com Joseph que irá mudar a sua vida para sempre. 


O invés de apostar no ruído, Unbreakable joga pelo silêncio - e esse contraste com o cinema de super-heróis contemporâneo só o torna mais relevante nos dias que correm. É, acima de tudo, uma história de origens, com a descoberta do super-herói a ser feita no contexto de um drama familiar verosímil, acentuado na perfeição pelos desempenhos contidos de Bruce Willis e Robin Wright (houve críticos que se queixaram do melodrama; pessoalmente, porém, julgo que a questão familiar torna a história de Dunn mais forte). 


Mas o ponto forte de Unbreakable é a forma como utiliza a tradição e as convenções dos comics para enquadrar a sua história e para desenvolver as duas personagens principais - as referências que Shyamalan coloca a propósito da história do formato, dos traços dos vilões e da distinção entre vilão e arqui-inimigo são notáveis, e introduzem algo de significativo para a tensa reviravolta final. E com alguns momentos deliciosos para fãs e conhecedores de comics, que decerto não terão conseguido evitar um sorriso no momento em que Elijah recusa vender uma prancha rara de um comic clássico a um homem que quer dá-la ao seu filho de quatro anos - numa defesa do formato como arte e, mais do que isso, como algo adulto, distante do preconceito que determina que comics são feitos para crianças. 


E a isso junta-se a mestria técnica de Shyamalan, rica no pormenor e no simbolismo desde o primeiro momento com um Elijah bebé revelado através do espelho até aos enquadramentos, aos ângulos mais invulgares, às imagens de uma beleza sombria que encaixam na perfeição na narrativa e no tema. Em termos visuais, o realizador nada deixa ao acaso, e Unbreakable ganha com isso em múltiplas visualizações, quando a descoberta do final se esgota. 


Unbreakable poderá não ser uma obra-prima, mas nem por isso deixa de ser um thriller intrigante, com uma premissa bem montada a convergir para uma reviravolta final que, não sendo de todo inesperada, nem por isso deixa de ser inteligente. E talvez seja mais relevante hoje do que há 14 anos, quando os filmes de super-heróis não eram moda, por demonstrar que é possível pegar no tema e explorá-lo por vias alternativas à intensidade alimentada a computer-generated images dos blockbusters modernos. E mais do que isso: sem se afastar das suas raízes e da sua identidade própria. Neste ponto, o filme de Shyamalan marca pontos: é uma história de origens de um super-herói que surge marcada pela ponderação, pelo drama e pela sua profunda humanidade, e não pelo ruído e pela violência. Por isso, e pelo seu carácter meta-referencial, acaba por se elevar no género. 8.2/10

Unbreakable (2000)
Realização e argumento de M. Night Shyamalan
Com Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark e Charlayne Woodard
106 minutos

10 de abril de 2014

Colóquio "Mensageiros das Estrelas" regressa em 2014

Está confirmada a terceira edição - ou o episódio III, numa alusão mais ou menos evidente a Star Wars - do colóquio internacional Mensageiros das Estrelas, com organização do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa. O colóquio terá lugar nos dias 19, 20 e 21 de Novembro de 2014 (de Quarta a Sexta-feira), na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. De acordo com o anúncio publicado do site oficial do colóquio, o "sucesso significativo" das edições de 2010 e de 2012 justificam a realização desta terceira - e os interessados em propor temas e participar nas sessões na qualidade de oradores deverão fazê-lo até ao dia 27 de Junho. 

Para os interessados em assistir (será o meu caso), é esperar por Novembro. Um apanhado global do que foi, para mim, o episódio II do Mensageiros das Estrelas pode ser lido aqui; para esta terceira edição, espero encontrar temas mais interessantes, oradores nacionais mais estimulantes e, se possível, pelo menos um convidado internacional do gabarito de Adam Roberts. Mais informações no site oficial


(o cartaz que ilustra este artigo é o da primeira edição, de Novembro de 2010)

8 de janeiro de 2014

Saída de Emergência anuncia Prémio Bang! 2014

A Saída de Emergência anunciou hoje no portal da Revista Bang! a criação do Prémio Bang!, um concurso literário internacional que terá a sua primeira edição em 2014 e que premiará um romance inédito de fantasia, ficção científica, história alternativa, horror, realismo mágico ou outro género que possa ser enquadrado no Fantástico. O prémio para a obra vencedora terá um valor monetário de 3000 euros, assim como a garantia de publicação em Portugal e no Brasil.

O regulamento pode ser consultado aqui. As submissões para o Prémio Bang! 2014 deverão ser feitas até 6 de Julho de 2014 através deste formulário.

20 de novembro de 2013

Fórum Fantástico 2013: As sugestões de livros, banda desenhada, filmes e jogos

Já circulam pela Internet - maravilhas deste mundo ligado - alguns vídeos dos vários painéis do Fórum Fantástico. E, entre eles, alguns do painel de sugestões de Domingo, animado pelo João Barreiros, pelo Artur Coelho e por este vosso escriba. Aqui fica a lista completa (a vermelho, as não-recomendações):

João Barreiros
Livros:

Artur Coelho
Livros:
Banda Desenhada:

João Campos
Videojogos:

18 de novembro de 2013

Alan Moore (1953 - )

Quando em 2005 os críticos literários Lev Grossman e Richard Lacayo compilaram para a britânica "Time" a lista dos 100 melhores livros de língua inglesa desde 1923, data da fundação da revista. E nessa lista surgiu em destaque uma graphic novel: Watchmen. Pegando no tema dos super-heróis, tão caro ao meio, os doze fascículos de Watchmen viram o tema do avesso e desconstroem-no com minucioso rigor numa Nova Iorque alternativa nos anos 80, onde existem indivíduos mascarados que combatem o crime. Uma ideia que poderia parecer simples, mas que foi desenvolvida com um layout inteligente a suportar uma estrutura narrativa soberba, cruzando os passados e os pontos de vista de várias personagens para dar forma a uma história fascinante, marco absoluto do género. Dave Gibbons foi o artista que desenhou Watchmen; o texto, esse, ficou a cargo de Alan Moore.

E se nos dias que correm os comics (passe o anglicismo, que aqui serve como forma de diferenciação de outras tradições da banda desenhada, como a franco-belga ou a japonesa) conseguiram ascender acima das suas limitações e dos seus estereótipos originais de entretenimento infantil e/ou nerd para se tornarem num meio de excelência não só artística mas também narrativa e mesmo literária, em larga medida tal se deve ao tremendo impacto de Watchmen. Alan Moore já tentara algo daquele género antes, nas páginas da Warrior, com a Inglaterra distópica de V For Vendetta, outro marco do género. E a sua bibliografia não se resume a estas duas obras notáveis: Reformulou The Swamp Thing, série de onde emergiu uma das mais populares e persistentes personagens da linha "Vertigo" da DC Comics, John Constantine; trabalhou em personagens já estabelecidas como o Super-Homem e o Batman (assinou o formidável The Killing Joke); pegou em personagens literárias populares para criar a League of Extraordinary Gentlemen; e criou bandas desenhadas como From Hell, Promethea e Lost Girls. Em prosa, escreveu em 1996 o livro Voice of the Fire

Alan Moore nasceu em Northampton, no Reino Unido, e celebra hoje o seu 60º aniversário.

17 de novembro de 2013

Fórum Fantástico: Dia 2


Ao segundo dia, o Fórum Fantástico 2013 conseguiu manter a afluência do primeiro - e se nem todos foram suficientemente madrugadores para assistir de manhã à excelente sessão aberta da Oficina de Escrita Criativa Fantástica da Trëma, com Ian McDonald (na prática, estiveram por lá os membros da oficina e pouco mais), já as várias e interessantes sessões da tarde encontraram um auditório muito bem composto na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras. 

A abrir a programação da tarde esteve a fanzine Lusitânia, um projecto que viu o seu primeiro número apresentado no ano passado durante o Fórum Fantástico de 2012, e que a ele regressou para lançar a segunda edição - mais cuidada e mais trabalhada, com os editores a explicar como incorporaram as críticas (mais ou menos positivas) para melhorar a apresentação da revista. A apresentação contou também com a presença de autores e ilustradores dos vários contos. Seguiu-se o painel sobre a História da Ficção Científica Portuguesa, com Luís Filipe Silva e António de Macedo - um tema sempre interessante pela voz de dois dos seus melhores representantes. E também um tema muito pertinente, dado o panorama geral do género no nosso país. A primeira apresentação literária contou com o autor Luís Corredoura a apresentar Nome de Código: Portograal, romance de história alternativa - e, dando vapor ao tema da História que poderia ter sido mas não foi, logo de seguida foi a vez de o steampunk tomar conta do palco, com os representantes da Clockwork Portugal a apresentarem ao público do Fórum Fantástico o já célebre Almanaque Steampunk (lançado na EuroSteamCon do Porto em Setembro último) e com a fashion designer Angélica Elfic a expor algumas das suas peças e a explicar a sua concepção.

A Safaa Dib e Luís Corte-Real, da Saída de Emergência, coube a apresentação tanto do número 15 Bang!, lançada no Fórum, como também do número zero da edição brasileira da revista, publicado em Setembro e acompanhando a expansão da editora para o outro lado do Atlântico. Mas o destaque do dia foi o humor contagiante de Ian McDonald, o convidado principal do Fórum Fantástico 2013, que apresentou Brasyl, até à data o seu único romance traduzido e editado em Portugal (pela 1001 Mundos), e que falou sobre a sua obra, a sua carreira literária e os seus projectos futuros. A concluir, uma última apresentação: a da Antologia Winepunk, o universo ficcional que revisita a Monarquia do Norte com uma energia alternativa, aqui detalhado pelas suas editoras e pelos vários autores que contribuíram com contos para este projecto.

No terceiro dia - hoje - haverá de tudo um pouco: contos portugueses no estrangeiro, ficção científica made in Portugal, banda desenhada, curtas. E haverá ainda tempo para eu, o Artur Coelho e o João Barreiros deixarmos algumas sugestões de livros, bandas desenhadas, videojogos e filmes. 

16 de novembro de 2013

Fórum Fantástico 2013: Dia 1

O primeiro dia desta oitava edição do Fórum Fantástico ficou marcado pela assinalável afluência ao auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras - talvez surpreendente por se tratar de uma Sexta-feira. Na abertura, os videojogos estiveram em em destaque - no exterior, com o excelente espaço de entretenimento promovido pelo 1Up Game Lounge (com autênticas relíquias em exposição); e no interior, com o painel sobre jogos independentes (no qual participei com o Ricardo Correia, do RubberChicken; e que bela conversa se gerou) e com a apresentação do livro "Videojogos em Portugal", de Nélson Zagalo. Mas não foi tudo: pelo bem composto auditório passaram alguns projectos em desenvolvimento na área do Fantástico nacional, como os Prémios Adamastor e os Livros de Utopia; a ilustração fantástica com a (excelente) arte de Marta Patalão e David Sequeira; e o horror, com um debate muito dinâmico no qual participaram o autor David Soares, o editor António Monteiro e José Pedro Lopes e Pedro Santasmarinas, os realizadores das curtas de terror M Is For Macho e M Is For Mail, respectivamente.

Notou-se mais animação neste dia de abertura - mais pessoas, mais bancas, mais livros. Os jogos deram um ambiente muito agradável ao espaço do Fórum Fantástico, e a exposição do concurso Zoran Frames apresenta uma selecção de fotografias muito sugestivas. O segundo dia - hoje - começa logo pela manhã, com o Workshop de Escrita Criativa Fantástica da Trëma, aberto a todos e com a presença do britânico Ian McDonald, convidado especial do Fórum Fantástico 2013, que estará em destaque no programa da tarde com a apresentação de Brasyl (Brasil, na edição portuguesa da 1001 Mundos/Asa). 

14 de novembro de 2013

Aranhas gigantes em Lisboa, ou As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy III: Requiem

O terceiro e último capítulo das aventuras - desta vez fantásticas - de Dog Mendonça e Pizza Boy, de Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa, já se encontra nas livrarias de todo o país (a book tour terminará no próximo Domingo, no Fórum Fantástico). E, para o promover, os autores produziram este curto mas excelente trailer, com aranhas gigantes em Lisboa. A não perder, tanto a curta como o livro:



Fonte: Fórum Fantástico

18 de outubro de 2013

Blizzard All-Stars passa a Heroes of the Storm


Não sou exactamente fã de videojogos MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) - formato que nasceu em mapas personalizados desenvolvidos por fãs nos editores de jogo dos títulos da Blizzard Entertainment Starcraft (com o mapa "Aeon of Strife") e Warcraft III (com o célebre "Defense of the Ancients"), e que nos últimos ganhou uma enorme popularidade global enquanto e-sport com Dota, da Valve, e sobretudo com League of Legends, da Riot Games. Em termos meramente pessoais, a componente de player versus player não me entusiasma - e isso, aliado à comunidade conhecida pela sua imaturidade e agressividade verbal (a roçar a sociopatia), fez como que sempre mantivesse uma distância saudável do género. Talvez Heroes of the Storm, o título que a Blizzard Entertainment está a preparar para entrar num mercado que, não sem ironia, nasceu nos seus próprios jogos, não seja suficiente para eu dar uma oportunidade aos MOBA; no entanto, a possibilidade de jogar com um grupo de amigos com personagens que me acompanham há mais de uma década nos videojogos, como Zeratul, Sarah Kerrigan, Jim Raynor, Thrall, Uther Lightbringer, entre muitos outros, não deixa de ser muito aliciante.

E, claro, o vídeo promocional da mais recente mudança de nome de Heroes of the Storm (conhecido previamente como Blizzard All-Stars e Blizzard DotA) está excelente - sobretudo para quem conhece os universos interactivos dos estúdios de Anaheim.

Fonte: Polygon

18 de setembro de 2013

Fórum Fantástico 2013: Vídeo promocional

E enquanto a programação completa não é revelada, vejamos outras novidades do Fórum Fantástico 2013. A edição deste ano conta com um vídeo promocional da autoria de Nuno Elias, inspirado no design original de Pedro Marques. 

   

Fonte: Fórum Fantástico

4 de setembro de 2013

Dog Mendonça e Pizza Boy: A campanha de crowdfunding

As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy - Requiem, o volume que encerra a trilogia que Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa iniciaram em 2005, está de momento a ser produzido - e, para conseguirem concluí-lo e editá-lo ainda durante este ano, os autores deram início a uma campanha de crowdfunding que ajude a suportar os encargos da produção do álbum. Para isso, criaram uma página própria para a campanha (onde se pode consultar os montantes a contribuir e os respectivos prémios) e um vídeo, ao estilo inconfundível daquelas caricatas personagens, a apelar à ajuda dos fãs. 



31 de agosto de 2013

Chesley Awards 2013: Os vencedores

Foram anunciados ontem na LoneStarCon 3 (Worldcon) em San Antonio (Texas) os vencedores dos Chesley Awards 2013, os prémios anuais que distinguem o que de melhor se fez no ano anterior na ilustração e na arte do Fantástico (fantasia, ficção científica). Atribuídos pela Association of Science Fiction & Fantasy Artists, foram criados em 1985 com a designação de ASFA Awards - a designação actual surgiu um ano mais tarde em homenagem a Chesley Bonestell. Abaixo, os vencedores destacados nas várias categorias: 

Best Cover Illustration: Paperback Book

  • John Picacio: The Creative Fire, por Brenda Cooper, Pyr (11/2012)
  • Dehong He: Lance of Earth and Sky, de Erin Hoffman, Pyr (04/2012)
  • Todd Lockwood: The Dusk Watchman, por Tom Lloyd, Pyr (08/2012)
  • John Jude Palencar: The Palencar Project, editado por David G. Hartwell, Tor ebook (02/2012)
  • Elena Vizerskaya: Flying in the Heart of the Lafayette Escadrille, por James Van Pelt, Fairwood Press (11/2012)

Best Cover Illustration: Hardback Book

  • Todd Lockwood: The Wild Road, por Jennifer Roberson, DAW (09/2012)
  • J.K. Drummond: Deadhouse Gates, por Steven Erikson, Subterranean Press (03/2012)
  • Bob Eggleton: Gods of Opar, por Philip José Farmer & Christopher Paul Carey, Subterranean Press (06/2012)
  • Donato Giancola: Range of Ghosts, por Elizabeth Bear, Tor (03/2012)
  • John Picacio: Hyperion, por Dan Simmons, Subterranean Press (04/2012)
  • Sam Weber: Quantum Coin, por E. C. Myers, Pyr (10/2012)

Best Cover Illustration: Magazine

  • Ken Barthelmey: Clarkesworld #74 (11/2012)
  • Julie Dillon: Clarkesworld #73 (10/2012)
  • Bob Eggleton: Famous Masters of Filmland #262 (07-08/2012)
  • Martin Faragasso: Clarkesworld #71 (08/2012)
  • David Palumbo: Creepy #9 Dark Horse, (07/2012)
  • Craig J. Spearing: Dragon #418 (12/2012)

Best Interior Illustration

  • Sam Burley: “Brother. Prince. Snake.”, por Cecil Castellucci, Tor.com (07/2012)
  • Brom: Krampus, por Brom, Harper Voyager (10/2012)
  • J. K. Drummond: Deadhouse Gates, por Steven Erikson, Subterranean Press (03/2012)
  • Bob Eggleton: Tarzan of the Apes, por Edgar Rice Burroughs, MBI/Easton Press (12/2012)
  • William O’Connor: Dracopedia The Great Dragons: An Artist’s Field Guide and Drawing Journal, por William O’Connor, Impact (06/2012)

Best Monochrome: Unpublished

  • Raoul Vitale: “Last of His Kind” (pencil)
  • Larry Elmore: “By the River” (oil)
  • Travis Lewis: “Deep” (oil & mixed media)
  • Joāo Ruas “Sides” (graphite)
  • Allen Williams: “Fawn” (graphite)

Best Color Work: Unpublished

  • Julie Bell: “A Passion for the Future” (oil)
  • Donato Giancola: “Joan of Arc” (oil)
  • Lucas Graciano: “Guardianship” (oil)
  • Michael C. Hayes: “Procession” (oil)
  • Mark Poole: “Waiting on a Memory” (oil)
  • Soutchay Sougpradith: “Peacock Prophecy” (oil)
  • Raoul Vitale: “Safe” (oil)

Best Three-Dimensional Art

  • James Shoop: “Ramautar” (bronze)
  • Dan Chudzinski: “Gus Gets a Jetpack” (mixed)
  • Michael Defeo: “Octopus” (resin)
  • David Meng: “Sashimi” (mixed)
  • Michael Parkes: “Startled Sky Nymph” (half life-size bronze)
  • Vincent Villafranca: “Spaceman on the Verge” (bronze)
  • Cindy Wynn: “Alien Chair” (steel)

Best Gaming-Related Illustration

  • David Palumbo: “Ereshkigal, Death Mistress” (“Legend of the Cryptids”) Applibot Inc. (04/2012)
  • Lucas Graciano: “Dragon Swarm” (Pathfinder Campaign Setting: Artifacts & Legends) Paizo (10/2012)
  • D. Alexander Gregory: “Chandra the Firebrand” (Magic: The Gathering, 2013 Core Set) Wizards of the Coast (07/2012)
  • James Ryman: “Princess of the Underworld,” (“Legend of the Cryptids”) Applibot Inc. (04/2012)
  • Sverlin Velinov: “Thundermaw Hellkite” (Magic: The Gathering, 2013 Core Set) Wizards of the Coast (07/2012)

Best Product Illustration

  • John Picacio: La SirenaLoteria (2012)
  • Jim Burns: “The Wanderers” (Arte Promocional IlluXCon 5), Munchkin Press (11/2012)
  • Dan Dos Santos: “The Dragon Empress” (Poster Promocional Dragon*Con) (08/2012)
  • John Harris: “The Search” (Arte Promocional Illuxcon 5), Munchkin Press (11/2012)
  • Iain McCaig: arte conceptual e design de personagem para John Carter, Disney (03/2012)

Best Art Director

  • Irene Gallo, pela Tor
  • Lou Anders, pela Pyr Books
  • Lauren Panepinto, pela Orbit Books
  • William Schafer, pela Subterranean Press
  • Jon Schindehette, pela Wizards of the Coast

Award for Lifetime Artistic Achievement

  • Brom
  • Larry Elmore
  • David Hardy
  • John Harris
  • Gary Lippincott
Fonte: Tor.com

12 de agosto de 2013

Dog Mendonça e Pizza Boy: Confirmadas as "fantásticas aventuras"

A notícia foi dada pelo Filipe Melo via facebook: o terceiro e último capítulo da história do lobisomem de meia-idade e investigador do oculto e do ex-entregador de pizzas terá o título de As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy: Requiem. Data de publicação ainda incerta, mas - espero - não demorada.


1 de julho de 2013

The Sandman: Overture: Nova capa já apresentada

No Verão passado, Neil Gaiman supreendeu os fãs e o mundo dos comics com uma notícia bombástica - juntamente com o ilustrador J. H. Williams, estava a trabalhar numa prequela a The Sandman para a linha "Vertigo" da DC Comics. Esta nova história no universo fantástico de Morpheus e dos Endless deverá arrancar algures em Outubro - e a capa do primeiro fascículo foi hoje revelada no The New York Times (via io9). 


Fontes: The New York Times / io9

30 de junho de 2013

Locus Awards: os vencedores

Os vencedores dos Prémios Locus foram ontem anunciados no encontro Locus Awards Weekend, que decorreu em Seattle. Estes prémios anuais são atribuídos desde 1971 pela revista "Locus", e os vencedores são seleccionados com base nas votações dos leitores da revista em várias categorias literárias, artísticas e editoriais na fantasia e na ficção científica. Abaixo, a lista completa dos nomeados deste ano, com os vencedores em destaque: 

Science Fiction Novel:
  • Redshirts, de John Scalzi (Tor; Gollancz)
  • The Hidrogen Sonata, Iain M. Banks (Orbit US; Orbit UK)
  • Captain Vorpatril's Alliance, Lois McMaster Bujold (Baen)
  • Caliban's War, James S. A. Corey (Orbit US; Orbit UK)
  • 2312, Kim Stanley Robinson (Orbit US; Orbit UK)

Fantasy novel:
  • The Apocalypse Codex, Charles Stross (Ace; Orbit UK)
  • The Killing Moon, N. K. Jemisin (Orbit US; Orbit UK)
  • The Drowning Girl, Caitlín R. Kiernan (Roc)
  • Glamour in Glass, Mary Robinette Kowal (Tor)
  • Hide Me Among the Graves, Tim Powers (Morrow; Corvus)

Young Adult Book:
  • Railsea, China Miéville (Del Rey; Macmillan)
  • The Drowned Cities, Paolo Bacigalupi (Little, Brown; Atom)
  • Pirate Cinema, Cory Doctorow (Tor Teen)
  • Dodger, Terry Pratchett (Harper; Doubleday UK)
  • The Girl Who Fell Beneath Fairyland and Led the Revels There, Catherynne M. Valente (Feiwel and Friends; Much-in-Little '13)

First Novel:
  • Throne of the Crescent Moon, Saladin Ahmed (DAW; Gollancz'13)
  • vN, Madeline Ashby (Angry Robot US; Angry Robot UK)
  • Seraphina, Rachel Hartman (Random House; Doubleday UK)
  • The Games, Ted Kosmatka (Del Rey; Titan)
  • Alif the Unseen, G. Willow Wilson (Grove; Corvus)

Novella:
  • After the Fall, Before the Fall, During the Fall, Nancy Kress (Tachyon)
  • In the House or Aryaman, a Lonely Signal Burns, Elizabeth Bear (Asimov's 1/12)
  • On a Red Station, Drifting, Aliette de Bodard (Immersion Press)
  • The Stars Do Not Lie, Jay Lake (Asimov's 10-11/12)
  • The Boolean Gate, Walter Jon Williams (Subterranean)

Novelette:
  • The Girl-Thing Who Went Out for Sushi, Pat Cadigan (Edge of Infinity)
  • Faster Gun, Elizabeth Bear (Tor.com 8/12)
  • Close Encounters, Andy Ducan (The Pottawatomie Giant & Other Stories)
  • Fake Plastic Trees, Caitlín R. Kiernan (After)
  • The Lady Astronaut of Mars, Mary Robinette Kowal (Rip-Off!)

Short Story:
  • Immersion, Aliette de Bodard (Clarkesworld 6/12)
  • The Deeps of the Sky, Elizabeth Bear (Edge of Infinity)
  • Mantis Waves, Kij Johnson (Clarkesworld 8/12)
  • Elementals, Ursula K. Le Guin (Tin House Fall '12)
  • Mono No Aware, Ken Liu (The Future Is Japanese)

Anthology:
  • Edge of Infinity, ed. Jonathan Strahan (Solaris US; Solaris UK)
  • After, eds. Ellen Datlow & Terri Windling (Hyperion)
  • The Year's Best Science Fiction: Twenty-ninth Annual Collection, ed. Gardner Dozois (St. Martin's Griffin; Robinson as The Mammoth Book of Best New SF 25)
  • The Future Is Japanese, eds. Nick Mamatas & Masumi Washington (Haikasoru)
  • The Best Science Fiction and Fantasy of the Year: Volume Six, ed. Jonathan Strahan (Night Shade)

Collection:
  • Shoggoths in Bloom, Elizabeth Bear (Prime)
  • The Best of Kage Baker, Kage Baker (Subterranean)
  • At the Mouth of the River of Bees, Kij Johnson (Small Beer)
  • The Unreal and the Real: Selected Stories Volume One: Where on Earth e Volume Two: Outer Space, Inner Lands, Ursula K. Le Guin (Small Bear)
  • The Dragon Griaule, Lucius Shepard (Subterranean)

Magazine:
  • Asimov's
  • F&SF
  • Tor.com
  • Clarkesworld
  • Subterranean

Publisher:
  • Tor Books
  • Subterranean Press
  • Orbit
  • Baen
  • Angry Robot

Editor: 
  • Ellen Datlow
  • John Joseph Adams
  • Gardner Dozois
  • Jonathan Strahan
  • Ann & Jeff vanderMeer

Artist:
  • Michael Whelan
  • Donato Giancola
  • Stephan Martiniere
  • John Picacio
  • Shaun Tan

Non-Fiction:
  • Distrust That Particular Flavor, William Gibson (Putnam)
  • An Exile on Planet Earth, Brian Aldiss (Bodleian Library)
  • Science Fiction: The 101 Best Novels 1985-2010, eds. Damien Broderick & Paul Di Filippo (NonStop)
  • The Cambridge Companion to Fantasy Literature, eds. Edward James & Farah Mendlesohn (Cambridge University Press)
  • Some Remarks, Neal Stephenson (Morrow)

Art Book:
  • Spectrum 19: The Best in Contemporary Fantastic Art, eds. Cathy Fenner & Arnie Fenner (Underwood)
  • Trolls, Brian Froud & Wendy Froud (Abrams)
  • Tarzan: The Centennial Celebration, Scott Tracy Griffin (Titan)
  • J. R. R. Tolkien: The Art of The Hobbit by J. R. R. Tolkien, eds. Wayne G. Hammond & Christina Scull (Houghton Mifflin Harcourt)
  • Steampunk: An Illustrated Story, Brian J. Robb (Aurum)

Fonte: Tor.com

25 de junho de 2013

Constantine, ou Hellblazer segundo Hollywood

Como escrevia há dias, o meu primeiro contacto com a personagem de John Constantine não se deu através dos comics da série Hellblazer, mas através do filme Constantine, que em 2005 levou pela primeira vez a personagem criada por Alan Moore, Steve Bissette e John Totleben durante a sua recriação de Swamp Thing. Para deixar o óbvio logo arrumado, o sucesso de bilheteira de Constantine não foi proporcional à sua tépida recepção pela crítica. Longe de constituir uma adaptação fiel tanto da personagem da DC Comics ou de algum dos muitos arcos narrativos dos 25 anos de publicação de Hellblazer, o enredo do filme inclui elementos e inspirações de várias histórias dos comics e combina esse material numa narrativa alternativa própria - que, mesmo não sendo fiel à sua origem ou mesmo qualitativamente relevante em si, nem por isso deixa de ser bastante interessante.

Na película, não há qualquer indicação de que o John Constantine interpretado por Keanu Reeves seja britânico - e considerando que a acção decorre em Los Angeles e que o protagonista parece estar perfeitamente ambientado nos círculos de sobrenatural da cidade (os locais que frequenta e a reacção da polícia para isso apontam), tudo indica que este Constantine seja americano. O que não significa que tenha perdido o seu cinismo e o seu carácter provocador - Reeves (porventura o actor norte-americano com o melhor agente) transporta ambos sem dificuldade, com um ou dois momentos dignos de registo, e empresta à personagem uma melancolia muito própria que pode não ser característica da personagem original, mas que funciona surpreendentemente nesta versão. Constantine é apresentado como um suicida - alguém que tem o Inferno à espera, por mais boas acções que faça; todos os seus exorcismos e todos os demónios que deporta de volta para as profundezas têm como único objectivo uma motivação tão egoísta como inútil: perante a morte iminente, a salvação. 


E após a breve introdução do macguffin do filme na forma da mítica Lança do Destino (embrulhada numa bandeira nazi, pormenor tão curioso como irrelevante), Constantine arranca com o protagonista em acção, a fazer um exorcismo arriscado (e espectacular) para deportar um "demónio soldado" do corpo de uma criança - algo que, segundo o exorcista, está longe de ser normal, e que o leva a investigar o que se possa estar a passar. Ao mesmo tempo, Isabel, uma rapariga católica internada na ala psiquiátrica de um hospital comete suicídio, ou pelo menos assim aparenta - a sua irmã, Angela (Rachel Weisz), polícia em Los Angeles com um dom estranho de saber sempre para onde apontar durante confrontos com criminosos, não acredita nessa possibilidade e decide investigar o que poderia levar uma católica devota a condenar-se ao Inferno. 


A investigação de Angela acaba por levá-la até Constantine, que durante um acontecimento invulgar decide ajudá-la - e juntos vão ver-se envolvidos numa vasta trama sobrenatural que envolve jogadores improváveis com um plano de alto risco, o que obriga Constantine a subir sempre a parada. Durante a sua descida ao submundo, nada é o que aparenta - e mesmo Angela e Isabel têm muito que se lhe diga.


Se Keanu Reeves consegue recriar um John Constantine muito próprio, Rachel Weisz também merece destaque na sua interpretação de Angela (e Isabel). E, claro, Tilda Swinton e Peter Stormare, com desempenhos muito interessantes nos respectivos papéis (sobretudo Stormare, o que não surpreende - as suas personagens secundárias são regra geral excelentes). Shia LaBeouf é que não convence como Chaz Kramer, prejudicado também por um argumento que não lhe dá o destaque que talvez devesse.


Essa não é a única falha do argumento - alguns elementos (como o amuleto de Hennessey) ficam por explicar, e o final, ainda que muito interessante pelos seus sucessivos twists, nem por isso deixa de ser um tanto ou quanto previsível para quem esteja um pouco mais familiarizado com alguns dogmas católicos. De um ponto de vista visual, Constantine é um filme bastante sólido, ainda que pudesse beneficiar de alguma imaginação adicional - a visão do Inferno, por exemplo, parece mais próxima do holocausto nuclear do icónico sonho de Sarah Connor em Terminator 2: Judgement Day do que de um Inferno de Hellblazer (ou do que eu imagino que seria um inferno de Hellblazer com as minhas incursões limitadas pela banda desenhada).


Se tomarmos Constantine como uma adaptação directa de Hellblazer para o cinema, não há alternativa: o filme falha em toda a linha. Não consegue recriar o protagonista, as personagens secundárias e mesmo o ambiente tão característicos da banda desenhada, e falta-lhe uma boa dose de horror. Mas se olharmos para Constantine como uma recriação muito livre da personagem em formato de thriller sobrenatural com uma história fechada, o filme acaba por funcionar - sem ser brilhante, tem humor, acção e entretenimento q.b.. A sua componente visual é interessante, e o elenco confere-lhe uma solidez um tanto ou quanto inesperada. Não será decerto o filme que os fãs de Hellblazer gostariam de ver; mas enquanto produção individual baseada naquele universo, não está mal. Se considerarmos outras adaptações de banda desenhada feitas na última década, é bom de ver que o resultado poderia ter sido muito pior. 6.3/10

Constantine (2005)
Realizado por Francis Lawrence
Argumento de Kevin Brodbin e Frank A. Capello com base nos comics de Jamie Delano e Garth Ennis
Com Keanu Reeves, Rachel Weisz, Shia LaBeouf, Djimon Hounsou, Tilda Swinton, Peter Stormare, Gavin Rossdale, Pruitt Taylor Vince e Max Baker
121 minutos

21 de junho de 2013

Hellblazer: All His Engines: os deuses e os demónios de John Constantine

A minha apresentação a John Constantine não se deu com algum dos comics ou graphic novels do célebre detective do oculto inspirado em Sting que Alan Moore, Steve Bissette e John Totleben criaram em meados dos anos 80 durante a série de Swamp Thing e que viria a ganhar protagonismo na série Hellblazer, da linha Vertigo da DC Comics. Deu-se, sim, com o filme de 2005 (com o Keanu Reeves como protagonista - logo falarei dele um dia destes), e independentemente da qualidade ou da fidelidade da adaptação, a verdade é que fiquei muito curioso com todo o conceito subjacente à personagem - uma curiosidade que foi aumentando com o tempo, à medida que fui descobrindo mais e mais banda desenhada e que fui lendo alguns fragmentos de informação sobre a série. Talvez devesse ter entrado no universo de Constantine na banda desenhada pelas suas primeiras aparições em Swamp Thing, ou mesmo pelos primeiros fascículos de Hellblazer; uma oportunidade da Feira do Livro, porém, levou-me a optar antes pela graphic novel Hellblazer: All His Engines.

(por acaso minto: a introdução a John Constantine deu-se, sim, alguns dias antes com a leitura de Preludes & Nocturnes, o primeiro paperback de The Sandman; numa das histórias, Morpheus conta com a ajuda de Constantine para encontrar um artefacto muito especial. Mas nesta história, por sinal excelente, o protagonista é Morpheus, e não Constantine, pelo que manterei All His Engines como a minha introdução a Hellblazer. Continuemos.) 

O que talvez não tenha sido um problema. Com texto de Mike Carey e ilustração de Leonardo Manco, All His Engines não conheceu publicação na sequência de comics de Hellblazer, tendo sido publicado em 2005 no formato de graphic novel - contendo uma história contida, repleta do flavour que tornou a série tão popular. Em Inglaterra (ao contrário do que mostra - ou não mostra - o filme, Constantine é britânico e não americano), várias pessoas entram em coma sem qualquer explicação - e entre elas Tricia, a neta de Chaz, eterno amigo (e sidekick) de Constantine. Na investigação do caso, a dupla viaja até à cidade de Los Angeles, onde encontram Beruel, um demónio interessado nos serviços de Constantine para lidar com a sua concorrência, e Mictlantecuhtli, deus Azteca da Morte, a perder influência mas não poder. Ao longo da narrativa, Carey vai mostrando através de flashbacks alguns momentos do passado de Constantine com influência nos acontecimentos do presente - e essas cenas são encaixadas na narrativa de forma muito natural, sem quebra de ritmo e sem se alongar para lá do estritamente necessário. Mas mais do que isso, introduz a amizade de Chaz e Constantine de forma muito eficaz, sem se perder na vasta bagagem de ambos, e revela o carácter polémico do protagonista através de uma caracterização interessante e sem papas na língua. Nesse ponto, é interessante notar como a tradutora da edição portuguesa da Devir, Beatriz Pereira, não só não poupou (e muito bem) no calão como também soube converter muito bem algumas das tão características tiradas da personagem.


Igualmente relevante é o trabalho artístico de Leonardo Manco, com o ilustrador argentino a dar vida própria e muita expressividade ao enredo convulso de Carey e à improvisação recorrente com que Constantine se move entre deuses da morte, demónios e autênticos cenários de inferno. Nos pontos mais intensos da narrativa, a arte de Manco é visceral, detalhada e expressiva; fora desses momentos, mantém uma grande solidez e muita expressividade. Vários painéis são memoráveis (as cenas da igreja têm uma arte formidável), com as criaturas sobrenaturais a serem desenhadas com muita expressividade (e especialmente... demoníacas). Os coloristas Lee Loughridge e Zylonol Studios complementaram com empenho o trabalho de Manco.

Olhando para All His Engines no seu todo, talvez não tenha sido uma escolha desadequada para me estrear no vasto universo de Hellblazer: a narrativa contida e fechada dentro do universo mais vasto onde Constantine se desloca mostra o seu carácter peculiar e o tipo de círculos por onde habitualmente se desloca - e a forma como aborda os vários obstáculos que surgem no seu caminho. Estará decerto longe de ser o mais interessante capítulo de Hellblazer - mas como introdução, funciona muito bem. 

Edição portuguesa: Hellblazer: Todo o Seu Engenho. Devir, 2005. Tradução de Beatriz Pereira.