Mostrar mensagens com a etiqueta star wars. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta star wars. Mostrar todas as mensagens

28 de agosto de 2014

This happening world (21)

Em meados de Agosto, surgiu na Wired uma discussão muito interessante em dois artigos antagónicos sobre uma das principais tendências da ficção científica contemporânea: a distopia. A discussão começou com o artigo de Michael Solana, que aponta: Obviously science fiction is not the cause of the current mess we’re in. But for their capacity to change the way people think and feel about technology, the stories we tell ourselves can save us—if we can just escape the cool veneer of our dystopian house of horrors. Dois dias mais tarde, Devon Maloney contrapôsDystopian fiction mimics what it actually feels like to be in the world, so if it ends up scaring people, well, that’s because the world is scary. A verdade, a haver uma verdade, andará decerto a meio caminho de ambas as teses; e se é certo que a distopia sempre fez parte da ficção científica (sendo mesmo um dos seus géneros mais conhecidos - e apreciados - fora das suas fronteiras tradicionais), nem por isso deixa de ser verdade que falta à ficção científica moderna o optimismo e a esperança das histórias de outros tempos. Star Trek, que Solana refere de passagem, é em si todo um programa: nos remakes modernos, até a célebre frase de abertura to boldly go where no man has gone before deu lugar ao enfadonho Into Darkness

No portal da Tor, Chris McCrudden expõe doze razões para ler (e adorar) a série Discworld de Terry Pratchett. São doze boas razões (a Granny Weatherwax será talvez a melhor personagem da fantasia contemporânea), ainda que me veja obrigado a discordar do ponto 3: The Colour of Magic até pode ser o mais genérico de todos os livros de Discworld, mas é também o ponto de partida de toda a série; como tal, qualquer leitor que queira realmente conhecer o extraordinário universo ficcional que Pratchett desenvolveu ao longo das últimas três décadas deverá começar aqui, na aventura original de Rincewind e Twoflower, e deixar-se levar. É verdade que praticamente* cada livro de Discworld pode servir de porta de entrada para a série, mas há algo de muito gratificante na leitura sequencial, acompanhando a maturação da prosa e do estilo de Pratchett, e desvendando algumas piadas que só fazem sentido se o leitor já estiver familiarizado com alguns elementos de livros anteriores, por mais laterais que possam ser. 

No io9Annalee Newitz pergunta se alguma vez assistiremos a um fenómeno de cultura popular equivalente a Star Wars. Diria que já assistimos a um fenómeno aproximado, ainda que tenha partido do meio literário: Harry Potter. Num artigo não relacionado no Boing BoingCaroline Siede deixa algumas pistas para explicar como a série de livros de J. K. Rowling ajudou a moldar uma geração inteira, tendo um impacto assinalável em miúdos e graúdos um pouco por todo o mundo. 

Trigger Warning: Short Fictions and Disturbances é o título da próxima colectânea de ficção curta de Neil Gaiman, com publicação prevista para o início de Fevereiro próximo. De acordo com o próprio Gaiman (via tumblr), ainda está a trabalhar no último conto da colecção. 

Fontes: WiredTor / io9 / Boing Boing 

* Há excepções. Sugerir The Light Fantastic como primeiro livro a ler é disparatado, já que este é uma sequela directa de The Colour of Magic. Da mesma forma, Lords and Ladies surge na sequência directa de Witches Abroad, e não será talvez a melhor leitura para entrar em Discworld

12 de julho de 2014

O som e a fúria (32)

Não é grande segredo que, com todo o respeito que possa ter (e tenho) pela importância da franchise no cinema de ficção científica, Star Wars está muito longe de ser uma das minhas obras preferidas no género. A New Hope é, claro, um filme incontornável tanto no contexto da ficção científica como do cinema em geral, ainda que em termos narrativos tenha ficado longe da fasquia estabelecida por The Empire Strikes Back - um filme notável e uma autêntica lição sobre como fazer um segundo capítulo de uma trilogia. Já The Return of the Jedi é francamente sobrevalorizado, e os dois primeiros filmes da nova trilogia são um cash-grab tão descarado como irrelevante (não vi o terceiro capítulo; lá irei um dia destes); será, portanto, com enfado que assisto ao bombardeamento de não-notícias que a blogosfera geek internacional promove a propósito da continuação da série, agora pela Disney. O que, convenhamos, em nada diminui o gosto por alguns elementos dos filmes clássicos - dos quais a música merece especial destaque, sendo as composições de John Williams tão ou mais icónicas que o opening crawl, a respiração de Darth Vader, o discurso invertido de Yoda ou as falhas estruturais nos sistemas de ventilação de uma Death Star. É o caso desta "Imperial March", para sempre associada a um dos mais memoráveis vilões da ficção científica, aqui pela mão da Orquestra Filarmónica de Viena.

(e sim, bem sei que já aqui a coloquei uma vez, a propósito de The Empire Strikes Back; mas esta versão é tão boa que merece ser repetida)

(Artigo editado)

5 de maio de 2014

This happening world (11)

No Hipsters of the Coast, Rich Stein desconstrói TherosBorn of the Gods e Journey Into Nyx em... estatísticas demográficas. A ideia pode parecer estranha, sobretudo quando consideramos que, para todo os efeitos, estamos a falar de Magic: the Gathering - um jogo de cartas coleccionáveis. A premissa de Stein, no entanto, é interessante pelo seu raciocínio: Magic, o jogo, surge enquadrado numa narrativa de fantasia que, como qualquer outra ficção do género, reflecte também tempo e a sociedade em que surge. No caso em questão, Theros surge com uma forte inspiração na mitologia grega, central para as sociedades ocidentais - pelo que se revela interessante analisar as 323 criaturas que as três expansões apresentam à luz de género, raça e classe. O resultado é um dos artigos mais improváveis e interessantes que alguma vez li sobre o jogo. 

De acordo com Katharine Trendacosta no io9, ao filme Superman vs. Batman seguir-se-á inevitavelmente o filme da Justice League of America. A notícia baseia-se em declarações do presidente de produção da Warner Bros, Greg Silverman - e o objectivo será decerto tentar recuperar algum terreno perdido para a Marvel. Tentar será sem dúvida a expressão adequada aqui, e porventura um eufemismo: é muito improvável que a DC e a Warner consigam emular o sucesso do Marvel Cinematic Universe, sobretudo na sua convergência excepcional de vários filmes razoáveis (o único que merece de facto destaque em termos qualitativos é Iron Man) num filme tão notável como The Avengers. E, a avaliar pelas estreias de Thor 2: The Dark World e Captain America 2: The Winter Soldier, a segunda fase do MCU parece avançar a bom ritmo para o clímax de The Avengers 2: Age of Ultron. E pelo meio ainda virá a oddball de Guardians of the Galaxy

Não deixa de surpreender que a DC seja incapaz de fazer algo do género quando tem as personagens mais populares fora do meio restrito dos comics, e quando a Marvel nem pode capitalizar no cinema um dos seus maiores trunfos (Spider-Man). As diferenças entre a abordagem - e o sucesso - da Marvel e da DC no cinema são analisadas com alguma brevidade por Blaze Mizkulin no Observation Deck; nas caixas de comentários, porém, o debate revela-se extremamente interessante e curiosamente elevado (sobretudo quando consideramos que se trata de uma caixa de comentários na Internet a propósito das diferenças entre a Marvel e a DC). 

Entretanto, a Disney/Lucasfilm confirmou algo que toda a gente já sabia (via Lee Hutchinson no Ars Technica): a continuidade de Star Wars no cinema atirou pela escotilha todo o Expanded Universe. Logo depois foi anunciado o elenco principal da trilogia que, em termos narrativos, dará continuidade à história deixada no vetusto The Return of the Jedi (de 1983, recorde-se) - e o entusiasmo com que o anúncio foi recebido cedo deu lugar à perplexidade pelo facto de este apenas introduzir uma actriz (a relativamente desconhecida Daisy Ridley) para além de Carrie Fisher, que regressará à sua Princesa Leia. De acordo com Rob Bricken no io9, deverá ser introduzida mais uma personagem feminina de destaque na trilogia; mas essa informação, veiculada de forma mais oficiosa do que oficial, acaba por parecer mais uma tentativa de a produção dos filmes tentar emendar a mão. 

15 de janeiro de 2014

This happening world (1)*

Assinala-se hoje o aniversário de Robert Silverberg, autor consagrado de fantasia e ficção científica, vencedor dos prémios Hugo e Nébula em várias categorias e um dos mais importantes antologistas que ambos os géneros conheceram na segunda metade do século XX. Distinguiu-se com livros como Tower of Glass (1970), A Time of Changes (1971) e The Book of Skulls (1972); com Lord Valentine's Castle, em 1980, abriu a série Majipoor; e entre a sua ficção curta premiada encontram-se títulos como Nightwings (1969), Passengers (1970), e Enter a Soldier. Later: Enter Another (1989). New Dimensions (vários números), Legends (1998) e Far Horizons (1999) são algumas das antologias que editou. Já aqui escrevi sobre Silverberg em mais detalhe no ano passado. 

É habitual a polémica em redor das nomeações e das shortlists dos principais prémios da fantasia e da ficção científica - leia-se, dos Hugos e dos Nébulas - começar pelo menos depois dos idos de Março, quando as listas são conhecidas e toda a gente pode começar a atirar lama para quem foi nomeado e não devia, e a glorificar quem não foi nomeado, mas devia (isto, entenda-se, de acordo com os gostos de cada um). Este ano começou mais cedo: Adam Roberts (nomeado este ano numa categoria do Prémio Hugo) abriu as hostilidades com chumbo grosso, e John Scalzi, vencedor do mesmo prémio no ano passado na categoria de "Best Novel", responde  na mesma moeda. O resumo é de Niall Alexander, no Tor.com.

Disney prepara uma limpeza no Extended Universe de Star Wars. A ideia, aparentemente, é preparar o terreno para os próximos filmes desta popular franchise de ficção científica. Na prática, porém, isso significa que centenas de histórias escritas por diversos autores para várias plataformas (de livros a bandas desenhadas e videojogos) vão conhecer, no que ao cânone diz respeito, o mesmo destino do planeta Alderaan em A New Hope. O artigo é de Lee Hutchinson no Ars Technica (e no Observation Deck por Ria Misra); os comentários ao artigo também merecem leitura. 

Sam Worthington e Zoe Saldana vão participar na trilogia Avatar, de James Cameron, que se seguirá ao filme original de 2009. A notícia é avançada pelo The Verge (via The Hollywood Reporter), e só poderá ser surpreendente neste ponto: Stephen Lang, o actor que interpretou o papel de Coronel Miles Quaritch, o vilão da história, também irá regressar. Como, é algo que só saberemos em 2016, data prevista para a estreia do próximo filme da franchise.

*O título para esta nova secção irregular, como é bom de ver, vem de John Brunner.

17 de outubro de 2013

The Empire Strikes Back: O trailer original

A long time ago, in a galaxy far away... faziam-se trailers como este, aparentemente o original, de The Empire Strikes Back, o quinto episódio da saga Star Wars (via The Verge). Com os mesmos spoilers dos trailers contemporâneos (que levam a arte de resumir uma longa metragem em dois minutos e meio muito a sério e de forma muito literal), mas sem quaisquer imagens retiradas do filme - apenas com a excelente e colorida arte conceptual de Ralph McQuarrie. O efeito não deixa de ser um tanto ou quanto vintage - e um tanto ou quanto curioso. 


Fonte: The Verge

17 de abril de 2013

Worldbuilding e prequelas em Star Wars e na Terra Média [comentário]

No SF Signal, o escritor Garrett Calcaterra publicou um artigo curioso sobre prequelas e worldbuilding utilizando os casos de Star Wars de George Lucas e de The Silmarillion de J. R. R. Tolkien. O autor parte de um ponto muito interessante, argumentando que o falhanço da trilogia-prequela à trilogia Star Wars original deveu-se sobretudo ao facto de o público saber como aquela história iria acabar: Anakin Skywalker transformar-se-á em Darth Vader, a República cairá para dar lugar ao Império, os Jedi  desaparecem e tanto Obi-Wan como Yoda, com todo o seu poder, serão incapazes de alterar o curso dos acontecimentos - o que lhes retira muito valor enquanto personagens, por mais cool que aparentem ser. Claro que isto só explica metade - uma das intenções mais evidentes das prequelas foi introduzir o universo de Star Wars a uma nova geração, o que em si seria outra discussão interessante - e, bem vistas as coisas, é um problema comum a muitas prequelas. Quando o leitor ou o espectador já sabem o que se segue, torna-se muito difícil surpreendê-lo. 

O problema do artigo reside no paralelismo - ainda que limitado, é certo - estabelecido entre a obra de Lucas e a de Tolkien, na sua natureza muito diferentes - sobretudo no que a The Silmarillion diz respeito.  Talvez a ideia fosse mais precisa se tomasse The Hobbit como referência, mas a verdade é que é algo difícil falar em prequelas e sequelas na obra de Tolkien. Pessoalmente, diria que (datas de publicação à parte) The Hobbit funciona como uma prequela mais ou menos convencional a The Lord of the Rings, ao apresentar o motivo principal da trilogia (o Anel) e uma das suas mais relevantes personagens (Gollum). As várias revisões a que Tolkien submeteu The Hobbit, assim como as alterações mais radicais que ponderou introduzir após o sucesso de The Lord of the Rings, conferem alguma validade a esta interpretação. 

Ainda assim, a história de Bilbo funciona bem como prequela a uma aventura mais vasta e mais sombria porque, para todos os efeitos, nunca se assume como tal. Bilbo encontra o Anel, mas apesar de o usar várias vezes, esse facto nunca toma conta da história, que nem está directamente relacionada com o grande arco narrativo de Sauron - este, o "Necromante" de Dol Guldur, é tratado off-screen. Em The Hobbit, a única coisa que importa é chegar a Erebor, encontrar uma forma de derrotar Smaug e devolver a Thorin e à sua Companhia a riqueza dos seus antepassados. É uma aventura localizada, lateral, que apesar de estabelecer os alicerces de uma narrativa mais vasta, só se cruza com esta de forma quase fortuita. O que não acontece com os Episódios I, II e III de Star Wars: todos os acontecimentos tratados nestes filmes determinam de forma directa aquilo que terá lugar nos Episódios IV, V e VI, construindo uma sequência directa com a trilogia original. Algo que The Hobbit não faz, e muito menos The Silmarillion

The Silmarillion é tão diferente tanto de The Hobbit como de The Lord of the Rings que é difícil tratá-lo como uma mera prequela - e o papel que cumpre neste vasto universo é muito distinto do desempenhado pela mais recente trilogia de filmes no universo Star Wars. Está mais próximo da ideia de "atlas" deixada por Calcaterra (parafraseando Patrick Rothfuss), ainda que seja bem mais do que isso: na sua essência, The Silmarillion incorpora a mitologia da Terra Média e uma recuperação dos acontecimentos da Primeira Era, numa terra que já não existe quando Bilbo atravessa as Montanhas Nebulosas ou quanto Aragorn é coroado rei de Gondor e Arnor. É o mito fundador de todo o seu universo literário (Ainulindalë, provavelmente o mais belo texto escrito por Tolkien), a descrição dos deuses e semi-deuses (Valar e Maiar, na Valaquenta) e a história da Primeira Era do mundo, centrada nos Silmarils de Fëanor (mais a história de Númenor em Akallabêth e um breve resumo da história dos Anéis do Poder). É um trabalho de uma escala incomparável, abragendo todos os acontecimentos relevantes na Terra Média durante aquelas três Eras. Uma visão global, se quisermos, enquanto obras como The Lord of the Rings, The Hobbit e The Children of Húrin incidem sobre um período de tempo mais limitado e um grupo restrito de personagens dentro de um mundo mais vasto. É puro worldbuilding, sim, mas também é muito mais do que isso - estando muito distante de algo como a mais recente trilogia Star Wars (nem sei se o "Extended Universe" terá algo equivalente).

E isto, claro, sem tecer quaisquer considerações qualitativas à comparação.

Fonte: SF Signal

18 de fevereiro de 2013

A long time ago, in a galaxy far away, ou o regresso de Star Wars

Diria que a grande notícia da ficção científica dos últimos meses foi o anúncio de novos filmes da série Star Wars*. Há muitos anos que se falava dos episódios sete, oito e nove, planeados em tempos mas nunca realizados. A recente passagem da franchise para a Disney com o negócio multimilionário dos estúdios Lucasarts permitiu por fim desbloquear o projecto - e, ciente do seu valor comercial, a Disney não perdeu tempo: anunciou a continuação da história deixada mais ou menos em aberto em The Return of the Jedi (1983) com uma terceira trilogia, contratou J.J. Abrams para realizar o Episode VII (após vários nomes avançados) e se não tem alimentado rumores em redor de personagens secundárias mas icónicas (como Yoda), também não tem feito muito para os desencorajar.

Não tenho falado muito sobre este regresso de Star Wars, o que não quer dizer que não aprecie o universo de ficção científica criado por George Lucas. Pelo contrário: gosto bastante do Episode IV, considero The Empire Strikes Back um dos grandes filmes que o género conheceu (mesmo admitindo que o Império meteu o pé na argola em Hoth), e tenho Darth Vader como um vilão inesquecível. Há alguns anos - julgo que em 2006 - cheguei mesmo  a passar uma tarde fascinante na exposição Star Wars que esteve no Museu da Electricidade em Lisboa. Mas, em termos cinematográficos, a coisa ficou mais ou menos por aí. O Episode VI - The Return of the Jedi entusiasmou-me pouco (Ewoks?), e The Phantom Menace praticamente matou a saga para mim (ao ponto de apenas ter visto fragmentos de Attack of the Clones e de nunca ter tido interesse suficiente em ver Revenge of the Sith. Nos últimos meses, o SyFy Portugal fez uma "maratona" dos seis filmes de Star Wars, e gravei-os todos na box para, um dia destes, ver a série seguindo a sua cronologia narrativa. Ainda estou à espera do entusiasmo para tal empreitada.

A escolha de J.J. Abrams para realizar o Episode VII foi polémica sobretudo por Abrams já ser também o realizador dos novos filmes do universo de Star Trek (e há aquela rivalidade de décadas entre os dois universos "das estrelas"), mas também esse tema me passou um tanto ou quanto ao lado, interessando-me apenas como curiosidade. O que também é fácil de explicar: os mais populares trabalhos televisivos de Abrams (Alias, Lost) nunca me cativaram; e Star Trek ainda me desperta menos curiosidade do que Star Wars (estou muito longe de ser um trekkie), pelo que não só nunca acompanhei nenhuma das séries e dos filmes "clássicos" de Star Trek como também não vi ainda o reboot cinematográfico de Abrams. Os seus méritos enquanto realizador são-me por isso desconhecidos (apenas conheço as piadas a propósito do lens flare), e a rivalidade de universos nada me diz. 

Hoje, o regresso de Star Wars é algo que vejo com alguma curiosidade mas pouco interesse. É possível (talvez até provável) que assista ao Episode VII quando estrea. Não espero, porém, que a série (com ou sem a interferência de Lucas) volte a ter fôlego para uma produção do nível de um Empire Strikes Back, ou que Abrams tenha a coragem de correr riscos e dar um novo rumo ao universo (ou o apoio para tal, como a aparente obsessão pelos actores originais). Star Wars é sem dúvida uma referência, um capítulo relevante na ficção científica cinematográfica, mas em 2013 (ou 14 ou 15) estará sem dúvida muito longe de constituir uma novidade. 

*É perfeitamente possível - e porventura mais rigoroso - designar o universo de Star Wars como space fantasy e não ficção científica, dadas as "liberdades criativas" que George Lucas tomou no que à ciência diz respeito. Essa discussão é interessante, mas fica para outro dia; para o grande público, Star Wars sempre foi ficção científica, e é nesse género que continuarei a incluir os filmes. 

13 de fevereiro de 2013

A arte da guerra na ficção científica (1): a Batalha de Hoth

Na Wired, um artigo muito interessante de Spencer Ackerman sobre Star Wars e a "Batalha de Hoth" (do filme The Empire Strikes Back), que considera ter sido um "fiasco militar espectacular". O artigo é longo e explica em detalhe - com a ajuda de diagramas e tudo - a disposição das forças envolvidas no conflito, as tácticas utilizadas, os erros cometidos tanto pelos Rebeldes como pela Frota Imperial e a derrota infligida às forças de Darth Vader, apesar de estas terem uma tremenda superioridade qualitativa e quantitativa. É claro que qualquer pessoa um pouco familiarizada com o universo de Star Wars - mesmo que só tenha visto a trilogia original - sabe que o Exército Imperial pode ser competente em muita coisa menos em combater - para além da infantaria com pior pontaria de toda a galáxia (os célebres Stormtroopers*), as suas armas mais poderosas costumam ter vulnerabilidades passíveis de serem aproveitadas de forma relativamente simples. 

De qualquer forma, o artigo é interessante por vários motivos: pela análise estratégica que faz da batalha propriamente dita e das forças envolvidas, e para entender que imaginar e (d)escrever uma batalha, seja num guião ou nas páginas de um livro, é uma tarefa algo complexa - a menos, claro, que o objectivo seja fazer um disparate capaz de estoirar uma Death Star

* Diga-se de passagem que a célebre pontaria de Stormtrooper não se aplica apenas aos soldados Imperiais de Star Wars, mas a praticamente todos os vilões de filmes de acção, que nem com armas capazes de disparar em rajada e munições ilimitadas conseguem abater os protagonistas. 

Fontes: The Verge / Wired

30 de outubro de 2012

Disney prepara aquisição da Lucasfilm, detentora de Star Wars

Não sei se isto é uma boa notícia ou uma má notícia, mas parece-me ser uma das notícias do dia: está muito próxima a aquisição da LucasFilms pela Disney - que, aparentemente, até já tem planos para lançar o Episódio 7 de Star Wars já em 2015. De acordo com a notícia publicada no portal The Verge, o valor da aquisição situa-se nos 4,05 mil milhões de dólares, com George Lucas a receber metade deste valor e mais 40 milhões de dólares em acções. A Disney ficará assim com todos os direitos sobre a franchise Star Wars, que, reconheça-se, é uma autêntica mina de ouro. Ainda está por saber o impacto deste negócio em Star Wars, sobretudo no que a novos filmes diz respeito, mas para já julgo ser seguro confirmar - citando um dos mais hilariantes comentários à notícia - a entrada de Leia na galeria de "princesas da Disney".

Actualização#1: Na era da Internet a paródia está sempre assegurada. Na Forbes: Possible Star Wars-Disney Mash-up Movies. Talvez valha a pena aguardar por Alice in Wookieland

Fonte: The Verge

10 de julho de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: Star Wars Episode V: The Empire Strikes Back

O Episódio IV de Star Wars, três anos antes, deu o mote para uma das mais populares sagas da ficção científica, a epopeia espacial por excelência, o perfeito shoot'em up espacial que todos os restantes tentaram igualar; no entanto, é o Episódio V - The Empire Strikes Back (Irvin Kershner, 1980) - o expoente máximo de Star Wars, um filme a todos os níveis memorável que, num ritmo narrativo irrepreensível, desenvolve os acontecimentos do filme anterior até um clímax inesquecível, autêntico marco na ficção científica (e não só): o combate de Luke Skywalker com Darth Vader e a revelação deste.

Com um enredo quase tão sombrio como o lado da Força escolhido por Darth Vader - por muitos considerado um dos melhores vilões da história do cinema), The Empire Strikes Back passa-se três anos após A New Hope, com Darth Vader a perseguir a Aliança Rebelde liderada pela Princesa Leia. Luke acaba por se separar dos rebeldes e encontra o icónico Yoda, um antigo mestre Jedi que aceita treinar o jovem Skywalker nas artes da sua ordem ancestral. Claro que o treino revela-se tudo menos simples, e quando os seus amigos correm perigo, Luke vê-se obrigado a escolher entre eles e a conclusão do seu treino e o controlo total sobre o seu poder.

Há quem diga que The Empire Strikes Back, sendo o segundo filme de uma trilogia, sobre do problema de ser "o filme do meio", ou seja, de não ter um início e um final absolutamente satisfatórios. É certo que será relevante ver o Episódio IV antes, e apenas o Episódio VI vai dar um final coerente a este capítulo daquele universo, mas nem por isso The Empire Strikes Back é um filme menor ou incoerente; pelo contrário, apresenta-se bastante coeso do ponto de vista narrativo, com acção e reviravoltas suficientes para manter o público curioso quanto ao que se segue. O final, como já disse, é soberbo - e o inevitável cliffhanger em momento algum o diminui.

Do ponto de vista visual, The Empire Strikes Back envelheceu surpreendentemente bem para um filme de 1980 - os efeitos especiais não têm o padrão dos actuais, claro, mas nem por isso perdem o seu encanto ou são menos impressionantes. O Universo criado por George Lucas três anos antes e aqui desenvolvido por Kershner continua a ser vasto e fascinante, do gélido planeta Hoth aos húmidos pântanos de Dagobath, sem esquecer a portentosa Cloud City em Bespin. As poucas falhas que o filme tem acabam por se diluir no seu ritmo narrativo e no portento que é a sua componente visual e os seus cenários.

Em jeito de conclusão, termino com uma nota sobre a banda sonora de The Empire Strikes Back - magnífica como todo o filme, com John Williams a deixar para a posteridade músicas inesquecíveis. Deixo abaixo a famosa "Imperial March", música de Darth Vader, interpretada pela Orquestra Filarmónica de Viena - prova do legado que Star Wars e The Empire Strikes Back deixaram na cultura popular. 9.8/10


3 de julho de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: Star Wars Episode IV: A New Hope

Qualquer análise de rigor científico demoliria Star Wars (George Lucas, 1977) em menos tempo do que o necessário para a Millennium Falcon completar a famosa Kessel Run. Há o hiperespaço, há sons e explosões no vazio do espaço, há uma instalação espacial - a Death Star - que consegue ter energia suficiente para estoirar um planeta com uma railgun sofisticada (isto para nem falarmos da sua construção), há naves de combate a voarem no espaço como um caça voaria num planeta com atmosfera, há os lightsabers.... enfim: a lista é infindável. A questão é que, quando falamos de Star Wars, o rigor científico não interessa para coisa alguma: o que verdadeiramente importa é a narrativa, as personagens e a aventura. É o filme em si. E enquanto filme, Star Wars é uma pérola, um clássico instantâneo de 1977 que continua hoje a ser um filme extremamente bom, superior a muita da ficção científica que se tem filmado ultimamente. 

Isso é facilmente comprovado por uma constatação simples: não se fala de ficção científica no cinema sem falar de Star Wars. Com tudo o que lhe está associado, claro: personagens inesquecíveis como Luke Skywalker, Leia, Han Solo, Chewie, Darth Vader e os andróides C-3PO e R2-D2; naves formidáveis como a gigantesca Death Star, a ágil Millennium Falcon e as naves de combate mais pequenas como os X-Wing e os TIE Fighters... enfim, a iconografia é vasta e fascinante. Mesmo quem não aprecia a ficção científica e tem pouca paciência para space operas reconhecerá imediatamente a imagem de um horizonte com dois sóis, os walkers do Império ou o vulto escuro de Darth Vader, um dos grandes vilões da história do cinema. E os lightsabers, claro, com aquele zumbido inconfundível, protagonistas de algumas das melhores cenas de combate que o género conheceu no grande ecrã. Sem esquecer a Força, a space magic de serviço. 


A aventura, essa, é sobejamente conhecida. A long time ago, in a galaxy far, far away, preparava-se uma guerra civil entre o Império e a Aliança Rebelde, e a princesa Leia Organa encontra-se em fuga, tendo roubado os planos da Death Star, uma tremenda estação espacial com poder de fogo suficiente para destruir planetas inteiros. Antes de ser capturada, consegue esconder os planos dentro do andróide R2-D2 e enviá-lo com o inseparável C-3PO para Tatooine (o famoso planeta desértico com dois sóis), na esperança de que o velho guerreiro Jedi Obi-Wan Kenobi os encontre. Quem no entanto acaba por tropeçar nos andróides é Luke Skywalker, um jovem que sonha com uma vida noutros mundos sem imaginar que o seu futuro lhe reserva um lugar destacado no conflito que se avizinha.


É certo que Star Wars não é exactamente uma obra original - tanto na narrativa como nos aspectos visuais, foi buscar influências a inúmeras obras literárias e cinematográficas, de Dune a Flash Gordon, da obra de Akira Kurosawa a narrativas mitológicas como as lendas arturianas. Essa combinação de elementos, contudo, não lhe retira mérito algum, e a narrativa flui a um ritmo excelente suportada por uma trama sólida e twists mais do que suficientes. A isso junta-se uma componente visual soberba e muito influente, e uma banda sonora inesquecível, sem dúvida uma das mais memoráveis da história do cinema. Em resumo, os seus defeitos (também os tem) são largamente superados pelos seus méritos, e Star Wars tornou-se na referência e na medida para qualquer aventura espacial, colocando bem alta a fasquia. A todos os níveis, um clássico. 9.4/10