Um pequeno
twist na recuperação de uma série já antiga do blogue - agora com regularidade
irregular. Há dias, no sempre interessante
of blog, Larry Nolen fez
um exercício muito curioso: comparar as capas de
Czas pogardy (em inglês,
Times of Contempt), o segundo livro de Andrzej Sapkowski na série de
The Witcher, nas várias edições electrónicas de diferentes países. E o que se torna interessante aqui é ver as diferentes interpretações tomadas na ilustração da capa. Comecemos pelo original polaco:
Na edição polaca (Supernowa) em ebook, o tema de capa é uma cena relevante da história (segundo Nolen; ainda não li este livro) que, combinando de forma inteligente dois elementos carregados de simbologia, acaba por introduzir com alguma subtileza a ambiguidade moral e a subversão de convenções tão características do universo ficcional de Sapkowski.
Adiante. Da Polónia passemos para o Reino Unido:
Na edição britânica (acima), a Gollancz jogou pelo claramente pelo seguro: a ilustração de Yennefer, personagem relevante na história de Geralt, enquadrada pelo fundo negro e com uma predominância de tonalidades mais escuras, poderia surgir sem destoar nas prateleiras actuais de fantasia urbana e fantasia young adult porventura mais dedicadas a um público feminino (o que não deixa de ser irónico, considerando o tom de alguns momentos neste universo ficcional). Nem o título da obra e o nome do autor parecem funcionar nesse sentido. Ainda assim, e excluindo a opção polaca, de longe a mais interessante,, de todas as capas seleccionadas por Larry Nolen esta será talvez aquela que funciona melhor.
E logo de seguida, as capas de facepalm:
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De "Geralt meets zombie Conan" a "Geralt meets the Kraken" |
Na edição francesa (editora desconhecida) transporta-se o universo fantástico de inspiração no folclore do leste europeu para um qualquer ambiente de
sword & sorcery convencional, onde não poderia faltar a
damsel in distress, sendo aqui a fonte de
distress a terrível Wild Hunt - e o que poderia resultar numa opção temática interessante, dada a presença tanto da Wild Hunt como de várias mulheres na vida de Geralt, acaba por não fazer justiça ao mundo secundário de Sapkowski (é interessante notar que as edições físicas de Sapkowski em França, da Milady - ver na
Amazon local - têm capas globalmente melhores, ainda que un tanto ou quanto alusivas aos videojogos da CD Projekt Red; pergunto-me onde terá Larry Nolen desencantado esta). E, como não poderia deixar de ser, na secção de
facepalms há lugar cativo a edição americana (da Orbit - acima, à direita), decerto a pensar no tempo em que Geralt esteja no domínio público (ou, mais simplesmente, numa qualquer
fan fiction de gosto duvidoso) e possa ser encaixado em qualquer cenário ficcional. No seu artigo, Nolen refere o monstro da areia do filme
The Return of the Jedi (já de si reminescente das
sandworms com que Frank Herbert povoou Arrakis no clássico
Dune) - mas a mim, a imagem remeteu para o final do segundo filme da série
Pirates of the Caribbean.
Nada de estranhar na edição americana: o que não falta são edições europeias com excelente ilustrações que vêem as suas capas vandalizadas editorialmente (o termo é adequado) quando são publicadas nos Estados Unidos. Mas deixo esse tema, com um caso muito específico, para um próximo artigo.