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2 de janeiro de 2014

O mundo em 2014, segundo Asimov


Asimov no Diário de Notícias. É certo que o facto de o DN ter publicado este artigo no dia 2 de Janeiro, data "oficial" do aniversário deste gigante da ficção científica (a data real era desconhecida do próprio Asimov) é pura coincidência: o texto não refere tal facto, e na prática mais não é que um eco de um artigo do The New York Times que se propagou por vários meios de comunicação em todo o mundo (NPR, The Atlantic, etc). Ainda assim, e pegando num provérbio mais ou menos apócrifo que aprendi hoje, quando não há pão até migalhas vão; as referências aos autores de ficção científica na imprensa portuguesa são raríssimas, resumindo-se ao obituário pontual (com alguma sorte!) e a pouco mais, pelo que não deixa de ser agradável ver Asimov em destaque.

Fonte: Diário de Notícias

25 de setembro de 2013

Robot, Empire e Foundation: O legado de Asimov na ficção científica

Ao longo das três últimas semanas, John DeNardo (do SF Signal) publicou no Kirkus Reviews Blog uma série de três artigos dedicados a Isaac Asimov, às três grandes séries literárias que desenvolveu ao longo da sua carreira - a saber, Robot, Empire e Foundation - e à forma imperfeita mas engenhosa como as uniu num vastíssimo universo ficcional que deixou uma marca indelével na ficção científica literária (e não só). Ficam os três como leituras recomendadas: 

O primeiro artigo, I, for one, welcome our robot overlords, incidiu sobre as origens deste universo nas histórias originais que Asimov escreveu nos anos 40 sobre os robots - retirando-os do papel de vilão que habitualmente desempenhavam na ficção científica da época e colocando-os ao lado dos humanos. É nestas histórias, compiladas na antologia I, Robot, que nascem as célebres Três Leis da Robótica, influentes até aos dias que correm - e que viram os seus temas alargados para vários romances de ficção científica temperados com motivos de histórias de detectives. The 1000 Year Plan, o segundo artigo, é dedicado aos sete livros que compõem uma das mais populares séries literárias da ficção científica: Foundation. Partindo de uma série de contos posteriormente interligados num único volume, Asimov transporta The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, de Edward Gibbon, para um futuro distante no qual a Humanidade estabeleceu um império galáctico em queda iminente. Hari Seldon, fundador da "psicohistória", propõe um plano para reduzir o período de barbárie que se seguirá à queda do império para mil anos - e para levar a cabo tal plano estabelece duas Fundações em pontos distintos da galáxia. DeNardo conclui a série com Still Going Strong, um artigo dedicado ao legado das três séries de Asimov e à vasta influência que tiveram, e têm ainda, na ficção científica. Vários são os autores que continuaram a desenvolver os temas propostos por Asimov nas suas histórias, tanto em mundos secundários novos como no universo já estabelecido nas histórias do mestre. 

Fontes: SF Signal / Kirkus Reviews

7 de junho de 2013

The End of Eternity, ou o tempo fora do tempo

Imaginemos que, fora do tempo e do espaço, existe um lugar designado por "Eternity", a partir do qual os seus habitantes, os "Eternals", estabelecem uma organização com o propósito de vigiar as sociedades humanas, monitorizando a sua evolução e interferindo sempre que consideram necessário. O propósito dos Eternals, à luz da sua perspectiva, é benevolente - a minimização do sofrimento humano, o evitar das guerras, e a manutenção de um estado considerado "de equilíbrio". As interferências são, por isso, estudadas ao mais ínfimo detalhe por técnicos especializados, que avaliam de forma exaustiva todos os cenários, calculam todas as possibilidades, e determinam a mudança mínima necessária para se alcançar o objectivo pretendido - e efectuam essa mudança, alterando a linha temporal. 

É esta a premissa fundamental de The End of Eternity, romance de Isaac Asimov publicado pela primeira em 1955, dedicado ao tema das viagens no tempo. Asimov segue a ideia de que o passado pode ser alterado, mas dentro de limites e de regras cumpridas pelos "Eternals": não lhes é permitido viajar para uma data anterior à descoberta das viagens no tempo, no século XXVII, ou para datas posteriores a 70 mil séculos no futuro, data a partir da qual a Terra se encontra aparentemente vazia (sem que ninguém compreenda como tal é possível). Para isto, desenvolveram um equipamento especial, quase um elevador, que lhes permite deslocar-se para o tempo pretendido. O protagonista, Andrew Harlan, é um dos Técnicos especializados da "Eternity", seleccionado pelas suas qualidades do tempo no qual originalmente nasceu e viveu. O seu hobby consiste em estudar as sociedades e a história anteriores às viagens no tempo - algo que não é muito bem visto pelos seus superiores hierárquicos, mas que se vai revelar vital numa missão muito peculiar. No decorrer do seu trabalho, Harlan conhece Noÿs Lambent, uma mulher de uma época que vai sofrer uma alteração na realidade - e ao apaixonar-se por ela, algo que jamais deverá acontecer a um técnico da "Eternity", vê-se confrontado por um dilema de difícil resolução e consequências imprevisíveis.

Não é por acaso que muitos fãs de Isaac Asimov consideram The End of Eternity como um dos seus melhores livros (quando não mesmo o melhor): a sua escrita directa funciona bem na narrativa rápida e com algumas reviravoltas muito interessantes e momentos especialmente intensos (ocorre-me um em especial, inesquecível), e tanto Andrew como Noÿs são personagens sólidas - com algumas secundárias a acrescentarem vários detalhes curiosos àquele universo e à premissa estabelecida. Mas o mais interessante deste clássico de 1955 é a forma como Asimov concebe uma realidade capaz de controlar a realidade a partir de fora, através das viagens no tempo, e as questões que esse controlo benevolente tem - ao erradicar as fontes de conflito e o desenvolvimento de tecnologias revolucionárias, a Humanidade continuará a ser capaz de assegurar a sua existência continuada? Até que ponto a troca da liberdade e da imprevisibilidade pelo conforto é saudável, ou mesmo desejável? Ou até que ponto a nossa capacidade de cometer erros é a nossa verdadeira força motriz - e, uma vez removida, restará apenas a estagnação? Asimov fornece algumas respostas num final um tanto ou quanto surpreendente - e que poderá ter uma ligação ténue às séries Robot e Foundation. Para os apreciadores do tema das viagens do tempo, com as suas consequências e ramificações, este será sem dúvida um livro indispensável. 

24 de fevereiro de 2013

Citação fantástica (55)

Now any dogma, based primarily on faith and emotionalism, is a dangerous weapon to use on others, since it is almost impossible to guarantee that the weapon will never be turned on the user.

Isaac Asimov, Foundation (1951)

21 de janeiro de 2013

Visions of the Future: O documentário de Isaac Asimov sobre ciência e ficção científica

Em 1990, Isaac Asimov concebeu uma série de documentários que se propunha a explorar a fronteira por vezes difusa que separa a ciência da ficção científica, abordando avanços científicos e tecnológicos para melhor analisar o rumo da Humanidade. Para esse documentário, que acabou por nunca ser produzido, um episódio piloto foi filmado - e recentemente adaptado para um interessante documentário-tributo intitulado Visions of the Future, com 40 minutos, disponível no YouTube nas quatro partes que podem ser vistas abaixo.

Parte 1:


Parte 2:


Parte 3:


Parte 4:

Fontes: io9 / Brainpickings

29 de outubro de 2012

Paul Krugman: My Book is Asimov's Foundation Trilogy.

Há uma frase do economista Paul Krugman sobre The Lord of the Rings de Tolkien e Atlas Shrugged de Ayn Rand the se tornou - nas palavras do próprio - num meme na Internet, sendo frequentemente citada para atacar a filosofia objectivista da autora russo-americana. Considerações à parte sobre o Objectivismo ou a influência de Tolkien ou Rand na vida de um jovem, não deixa de ser surpreendente (para mim) ver Krugman a destacar a trilogia Foundation, de Isaac Asimov, como uma das suas principais referências literárias. A Folio Society lançou uma (magnífica) edição especial ilustrada da trilogia premiada de Asimov que conta com o prefácio do economista, onde se pode ler:

Maybe the first thing to say about ‘Foundation’ is that it’s not exactly science fiction — not really. Yes, it’s set in the future, there’s interstellar travel, people shoot each other with blasters instead of pistols and so on. But these are superficial details, playing a fairly minor part in the story. The‘Foundation’ novels are about society, not gadgets — and unlike, say, William Gibson’s cyberpunk novels, which are excellent in a very diferent way, they’re about societies that don’t seem much afected by technological progress. Asimov’s Galactic Empire sounds an awful lot like the Roman Empire. Trantor, the empire’s capital, comes across as a sort of hyper-version of Manhattan in the 1940s. The Foundation itself seems to recapitulate a fair bit of American history, passing through Boss Tweed politics and Robber Baron-style plutocracy; by the end of the trilogy it has evolved into something resembling mid-twentieth-century America — although Asimov makes it clear that this is by no means its final state.



16 de outubro de 2012

Faltam dois


Researchers believe they've found a first: a planet with four suns. Discovered by Kian Jek and Robert Gagliano, members of the crowdsourced astronomy site Planet Hunters, the planet revolves around a pair of suns, with another pair of stars orbiting them. The planet — confirmed by the Keck telescopes in Hawaii — is less than 5,000 light years away and over six times the size of Earth.

8 de outubro de 2012

Isaac Asimov, Gene Roddenberry e o rigor científico de Star Trek

Voltamos hoje ao Letters of Note (um pequeno baú com muitos tesouros) para falar da ficção científica televisiva. Produzir uma série do género tem muito que se lhe diga - sobretudo quando a coisa estava ainda a dar os primeiros passos, na década de 60. Dois meses volvidos sobre a estreia da primeira, hoje lendária, temporada de Star Trek, Isaac Asimov - ainda por cima - publicou um artigo na revista TV Guide intitulado What are a few galaxies among friends?, criticando de forma mordaz e cientificamente precisa a falta de rigor científico presente na ficção científica televisiva da época, com exemplos de Lost in Space e Star Trek. O artigo pode ser lido na íntegra aqui, e contém pérolas como esta:

In an episode of Star Trek (which seems to have the best technical assistance of the current crop) a mysterious gaseous cloud is sighted "one-half light-year outside the Galaxy." But the Galaxy doesn't have a sharp edge. The stars just get fewer and fewer and trail off. To speak of anything being one-half light-year outside the Galaxy is like saying a house is one-half yard outside the Mississippi Basin. 

Se isto não é um headshot, não sei bem o que será. Adiante. O artigo, como seria de esperar, foi lido por imensa gente - entre as quais Gene Roddenberry, criador de Star Trek, que decidiu responder a Asimov numa carta que pode ser lida aqui, e da qual cito alguns excertos:

Enjoyed it [o artigo de Asimov na TV Guide] as I enjoy all your writing. And it will serve as a handy reference to those of our Star Trek writers who do not have a SF background. Although, to be perfectly honest, those with SF background and experience tend to make the same mistakes. I've found that the best SF writing is no guarantee of science accuracy.

Roddenberry, como se pode ver, também tinha chumbo grosso. E continua:

A person should get his facts straight when writing anything. So, as much as I enjoyed your article, I am haunted by this need to write you with the suggestion that some of your facts were not straight. And, just as a writer writing about science should know what a galaxy is, a writer writing about television has an obligation to acquaint himself with pertinent aspects of that field. In all friendliness, and with sincere thanks for the hundreds of wonderful hours of reading you have given me, it does seem to me that your article overlooked entirely the practical, factual and scientific problems involved in getting a television show on the air and keeping it there.

É certo que a desculpa pode ser um tanto ou quanto esfarrapada, mas toca num ponto fundamental: a ficção científica na televisão (e, acrescento, no cinema) é muitas vezes uma espécie de "arte do possível" - como tal, muitas imprecisões acabam por ser necessidades incontornáveis do processo de produção (gravidade em naves espaciais, por exemplo).

Quoting Ted Sturgeon who made his first script attempt with us (and now seems firmly established as a contributor to good television), getting Star Trek on the air was impossible, putting out a program like this on a TV budget is impossible, reaching the necessary mass audience without alienating the select SF audience is impossible, not succumbing to network pressure to "juvenilize" the show is impossible, keeping it on the air is impossible. We've done all of these things. Perhaps someone else could have done it better, but no one else did.

É interessante notar a falta de "temor reverencial" de Roddenberry face a Asimov - que à época era um cientista de renome e dos maiores nomes da ficção científica literária. A história, contudo, acabou bem. Roddenberry e Asimov continuaram a trocar correspondência, ficaram amigos e Asimov acabou mesmo como consultor da série (e ajudou a resolver alguns problemas). O artigo no Letters of Note inclui mais algumas missivas trocadas entre ambos que merecem leitura. 


9 de setembro de 2012

Citação fantástica (31)

The temptation was great to muster what force we could and put up a fight. It's the easiest way out, and the most satisfactory to self-respect--but, nearly invariably, the stupidest.

Isaac Asimov, Foundation (1951)

20 de julho de 2012

Leitura de férias

Estes conteúdos têm mais de um ano, mas merecem ser lidos e relidos e debatidos: na secção "Blogging the Hugos"*, do portal io9, o escritor freelance Josh Wimmer e o editor Alasdair Wilkins dedicaram uma semana, em Maio do ano passado, a falar dos sete livros que compõem a série Foundation, de Isaac Asimov (Foundation's Edge venceu o Prémio Hugo em 1983, e a trilogia original ganhou o Hugo especial - e único - para melhor série literária no Fantástico, um prémio que se pensava feito à medida de The Lord of the Rings, de Tolkien). Cada artigo - repleto de spoilers - consiste numa troca de ideias entre Wimmer e Wilkins sobre os vários livros de Foundation, e revelam uma análise muito interessante a esta obra seminal da Ficção Científica. Para poupar tempo aos leitores, deixo aqui as ligações para os sete artigos:



*E, já que estou a fazer sugestões de leitura, não deixem de ler os vários artigos da secção "Blogging the Hugos", sobre os vários livros que ao longo dos anos venceram o Prémio Hugo na categoria "Best Novel". Para mim, foi excelente ler os artigos sobre alguns dos meus livros de ficção científica preferidos, como The Moon Is a Harsh MistressThe Forever War, Starship Troopers, The Snow Queen ou Gateway, entre vários outros.

14 de abril de 2012

Ainda a Foundation

O Artur Coelho fala de Foundation neste post - e descreve muito bem o que torna este clássico de Asimov numa obra tão importante na ficção científica, e tão relevante mesmo nos dias que correm (falei sobre o livro aqui). A série no seu todo - os sete livros directamente ligados à psicohistória de Hari Seldon, pois o universo Foundation acabou por ser enquadrado nas séries Robot e Gallactic Empire - mantém, em termos gerais, um nível bastante elevado, ainda que a sua grande força resida na trilogia original, composta por Foundation, Foundation and Empire e Second Foundation. A história do Mule e da enigmática Segunda Fundação estão mesmo muito bem conseguidas, e constituem de facto um magnífico trabalho de Asimov, tanto na sua construção de um Império Galáctico em declínio, como nas suas componentes históricas e sociológicas (é interessante a importância dada ao individualismo mesmo no contexto da psicohistória) - e mesmo nos aspectos formais, como o estilo e a estrutura narrativa - da própria trilogia.

Os dois livros que se seguem - Foundation's Edge e Foundation and Earth - dão continuidade à narrativa de forma ligeiramente diferente, e levam-na até uma conclusão ambígua, mas lógica, se considerarmos o grande universo de Foundation desde I, Robot. As duas prequelas - Prelude to Foundation e Forward the Foundation - são bastante interessantes na medida em que narram a história de Hari Seldon e mostram todos os processos que acabaram por dar origem à sua grande teoria da psicohistória, e subsequente estabelecimento da Fundação. É certo que nem as duas sequelas nem as duas prequelas têm a força narrativa da trilogia original, mas continuam a ser muito interessantes, e enriquecem todo o universo criado por Asimov.

A imagem acima tem os sete livros da série Foundation editados pela Bantam Spectra em formato paperback. A imagem foi retirada do blogue actuality.log. A minha colecção é igual (faltam-me, porém, os elefantes). Só lamento que as séries Robot e Gallactic Empire não estejam também disponíveis exactamente no mesmo formato. 

13 de abril de 2012

Nightfall

A nós, que sempre vivemos num ciclo onde dia e noite se sucedem, a noite e as estrelas no céu nocturo não fazem confusão. São a vista normal, e sempre bem vinda, no momento em que o Sol desaparece para lá do horizonte e a escuridão se instala. Mas imaginemos por um momento que não conhecíamos outra realidade que não a do Sol, a do dia; que no nosso mundo, o Sol nunca se escondia, e a noite nunca caía; imaginemos que vivíamos todos num dia perpétuo, e que desconhecíamos por completo as trevas - neste mundo, como reagiríamos se o Sol desaparecesse e a escuridão da noite se instalasse?

Esta é a premissa fundamental de Nightfall, romance de Isaac Asimov e Robert Silverberg baseado num conto escrito por Asimov em 1948 - e considerado por muitos um dos melhores contos de ficção científica de sempre. Os habitantes do planeta Kalgash (no resto, muito parecido ao nosso) não conhecem a noite, nunca viram as estrelas - o complexo sistema de seis sóis que ilumina o planeta mantém aquela sociedade num dia eterno desde - pensa-se - o início dos tempos. Mas esse dia pode estar a chegar ao fim, e vemos os indícios disso mesmo através de vários pontos de vista: do psicólogo Sheerin, que se dedica a estudar a loucura e a histeria induzidas por exposição às Trevas; do astrónomo Beenay, que descobre uma falha fundamental nos cálculos da órbita de Kalgash em redor do seu principal sol, Onos; da arqueóloga Siferra, que descobre numa escavação indícios de um cataclismo civilizacional a intervalos regulares; do jornalista Theremon, que investiga estas informações e começa a juntar as várias peças do puzzle; e dos "Acolytes of Flames", um culto religioso que acredita que os deuses vão enviar o mundo para as trevas, e purificá-lo do pecado através do fogo divino das "estrelas", que ninguém sabe o que são. Mas o que acontecerá quando os sóis desaparecem e a escuridão se instalar? O conto original de Asimov termina nesse ponto, no anoitecer; mas a narrativa de Asimov e Silverberg vai mais longe, e expande a história para além da noite, para a manhã de Kalgash. 

A todos os níveis, Nightfall foi uma surpresa constante: é uma história extremamente bem contada, com personagens sólidas e um enredo surpreendente até ao final. Numa época em que os mais fracos argumentos dão origem a "filmes-catástrofe" de fraquíssima qualidade, não percebo como ainda ninguém pensou em adaptar, com a devida mestria, este conto ao grande ecrã (ao que parece, já houve algumas adaptações, também sofríveis).

6 de abril de 2012

Isaac Asimov (1920 - 1992)

Isaac Asimov é um dos mais celebrados autores de ficção científica, considerado um dos "três grandes" do género no seu tempo, a par de Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein. De origem russa, Asimov emigrou aos três anos com a sua família para os Estados Unidos, onde se viria a formar em Bioquímica, disciplina que leccionou na Universidade de Boston.

Da sua extensa bibliografia - estima-se que tenha escrito mais de 500 livros e mais de 90 mil cartas e postais. Para além da ficção científica escreveu mistérios , livros sobre história, literatura e ciência popular - mas foi a ficção científica que o distinguiu. Nightfall, o seu conto sobre um mundo com seis sóis que não conhece a noite ou a escuridão, é frequentemente considerado um marco na narrativa curta de ficção cientifica. Vários livros da série Foundation foram distinguidos, e a série no seu todo venceu em 1966 o prémio Hugo para melhor série de sempre, atribuído apenas naquele ano. O universo de Foundation acabou por englobar outras séries, como a Robot Series e a Gallactic Empire Series. Na sua obra destacam-se ainda The End of Eternity e The Gods Themselves, entre outros.

Para além da sua vastíssima obra, Asimov deixa para a posteridade as "Três Leis da Robótica" e uma enorme influência na literatura de ficção científica. 

Isaac Asimov nasceu em 1920 na União Soviética. Faleceu há duas décadas, a 6 de Abril de 1992. Tinha 72 anos de idade.

4 de março de 2012

Citação fantástica (4)

"If you were in Darkness, what would you want more than anything else - what would it be that every instinct would call for?"
"Why, light, I suppose."
"And how would you get light?"
Theremon pointed to the switch on the wall. "I'd turn it on."
Sheerin said, "Where will light come from, when the generators stop? You'd be out on the street in the Darkness. And you want light. So you burn something. Ever see a forest fire? Ever go camping and cook a stew over a wood fire? Heat isn't the only thing burning wood gives off, you know. It gives off light, and people are very aware of that. And when it's dark they want light, and they're going to get it."
"So they'll burn logs", Theremon said without much conviction.
"They'll burn everything they can get. They've got to have light. They've got to burn something, and wood won't be very handy, not on city streets. So they'll burn whatever is nearest. A pile of newspapers? Why not? What about the newsstands that the papers on sale are stacked up in? Burn them too! Burn clothing. Burn books. Burn roof-shingles. Burn anything. The people will have their light - and every center of habitation goes up in flames! There is the end of the world you used to live in."

Isaac Asimov e Robert Silverberg, Nightfall (1990)
 

16 de fevereiro de 2012

Foundation



Consta que quando em 1966 foi criado o prémio Hugo para "All-Time Best Series" (o único atribuído até à data), toda a gente pensou ser este um galardão feito à medida para J.R.R. Tolkien e a extraordinária obra The Lord of the Rings. O prémio, no entanto, acabou por calhar a outra trilogia: Foundation.
Isaac Asimov foi - é - considerado um dos "três grandes" da ficção científica, a par de Arthur C. Clarke e de Robert A. Heinlein. Com toda a justiça, diga-se de passagem: as super-citadas "Três Leis da Robótica" são da sua autoria, assim como a série Robot (parte integrante do universo de Foundation), um dos mais famosos contos de ficção científica de todos os tempos (Nightfall) e, claro, Foundation - uma obra que é sem dúvida um dos textos essenciais do género.

A história de Foundation tem início num futuro distante, no qual a raça humana colonizou a espiral da Via Láctea de uma ponta à outra, na forma de um Império Galáctico que se estende por milhões de planetas e governa triliões de pessoas. A capital do Império, perto do centro da Galáxia, é a cidade-planeta de Trantor – e nela vive Hari Seldon, o eterno (e ausente) protagonista da série, o matemático prodigioso que estabeleceu o princípio de que o futuro da raça humana, enquanto observação das massas, pode ser previsto e determinado com precisão através de equações matemáticas. Nasce assim a “Psicohistória”, ramo científico que deu a Seldon e aos seus seguidores a capacidade de ver o declínio do Império, já em curso, e a sua inevitável queda, à qual se seguiriam trinta milénios de barbárie em redor de estilhaços da civilização espalhados entre as estrelas.

Pretendendo alterar o curso da História e reduzir o período de ocaso da humanidade para apenas um milénio, Seldom embarca numa viagem, com todos os seus cientistas, para o distante planeta de Terminus, na orla da Galáxia. E em Terminus nasce a Fundação, uma cidade dedicada ao projecto de elaborar uma “enciclopédia galáctica”, um repositório de conhecimento científico que permitisse à raça humana renascer após as trevas da queda do Império.

Seldon prevê, através da Psicohistória, que a Fundação teria de atravessar várias “crises” ao longo dos tempos. E são essas crises que, em termos de estrutura narrativa, marcam as cinco partes de Foundation: a primeira, em jeito de prólogo, narra a história da partida de Seldon de Trantor e o estabelecimento da Fundação; a segunda parte, intitulada “os Psicohistoriadores”, conta a história da Fundação após a morte de Seldon e a nascente sociedade de Terminus governada pelos seus sucessores; a terceira parte tem o título “The Mayors”, e mostra uma Fundação já governada pelo poder político, e envolvida em tensões político-económicas com os mundos que lhe estão mais próximos à medida que o declínio do Império se acentua e este perde o controlo da periferia galáctica; na quarta parte, intitulada “The Traders”, narra a ascensão do poder económico tanto no interior da Fundação, em Terminus, como na sua expansão para os mundos próximos; e, por fim, a quinta parte da história revela uma Fundação dominada pelo poder económico, que leva a sua influência a vários mundos da orla da galáxia – muito adequadamente, esta parte tem o título de “The Merchant Princes”. Todas estas etapas, que abrangem um período de sensivelmente 150 anos, foram matematicamente previstas por Hari Seldon, que determinou com exactidão a natureza de cada crise.

A história de Foundation não acaba aqui: a série tem um total de sete livros, com quatro sequelas e duas prequelas ao livro original. A Foundation segue-se Foundation and Empire, Second Foundation, Foundation’s Edge e Foundation and Earth; Prelude to Foundation e Forward the Foundation narram os eventos que antecederam a partida de Seldon e o estabelecimento da Fundação. Para além disso, Asimov integrou no universo de Foundation as séries Robot e Galactic Empire, assim como vários contos dispersos - até mesmo o romance Eternity's End acaba por estar, de certa forma, ligado a Foundation. Essas histórias, que eu mesmo ainda estou a descobrir (apenas li os sete livros da série principal), deixo-as à curiosidade do leitor.

(adaptado deste artigo publicado originalmente no Delito de Opinião)