É interessante notar como, na fantasia literária moderna, o nome de Terry Pratchett (nascido Terrence David John Pratchett) se destaca como um dos seus mais talentosos e originais prosadores. Longe de se intrometer com seriedade nos territórios dos vários subgéneros da fantasia que marcaram as tendências desde os anos 70, Pratchett optou pegar nos vários elementos que o tempo lhe foi oferecendo para cunhar um nicho praticamente só para si, com as suas histórias humorísticas e as suas sátiras aguçadas, bem construídas e muito inteligentes nas suas desconstruções. E fê-lo num dos mais memoráveis mundos secundários da literatura contemporânea, Discworld: o mundo plano e circular, assente sobre quatro elefantes de proporções titânicas que, por sua vez, repousam sobre a carapaça da Grande A'Tuin, a tartaruga cósmica que vagueia pelo universo. The Colour of Magic, o primeiro livro de Discworld, foi publicado em 1983 e consistiu numa desconstrução humorística das convenções da fantasia de sword & sorcery; nos livros que se seguiriam - e seguiram-se 39, com o mais recente, Raising Steam, a ser publicado no ano passado -, Pratchett pegou noutros motivos e noutros elementos da fantasia literária, como as histórias de dragões, os épicos ou os contos de fadas para dar forma a algumas das mais bem conseguidas (e bem humoradas) sátiras que o género conheceu. E não se ficou por aí; Discworld explorou também em tom satírico temas tão diversos como a obra de Shakespeare, a natureza do fenómeno religioso, a indústria cinematográfica norte-americana, e até o heavy metal. Sempre com a mesma graça, a mesma prosa elegante, ritmada e repleta de jogos de palavras,
Ainda que o grosso da carreira literária de Pratchett seja Discworld - afinal, falamos de 30 romances, uma mão-cheia de contos e noveletas, vários companion books -, ela não se resume àquele universo ficcional, que legou à fantasia moderna personagens tão inesquecíveis como Granny Weatherwax, Nanny Ogg, Sam Vimes, a Morte, Rincewind, Mustrum Ridcully, o Bibliotecário, C.M.O.T Dibbler, Havelock Vetinari, Susan Sto Helit e outros. The Dark Side of the Sun (1976) e Strata (1981) marcaram a sua entrada na ficção científica adulta, género muito importante nos seus anos formativos e ao qual regressou recentemente na companhia de Stephen Baxter com The Long Earth (2012), The Long War (2013) e The Long Mars, que será publicado este ano. Em 1990, colaborou com Neil Gaiman em Good Omens. E a sua bibliografia inclui ainda vários romances de carácter mais juvenil, como The Carpet People (1971), o seu primeiro romance, a trilogia The Nome (Truckers, 1988, Diggers e Wings, 1990), a trilogia Johnny Maxwell (Only You Can Save Mankind, 1992, Johnny and the Dead, 1993 e Johnny and the Bomb, 1996), Nation (2008) e Dodger (2012).
Após o diagnóstico de uma forma rara de Alzheimer precoce em 2007, Pratchett tem participado em várias iniciativas relacionadas com o esclarecimento, o estudo e o combate à doença, assim como ao tema sempre polémico da eutanásia.
Terry Pratchett nasceu em Beaconsfield, no Buckinghamshire, no Reino Unido, a 28 de Abril de 1948, e celebra hoje o seu 66º aniversário.
2 comentários:
Pena que os seus livros (com raras excepções) não estejam traduzidos em português de modo a alcançar mais público. Por outro lado, grande parte das piadas, expressões e jogos de palavras tão tipicamente britânicos perdem-se na tradução. Mas esta é a opinião de uma anglófila.
Julgo que os primeiros de Discworld - até pelo menos ao décimo, talvez ainda mais alguns - foram traduzidos há uns anos. E tenho ouvido dizer que a tradução até é boa; são é difíceis de encontrar. Mas sim - quem puder ler Pratchett no original, deverá fazê-lo. Pelo humor, pelos jogos de palavras e pela prosa em si, que é do melhor que se encontra no fantástico contemporâneo.
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