Agora que 2012 está a chegar ao fim e que as minhas idas ao cinema estão para todos os efeitos concluídas, aqui fica o meu balanço cinematográfico do ano. Este balanço é relativo apenas aos filmes de fantasia e ficção científica que vi em sala de cinema; para falar em termos mais gerais dos filmes destes géneros que vi em 2012 precisaria de vários artigos, já que foi o ano em que finalmente vi filmes como Metropolis, The Thing, Eternal Sunshine of the Spotless Mind e muitos outros. Nota: algumas classificações que dei nas reviews originais foram revistas entretanto - os valores apresentados neste artigo são os definitivos, e os alterados estão assinalados com*:
The Hunger Games (06/10*)
A distopia young adult de Suzanne Collins centrada na personagem Katniss Everdeen deu origem a um filme que, não sendo extraordinário, conseguiu ser interessante q.b.. Jennifer Lawrence interpretou com brio a protagonista, uma adolescente do paupérrimo Distrito 12 de Panem, que para salvar a sua irmã mais nova decide participar voluntariamente nos Hunger Games - na prática, um misto de Battle Royale (pun intended, mas sem maldade) com Big Brother onde dois adolescentes de cada um dos doze distritos de Panem combatem como podem até apenas um estar vivo, para o entretenimento da população rica e o controlo da população pobre. Apesar de ninguém da equipa de produção fazer a mais pequena ideia do que é um tripé de uma câmara, o filme tem um ritmo elevado, com uma segunda parte repleta de acção (ainda que a lógica seja muito discutível de vez em quando).
The Avengers (08/10)
Julgo ser seguro afirmar que mesmo muitos dos mais fervorosos fãs da Marvel esperavam um pequeno desastre deste filme. Eu, que não sou de todo fã de qualquer daqueles super-heróis, esperava um descarrilamento de proporções épicas. A verdade é que, curioso pela aclamação crítica generalizada, acabei por vê-lo no cinema, e durante duas horas e meia diverti-me imenso com aquela improvável equipa de super-heróis. Uma grande surpresa, mesmo sabendo que o projecto estava entregue a Joss Whedon, que até ao momento ainda não desiludiu. Para além do argumento inteligente e com muito humor, em The Avengers merece aplauso o novo Hulk (Mark Ruffalo), renascido depois de um filme miserável e outro medíocre, Loki (Tom Hiddleston), um excelente vilão, e, claro, Tony Stark (Robert Downey Jr.), cujo carisma já assegurou que nenhum actor com juízo vai querer interpretar o papel de Iron Man.
Prometheus (5.5/10)*
Ridley Scott de regresso à ficção científica? Uma ambiciosa prequela ao seminal Alien? Em inícios de Junho era impossível não estar entusiasmado com Prometheus, que prometia ser "o" filme de ficção científica desta geração. Se de um ponto de vista visual é de facto impressionante, já do ponto de vista do enredo parece querer competir com os vinte minutos finais de Mass Effect 3 para a maior imbecilidade narrativa de 2012. Personagens que não fazem o que quer que seja com nexo, os cientistas mais estúpidos do Grupo Local, twists desnecessários a forçar a lógica interna do filme, disparates científicos embaraçosos para o género e diálogos terríveis. A eventual carga simbólica não salva a péssima narrativa. Aspectos redentores? O andróide David, o design da Prometheus e a componente visual do filme. Não fosse por isso, e mais valia sermos amarrados ao proverbial rochedo e esperar pela águia que nos comeria o fígado.
The Dark Knight Rises (5.5/10)*
Outro filme cujo hype estratosférico só pode ser comparado ao estrondo da sua queda. Christopher Nolan decidiu tornar o extraordinário The Dark Knight irrelevante com o terceiro filme da sua trilogia, The Dark Knight Rises, ao retomar a League of Shadows com um vilão excepcional... até ao momento em que a verdadeira vilã se revela. Já Bruce Wayne aproveitou as mais de duas horas e meia do filme para reproduzir aqueles filmes antigos do Jean Claude Van Damme: leva uma carga de porrada, vai treinar, come as passas do Algarve e dá cabo do vilão. E a polícia, certa de que estava na Nova Zelândia a rodar An Unexpected Journey, decide fazer uma carga policial de estilo medieval contra tipos armados e com tanques. Pelo meio, há um piscar de olhos ao Occupy Wall Street, há uma Anne Hathaway a tentar - sem sucesso - salvar o filme e há coincidências suficientes para quebrar a suspensão na descrença na primeira meia hora.
Looper (8.7/10)
Uma produção independente realizada por Rian Johnson que terá porventura sido um dos mais surpreendentes filmes de 2012. No futuro, as viagens no tempo não são utilizadas para ver como os pais se conheceram ou para descobrir quando são inventados skates anti-gravidade, mas sim para os mafiosos enviarem as suas vítimas para o passado, onde são despachadas sem deixar rasto. Joe é um looper, um criminoso que recebe as vítimas do futuro e trata de as fazer desaparecer - algo que desempenha com competência até ao dia em que o seu eu do futuro é enviado para ser eliminado. Conceptualmente muito bom, Looper tem uma narrativa excelente, óptimos desempenhos, efeitos especiais cirúrgicos e formidáveis, e um sentido de humor com um timing perfeito. E tem ainda o Bruce Willis a fazer de Joseph Gordon-Levitt - ou vice-versa -, e uma utilização fabulosa de telecinésia.
Cloud Atlas (09/10)
Cloud Atlas foi, para mim, o grande filme de 2012*. Baseado no romance homónimo de David Mitchell e realizado por Lana e Andy Wachowsky e Tom Twyker, Cloud Atlas propôs-se contar não uma mas seis histórias completamente diferentes no tom, no tema, no tempo e no espaço, e interligá-las para formar uma história mais vasta e mostrar como todos os nossos gestos, mesmo os mais pequenos, ecoam pelos tempos e têm consequências inesperadas. E, pasme-se, contou-as todas muito bem. Dos tempos do colonialismo no Oceano Pacífico ao presente, dos anos 30 à extraordinária Seoul futurista (num misto de Tron com Blade Runner), dos anos 70 a um distante futuro pós-apocalíptico, é difícil apontar uma fraqueza a Cloud Atlas, e é uma maravilha ver as peças do puzzle a encaixar. Mais: é também um excelente regresso dos Wachowsky.
The Hobbit: An Unexpected Journey (8.2/10)
O hype em redor do primeiro filme desta nova trilogia passada na Terra Média de Tolkien foi, no mínimo, invulgar: ao entusiasmo pelo regresso de Peter Jackson ao universo que tão bem recriou há uma década juntou-se a apreensão pela adaptação de um livro pequeno - The Hobbit - em três longos filmes. Peter Jackson foi esgaravatar nos anexos de The Return of the King, nos Unfinished Tales e em algumas referências de The Silmarillion para compor a coisa. É certo que o filme estará confortavelmente instalado no legado da trilogia original, e tem vários problemas na narrativa e na adaptação em si (Radagast, o Istari Pedrado?); nem por isso, porém, deixa de ser um óptimo regresso à Terra Média, com Martin Freeman a desempenhar um extraordinário Bilbo Baggins, um grupo de anões muito interessante e Andy Serkis a quase roubar o protagonismo ao filme nos breves minutos em que reencarna Gollum.
*Na prática, o melhor filme que vi numa sala de cinema este ano foi La Jetée, de Chris Marker; não entra aqui por ser um filme já bem antigo, e não uma estreia.
O hype em redor do primeiro filme desta nova trilogia passada na Terra Média de Tolkien foi, no mínimo, invulgar: ao entusiasmo pelo regresso de Peter Jackson ao universo que tão bem recriou há uma década juntou-se a apreensão pela adaptação de um livro pequeno - The Hobbit - em três longos filmes. Peter Jackson foi esgaravatar nos anexos de The Return of the King, nos Unfinished Tales e em algumas referências de The Silmarillion para compor a coisa. É certo que o filme estará confortavelmente instalado no legado da trilogia original, e tem vários problemas na narrativa e na adaptação em si (Radagast, o Istari Pedrado?); nem por isso, porém, deixa de ser um óptimo regresso à Terra Média, com Martin Freeman a desempenhar um extraordinário Bilbo Baggins, um grupo de anões muito interessante e Andy Serkis a quase roubar o protagonismo ao filme nos breves minutos em que reencarna Gollum.
*Na prática, o melhor filme que vi numa sala de cinema este ano foi La Jetée, de Chris Marker; não entra aqui por ser um filme já bem antigo, e não uma estreia.
10 comentários:
Quando os fãs descobrirem este post vais ser apedrejado virtualmente.
Quais fãs? :)
Deve ser do batman, mas parece-me justoa a nota. Mesmo eu dando um pouco mais reconheço que o Nolan falhou demais neste, o que é uma pena.
Do que vi concordo. O avengers leva o troféu de melhor filme de super-heróis. tb tem os seus defeitos, mas não é um filme que se leva tão a sério como o batman, é suposto ser uma diversão e foi.
O prometheus não foi mau, mas esperava-se bem mais.
O cloud atlas foi tlvz o melhor (a par com o avengers).
Looper não dava nota tão alta, mas um belo filme.
Abraço e boas entradas.
Em geral, posso dizer que concordo contigo fora alguns pormenores e que gostei bastante de ler este teu balanço. Temos no entanto duas grandes diferenças nas avaliações gerais de dois destes filmes. A primeira é o The Hunger Games, que dentro do seu género me pareceu ser muito bom, tanto na adaptação do livro como na performance de alguns actores. A segunda é o Looper que embora prime pela originalidade, me surpreendeu pela negativa, e não falo só da cara deformada do Gordon-Levitt, mas da contradição em que as regras da ficção científica entraram. Não é um filme mau, claro, e os actores estiveram bem, mas a meu ver este tipo de filmes tem que estar seguro, se não incólume (que no caso seria difícil), no contexto que criam e assumem.
Loot, o que mais custou no Prometheus e no TDKR foi o facto de serem filmes dos quais eu queria mesmo gostar.. :)
Obrigado, e boas saídas e entradas!
André, eu gostei de The Hunger Games (apesar da câmara horrível) - o filme, pois o livro não li. Há ali boas ideias, e a Jennifer Lawrence leva (muito bem) o filme às costas. Não questiono que seja uma boa adaptação, mas achei a narrativa demasiado previsível e simplista. Provavelmente iria achar o mesmo do livro.
Quanto ao Looper, não me fez confusão a caracterização (tal como não fez em Cloud Atlas). Já as regras têm muito que se lhe diga. O problema do tema das viagens no tempo é que tens vários conjuntos de regras - basta veres a diferença entre a abordagem de "Twelve Monkeys" ou "Terminator". Looper, a meu ver, jogou com ambas, e conseguiu fazê-lo muito bem.
Claro que se olharmos *mesmo* com muita atenção a coisa não se sustenta, mas isso é invariável neste tema.
Bom ano novo!
Compreendo a tua opinião, ainda que não concorde.
Continuação de um bom trabalho aqui no blog e desejos de um óptimo 2013!
Obrigado, caro André. Votos de um grande 2013!
Classificações interessantes, apesar de não concordar com parte delas. Aproximamo-nos no que respeita a The Hunger Games, Looper e The Hobbit.
Cumprimentos cinéfilos.
Inês, atrevo-me a dizer que o cinema perderia metade da piada se todos concordássemos quanto aos filmes. Mesmo algumas destas classificações já foram revistas, e poderão voltar a sê-lo.
Cumprimentos e votos de bom ano novo.
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